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Depois de ter causado gentrificação em Seattle, cidade da sua atual sede, a Amazon doou US$ 40 milhões para projetos de habitação com preço acessível. Na foto, um acampamento de sem-teto na Seattle Pacific University se prepara para mudar para um novo local em Seattle | Ruth Fremson/NYT
Depois de ter causado gentrificação em Seattle, cidade da sua atual sede, a Amazon doou US$ 40 milhões para projetos de habitação com preço acessível. Na foto, um acampamento de sem-teto na Seattle Pacific University se prepara para mudar para um novo local em Seattle| Foto: Ruth Fremson/NYT

Quando dez representantes da Amazon visitaram a cidade americana de Denver, no final de janeiro, fizeram o que se esperaria de uma empresa à procura de um lugar para instalar sua segunda sede: visitaram mais de uma dúzia de possíveis locais e discutiram o talento técnico disponível na área. Mas também fizeram algo que surpreendeu as autoridades locais: quiseram saber como a empresa, caso decida se estabelecer por lá, poderia evitar os problemas que enfrenta em Seattle, sua cidade natal.

Se a Amazon escolhesse Denver ou qualquer outro município para abrigar a sua nova sede, levando até 50 mil empregos bem remunerados para a cidade ao longo do tempo, como as autoridades lidariam com o tráfego das ruas? E como o dinheiro dos impostos pagos pela empresa contribuiria para a criação de moradia a preços acessíveis na região?

“Acho que, em Seattle, eles se sentem como o bode expiatório toda vez que há um problema na comunidade ou no trânsito”, disse Sam Bailey, vice-presidente de desenvolvimento econômico da Metro Denver Economic Development Corp., responsável pelas negociações com a Amazon.

Concurso para ser a segunda sede da Amazon

A busca da Amazon pelo local para ser a sua segunda sede é um concurso no qual as cidades finalistas fazem de tudo para atraí-la, juntamente com seus empregos e os enormes projetos de construção. A parte mais controversa do processo é o grande incentivo fiscal que alguns governos estaduais e locais estão oferecendo, algo que os críticos veem como uma benesse corporativa ineficaz.

A Amazon encerrou seu período de visitas em meados de abril, tendo passado por todas as 20 finalistas para seu HQ2, nome dado à sua segunda sede, e faz um acompanhamento de todas as cidades, de Los Angeles a Indianápolis e Toronto, buscando mais informações para sua pesquisa.

A empresa tem uma longa lista de desejos, incluindo o número de voos dos aeroportos locais, um governo estável e aberto aos negócios e oportunidades de lazer para os funcionários nas proximidades.

Além dos empregos, Amazon pode trazer problemas para a cidade vencedora

Um complexo de condomínios perto da sede da Amazon em Seattle. Empresa tenta, na nova sede, evitar os problemas que enfrenta em Seattle,como o tráfego intenso e habitação a preços exorbitantesKyle Johnson/NYT

Porém, as autoridades locais não anteciparam o interesse da Amazon em lidar com alguns dos problemas que a transformaram em um símbolo polarizador da próspera economia de Seattle. A gigante do comércio eletrônico é o xodó de muitos na cidade por ser seu maior empregador e por gerar uma riqueza enorme para a área, mas também é vista como vilã por outros, pois ocasiona muitas mudanças, muito rapidamente.

Em Denver, a Amazon e as autoridades locais conversaram longamente sobre as opções de transporte público e a criação de ciclovias, contou Bailey. Chegaram até a discutir a possibilidade de a empresa financiar uma nova estação de trens rápidos para seu sistema, embora nenhum compromisso tenha sido firmado.

Em Atlanta, a conversa foi com um representante do Westside Future Fund, uma organização sem fins lucrativos que trabalha para impedir o deslocamento de moradores de uma área que está sendo remodelada. O fundo vai pagar os aumentos de impostos das propriedades para os que vivem na região desde, pelo menos, 2016 para que não vendam sua propriedade por um valor inferior.

Na visita da Amazon a Toronto, a empresa discutiu seu efeito potencial sobre o mercado de trabalho e a acessibilidade habitacional, de acordo com Ed Clark, consultor de negócios de Kathleen Wynne, a administradora da província de Ontário. “Estamos todos preocupados com uma possível gentrificação ou um deslocamento, e como poderíamos lidar com isso”, disse Aisha Glover, presidente e executiva-chefe da Newark Community Economic Development Corp., que está envolvida na negociação de Nova Jersey.

Amazon tenta diminuir o impacto negativo da sua presença

Estacionamento e prédios habitacionais perto da sede da Amazon em Seattle. Instalação da empresa na cidade aumentou os problemas de habitação e trânsito Kyle Johnson/NYT

Adam Sedo, porta-voz da Amazon, confirmou que o transporte público e disponibilidade de habitação foram temas importantes nas conversas com as cidades finalistas, mas preferiu não se aprofundar no tema.

A empresa emprega cerca de 45 mil pessoas em Seattle, espalhadas entre os mais de 30 edifícios perto do centro da cidade. Apesar de um frenesi de construção, as novas casas não acompanharam a demanda, levando a custos habitacionais em Seattle, onde os aluguéis agora se aproximaram dos de Boston e Nova York, e o preço dos imóveis cresce mais rápido do que em qualquer outra cidade grande.

A Amazon não é a única razão para todas as mudanças, mas se tornou o alvo mais conveniente para grupos preocupados com os preços internos e o tráfego paralisante. “Há claramente uma preocupação tanto pelo impacto real quanto o imaginado da instalação deles em um determinado lugar”, disse Clark, referindo-se às conversas da Amazon em Toronto.

A empresa conta que deu US$ 40 milhões para projetos de habitação com preço acessível em Seattle. Em um novo prédio de escritório que está construindo, a Amazon concordou em dar um espaço gratuito para abrigar famílias sem-teto. Além disso, diz que seus funcionários são grandes usuários de transporte público, com 17 por cento deles vivendo na mesma área em que trabalham.

“O ritmo da mudança é muito rápido e o número de imóveis e o sistema de trânsito não consegue acompanhar. Há uma reação pública visceral a esse ritmo veloz de transformação da cidade simbolizado, ou talvez até mesmo causado, pela Amazon”, disse Alan Durning, diretor executivo do Instituto Sightline, grupo de pesquisa sem fins lucrativos em Seattle com foco na sustentabilidade.

Cidades em crescimento com cenas de tecnologia próspera já estão enfrentando desafios em relação ao valor dos imóveis, mesmo sem a Amazon. Clark, o consultor envolvido na oferta de Toronto, diz que ajuda o fato de a empresa não estar evitando o problema. “Se quem está chegando se preocupa com essa questão e quer trabalhar com você para resolvê-la, já é uma grande vantagem”, disse ele.


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