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| Foto: Antônio Milena/ABr

Para enfrentar a francesa Airbus na área de aeronaves comerciais regionais, na faixa de 70 a 130 passageiros, a americana Boeing está em negociação para comprar a fabricante brasileira Embraer. A aquisição, se concretizada, formaria uma gigante avialiada em mais de US$ 180 bilhões e fortaleceria a presença da Boeing no segmento aviação comercial de médio porte, seu ponto fraco. A americana já é a maior fabricante de aeronaves do mundo e a brasileira a 3ª maior de aviões comerciais. O governo brasileiro, no entanto, sinaliza que pode vetar a venda do controle acionário, por considerar a Embraer uma “joia da indústria brasileira”.

Aquisição geraria gigante da aviação comercial

Estratégia é uma ofensiva da Boeing contra a Airbus

A notícia que a Boeing está interessada em comprar a Embraer foi noticiada nesta quinta-feira (21) pelo jornal americano "The Wall Street Journal". Horas depois, a empresa brasileira confirmou as negociações através de fato relevante emitido ao mercado. O governo brasileiro, porém, que tem poder de veto, afirmou que foi pego de surpresa e o presidente Michel Temer disse ser contra negociação que envolva o controle acionário da empresa

O jornal "The Wall Street Journal" noticiou que os americanos têm interesse em adquirir o controle da empresa brasileira, mas a reportagem da Folha apurou que isso não foi cogitado nas poucas reuniões que já ocorreram sobre o assunto, porque todos sabem que o governo é contra.

O que pode acontecer é uma associação das duas fabricantes na área de aviação comercial, mantendo as áreas de aviação executiva e de defesa nacionais. Essa seria uma estratégia utilizada pela Boeing para convencer o governo brasileiro a vender parte da Embraer. Outra medida seria proteger a marca, a administração e os empregos da Embraer. Ainda não está claro como seria a participação societária da Boeing na Embraer, se por meio de injeção de capital ou de criação de uma joint-venture.

Apesar de ter sido privatizada em 1994, a União detém uma "golden share" (ação preferencial) sobre a Embraer, o que lhe dá voz ativa em qualquer decisão estratégica.  Isso quer dizer que qualquer transferência de controle acionário precisa ser aprovada pelo governo. Hoje, os principais acionistas da Embraer são a Brandes Investments Partners (15,03%), BNDESPar (5,37%) e Oppenheimer Funds (4,8%). Outros somam 73,86% e 0,94% é de ação em tesouraria.  

Aquisição geraria gigante da aviação comercial

A aquisição da Embraer pela Boeing, mesmo que só na área de aviação comercial, formaria uma gigante avialiada em mais de US$ 180 bilhões e fortaleceria a presença da Boeing no segmento aviação comercial regional, o seu pricinpal pronto fraco.

A Boeing é a maior fabricante de aeronaves do mundo, com faturamento de US$ 68 bilhões e lucro líquido de US$ 5 bilhões nos primeiros nove meses de 2017. As aeronaves comerciais, em especial de grande porte, representam o maior negócio da companhia, com um faturamento de US$ 41 bilhões no acumulado do ano até setembro.  O restante vem de aeronaves militares, armas, satélites e sistemas de lançamento. 

A empresa tem 140 mil funcionários nos Estados Unidos e em outros 65 países. Do total, 45 mil são engenheiros. A Boeing também tem clientes em 150 países e já tem encomendas agendadas para 5,7 mil aeronaves, com um valor estimado de US$ 412 bilhões. Seu valor de mercado é de cerca de US$ 177 bilhões. Sua principal concorrente é a francesa Airbus.

Já a Embraer é a terceira maior fabricante do mundo de aviões comerciais e destaque no segmento de aeronaves comerciais de 70 a 130 assentos. Esse segmento é utilizado para aviação comercial regional e tanto Airbus quanto Boeing tem presença menos efetiva na área, com total domínio da brasileira. 

A Embraer tem valor de mercado de US$ 3,7 bilhões e também atua no segmento de defesa e jatos executivos. Em 2016, teve receita liquida de R$ 21,436 bilhões. No terceiro trimestre deste ano, registrou lucro líquido de R$ 351 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 111,4 milhões do mesmo período do ano passado. Neste ano, até setembro, entregou 137 aeronaves, sendo 78 comerciais e 59 executivas.

Ofensiva contra Airbus

A aquisição de parte ou da totalidade da Embraer seria uma estratégia da Boeing à associação estabelecida entre a rival francesa Airbus e a fabricante canadense Bombardier.  

Em outubro, a Airbus anunciou que compraria o controle do programa de jatos regionais CSeries, da Bombardier, que custou US$ 6 bilhões para ser desenvolvido. A fabricante canadense é rival da Embraer no segmento, mas ficou para trás em participação de mercado nos últimos anos.  

Com o movimento, os europeus colocaram um pé no nicho de jatos na faixa de 70 a 130 passageiros, segmento dominado pela Embraer. A brasileira colocou todas suas fichas no programa EJets-2, a segunda geração dos seus aviões deste porte. Airbus e Boeing seguem disputando palmo a palmo o mercado de aviões maiores.  

Benefícios para a Embraer

Um eventual acerto pode potencializar a posição da Embraer no mercado americano, e não só civil. A Boeing já é a responsável pelo marketing internacional do novo modelo da brasileira, o avião de transporte tático e reabastecimento aéreo KC-390, o maior já feito no país e que chega ao mercado em 2018.

Além disso, a Embraer está disputando uma pré-concorrência para o fornecimento de até 120 aviões de ataque leve à Força Aérea Americana com o Super Tucano - até aqui, os EUA compraram 26 aeronaves do tipo para uso no Afeganistão por forças locais.

Fusão seria postiva, diz analista

Para analistas, a combinação dos negócios deve tornar as duas companhias mais competitivas perante a joint-venture formada em outubro por suas duas principais rivais, a europeia Airbus e a canadense Bombardier.  

"Eu gosto muito da Embraer, é uma companhia brasileira que tem grandes diferenciais de produto. É referência mundial de tecnologia no que faz", afirma Adeodato Netto, estrategista da Eleven Financial.  “Tem uma janela para transferência de tecnologia e seria positivo para nossa posição global e para a indústria nacional."

A possível aquisição, fusão ou joint-venture, porém, precisa ser aprovada pelo governo brasileiro, conselhos de administração das duas companhias, acionistas da Embraer e órgão reguladores, como a Organização Mundial do Comércio (OMC). 

Mexeu com a bolsa

A notícia caiu como uma bomba no mercado financeiro e fez as ações da Embraer dispararam quase 23% nesta quinta (21) . As ações fecharam com alta de 22,5%, para R$ 20,20, e lideraram as altas do Ibovespa, o índice das ações mais negociadas da Bolsa, que subiu 2,40%, para 75.133 pontos.  

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