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Futurologia

O ano em que a computação vencerá a morte

Será em 2045, segundo previsão do americano Ray Kurzweil, um inventor que trabalha para acabar com as limitações humanas

Kurweil: 230 pílulas por dia para combater o envelhecimento, enquanto espera o desenvolvimento da ciência da imortalidade | Michael Lutch/Kurzweil Technologies
Kurweil: 230 pílulas por dia para combater o envelhecimento, enquanto espera o desenvolvimento da ciência da imortalidade (Foto: Michael Lutch/Kurzweil Technologies)

São Paulo - O inventor norte-americano Ray Kurzweil, de 61 anos, sempre man­teve uma obsessão: acabar com as limitações humanas. Em 1976, mirando os que não podem ver, ele desenvolveu o primeiro computador com a capacidade de ler - o que, diz o Stevie Wonder, mudou radicalmente a vida de quem é cego. Para barrar os efeitos da idade, ele montou, com o médico Terry Gossman, no livro "A Medicina da Imortalidade", uma rígida teoria de "reprogramação da bioquímica dos seres humanos" que permitiria que o corpo rejuvenescesse 20 anos. Kurzweil a segue à risca, engolindo diariamente as 230 pílulas estipuladas no programa. O objetivo? Aguen­tar até o dia em que a tecnologia acabará com a barreira maior do homem, a morte. Segundo ele, faltam apenas 36 anos para que isso aconteça.

"Em 2045, o homem fundido com a máquina irá multiplicar em bilhões de vezes a sua inteligência, comparando com o que somos. Nesse ponto, será tão simples fazer um backup do nosso cérebro quan­­­­to fazemos o do nosso compu­­tador", prevê. De acordo com o cien­­tista, teremos nanochips correndo pela nossa corrente sanguínea e implantados no nosso cérebro físico, transportando tudo o que somos e pensamos para a web. Seremos parte da rede de informações.

Isso não se traduz necessariamente em vida eterna ("nem os softwares duram para sempre"), mas a morte do corpo pouco significaria. Para o inventor, isso é tão certo que ele até já planeja como trará seu pai, Frederic Kurzweil, morto quando Ray tinha 22 anos, de volta à vida. No recém-lançado documentário "Transcendent Man", ele explica que usará o DNA coletado em sua cova e o transportará para um avatar. E, assim, ele poderia reviver em uma realidade virtual fundida com o mundo real.

Não é a toa, portanto, que Kurz­weil acha que os universos paralelos, à moda do Second Life, são uma das inovações mais interessantes dos últimos anos, ao lado de redes sociais como o Twitter e o colaboracionismo wiki. "No passado recente, não víamos as pessoas se ligando em redes sociais. Essa habilidade de criar comunidades globais é excitante, assim como os mundos em realidade virtual. Serão nesses ambientes realísticos de imersão que passaremos grande parte do nosso tempo no futuro", garante Kurzweil.

As fronteiras entre o que é virtual e real, humano e mecânica, ficarão cada vez mais tênues. Até o momento em que não será possível distinguir o que é o quê, e tudo será o mesmo. As máquinas, diz ele na sua obra mais famosa, "A Era das Máquinas Espirituais", terão até alma, já que o que nos faria ter um espírito é a autoconsciência.

E o que o desenvolvimento da inteligência artificial propõe, se não isso? "As máquinas vão superar a as emoções humanas e terão sentimentos. Acreditaremos quando robôs disserem que im­­portam conosco, ou que está bravos", explica.

Pode parecer um livro de ficção científica do Isaac Asimov ou mesmo um delírio do escritor cyberpunk Willian Gibson, mas Kurz­weil garante que esse tipo de robô estará ligado aos homens e não haverá quem não queria se tornar um ‘pós-humano’. "Poucos rejeitarão a tecnologia. Se um sistema desses puder aumentar nossa re­­sistência, nos tornar imunes a qua­­se todo tipo de doença, in­­cluindo o câncer, quem diria não? Mas mesmo superando nossa própria biologia, conservaremos nossa humanidade".

Futurólogo por opção – Lendo as previsões de Kurzweil, você po­­de achar que ele é mais um desses charlatões que se amparam em muita teoria e pouca prática – e você não poderia estar mais errado. Hoje é necessária alguma cautela antes de comprarmos suas te­­ses, mas sua história na ciência pro­­va que devemos ouvi-lo.

Ray conta que decidiu se tornar inventor aos cinco anos, quando desconstruía seus brinquedos para ver como funcionavam. Aos oito, construiu seu primeiro boneco mecânico, com controle remoto. Começou a mexer com computadores aos 12, "quando Nova York tinha só uma dúzia deles". Três anos depois já havia criado o primeiro software para fazer estatísticas, adquirido pela IBM.

Aos 17, apareceu na televisão e alcançou a fama. No programa "I’ve Got a Secret" (Eu tenho um segredo), ele tocou piano em rede nacional. "E o que isso tem de especial?", perguntava o apresentador. "A música executada foi composta por um computador", respondeu o garoto, que anos depois inventaria um sintetizador de piano e orquestra que revolucionaria a vida do Stevie Wonder de novo.

Estudou no Massachusetts Institute of Technology, um dos principais laboratório de novas tecnologias no mundo, e hoje integra a instituição. Foi pioneiro nas áreas de reconhecimento óptico de caracteres, softwares que reconhecem a fala humana e sua empresa, a Kurzweil Tech, foi uma das responsáveis pelo scanner mo­­derno. Ficou milionário. Ainda acha pouco? Em 1999, Kurzweil ganhou das mãos do então presidente Bill Clinton a maior medalha que o governo dos Estados Uni­­dos oferece a cientistas, em uma cerimônia na Casa Branca.

Só após tudo isso, Kurzweil de­­cidiu parar de desenvolver novas tecnologias e apenas falar sobre elas. Sua cabeça corria mais rápido do que o mundo andava. "Eu vi que o tempo não era bom para eu continuar estabelecido como inventor. Prevendo o que será feito, eu posso ‘inventar’ as tecnologias do futuro. Hoje eu ainda não posso inventar esses mecanismos dos quais falo, mas ao menos eu posso escrever sobre eles".

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