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Dezenas de lâmpadas amontoadas. | Medhat Ayad/Pexels
Dezenas de lâmpadas amontoadas.| Foto: Medhat Ayad/Pexels

Há anos que a produtividade nos Estados Unidos e na Europa não melhora muito. A americana cresceu a uma taxa de pouco acima de um por cento na última década, enquanto o crescimento na zona do Euro foi em geral ainda pior no mesmo período — em 2016, estava em 0,5%. Isso após décadas de sólido crescimento na segunda metade do século XX.

Vale dizer que a produtividade é um grande negócio. Primeiro, melhora o padrão de vida. Depois, é incorporada em muitos de nossos modelos econômicos, como os que dizem aos governos quanto dinheiro separar para pensões e custos com assistência médica. Se o crescimento fica abaixo das expectativas, pode acontecer de esses compromissos não serem cumpridos.

Economistas quebram a cabeça tentando entender porque o crescimento tem sido tão miserável. E quatro deles — Nicholas Bloom, Charles Jones, John Van Reenen e Michael Webb — recentemente surgiram com uma resposta surpreendentemente simples: estamos quase sem boas ideias. Ou melhor, boas ideias (ou seja, novas tecnologias transformadoras) têm sua produção encarecida, o que está afundando a produtividade.

O artigo "As ideias estão mais difíceis de encontrar?" (link para PDF, em inglês), de autoria dos quatro, rejeita, ou pelo menos complica, uma suposição econômica padrão: que uma quantidade fixa de pesquisa, mantida constantemente, irá produzir consistentemente novas invenções, que por sua vez irão guiar a produtividade. O estudo de Bloom et al. sugere que, mesmo gastando mais e mais em pesquisa ou desenvolvimento, ideias transformadoras não estão surgindo com maior rapidez e o crescimento econômico está patinando.

Observações

Os quatro economistas observaram três indústrias específicas para chegar às suas conclusões: computação, agricultura e saúde. No primeiro caso, descobriram que, mesmo gastando muito mais recursos no aperfeiçoamento dos chips de silício do que há 50 anos (Bloom estima um aumento de 25 vezes), a taxa de progresso não aumentou significativamente com a pesquisa adicional. Na agricultura, isso também está ocorrendo: após muitos anos de forte crescimento desde a Segunda Guerra Mundial, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento aumentaram dramaticamente, sem uma correspondência no rendimento das plantações.

Para a indústria da saúde, os economistas observaram como a pesquisa médica tem levado a vários novos tratamentos, e o impacto que estes têm na expectativa de vida. Embora tenha havido avanços no aumento — as enormes melhorias nas taxas de sobrevivência para pacientes com câncer, por exemplo — de acordo com Van Reenen, esses avanços atingiram um custo muito maior em termos de pesquisa e desenvolvimento do que era esperado.

Os pesquisadores também examinaram os dados da Compustat em empresas dos Estados Unidos para ver como as despesas de pesquisa afetaram a receita de vendas, ganhos de emprego e capitalização de mercado. Embora exista uma relação positiva entre a pesquisa e essas áreas — quanto mais você gasta, geralmente mais você vende e mais valor você tem, diz Bloom — essa relação se enfraqueceu ao longo do tempo. Bloom, professor de Economia em Stanford, estima que US$ 1 milhão em gastos com pesquisa e desenvolvimento nos anos 1960 se traduziram em três vezes mais impacto nas vendas do que em comparação com os anos 1980.

"O crescimento está diminuindo ao mesmo tempo em que estamos gastando cada vez mais dinheiro em pesquisa e desenvolvimento. Então, isso nos mostra que estamos apenas injetando mais e mais dólares em pesquisa e desenvolvimento para aumentar o crescimento, ou para aumentar a produção, para manter o crescimento a uma taxa razoável. E a única maneira de compreender a ligação disso tudo é que está cada vez mais difícil encontrar novas ideias", disse Bloom.

Tecnologias (novas boas ideias) promissoras

O que não quer dizer que elas não existam. Os tecno-otimistas apontam para o potencial transformador da inteligência artificial e da realidade aumentada. Outros estão entusiasmados com as tecnologias emergentes, como o bioprinting (em que órgãos a serem substituídos podem ser criados usando impressoras 3D) e a construção automatizada (em que drones, impressoras 3D e outros robôs poderiam ser usados para construir casas de modo muito mais rápido e barato do que o que temos hoje).

Mas, indiscutivelmente, esses avanços ainda precisam provar seu valor, e certamente não tiveram um impacto significativo na produtividade. De qualquer maneira, de acordo com Bloom, quando se trata de tecnologias verdadeiramente inovadoras, "as ideias fáceis desapareceram". Você só pode inventar a penicilina, o avião e a lâmpada uma vez. Com as economias de hoje dominadas por indústrias (saúde, viagens aéreas, energia) que foram muito além de seu auge inovador, é muito mais difícil desenvolver grandes tecnologias para mudar o mundo.

E isso significa, pelo menos de acordo com Bloom, que as economias avançadas devem se preparar para mais do mesmo: um crescimento cada vez mais morno e cada vez mais caro.

* Stephen J. Dubner e Steven D. Levitt são os autores de FreakonomicsSuperFreakonomics. Seu livro mais recente é When to Rob a Bank ... and 131 More Warped Suggestions and Well-Intended Rants (ainda sem tradução no Brasil). Para obter mais informações, visite Freakonomics.com.

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