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Ferrovias

O Paraná à espera de uma decisão

Construção de novos trilhos até Paranaguá, no lugar do projeto binário do governo federal, depende da conclusão de estudos de viabilidade

Trilhos na Serra do Mar: proposta paranaense quer nova malha passando por túneis na região | Jonathan Campos/ Gazeta do Povo
Trilhos na Serra do Mar: proposta paranaense quer nova malha passando por túneis na região (Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo)

O mês de setembro marcará o início dos estudos de viabilidade da ferrovia que ligará Maracaju (MS) a Paranaguá, prevista pelo Plano de Investimentos em Logística (PIL), do governo federal. O governo estadual reivindica a construção de uma estrada nova que ligue o terminal ferroviário de Engenheiro Bley, na Lapa, até o litoral. O governo federal propõe como alternativa um sistema binário, em que as cargas descem para Santa Catarina, passando por Mafra e São Francisco do Sul, antes de chegar a Paranaguá. Na volta, os trens sobem a serra pela ferrovia imperial que já existe entre o porto e Curitiba.

O resultado dos estudos vai indicar qual trajeto é mais viável tecnicamente, além de mostrar aquele que oferece o melhor custo-benefício e que menos agride o meio ambiente. O documento final está previsto para setembro de 2013.

A proposta de construção de uma nova ferrovia que desce pela Serra do Mar partiu de um anteprojeto elaborado pelo Instituto de Engenharia do Paraná (IEP) e é o preferido pelo setor produtivo paranaense. A rota prevê viadutos e túneis ao longo da descida da serra para que o impacto ambiental seja mínimo. No plano, a ferrovia desemboca ao fundo da baía de Guaratuba, onde seria construído um entroncamento para que os trens partam para o porto.

O traçado binário apresen­tado pelo governo federal é mais barato e aproveita as faixas de domínio das estradas de ferro já existentes entre Mafra e São Francisco do Sul. Para completar o anel ferroviário em duas mãos, haveria uma nova rota entre o porto catarinense e o paranaense, mantendo o trecho entre Curitiba e Paranaguá sem investimentos e reformas.

Divergências

O temor de representantes de entidades locais é de que o binário, ao passar pelo porto de São Francisco, tire cargas do porto paranaense. Outra complicação é o uso da atual estrada de ferro que passa pela serra do mar paranaense. A ferrovia, conhecida como imperial, foi construída em 1885 e sua estrutura não suporta que os trens trafeguem na sua capacidade máxima de carga e velocidade.

"Na atual estrada, a velocidade média é de 13 km/h. Em uma nova rota, direta, o raio das curvas e a inclinação são planejados para o trem trafegar a 100 km/h", compara Mauro Fortes Carneiro, autor do anteprojeto do IEP e atual diretor de produção da Ferroeste.

A malha prevista pelos investimentos federais no restante do país – em bitola mista de até 1,6 metro – também é incompatível com a ferrovia, de bitola métrica. "Neste caso, o projeto pode não funcionar efetivamente como um binário", destaca João Arthur Mohr, do conselho de infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP).

A consultoria Macrolo­­gística, que elaborou o relatório Sul Competitivo, no entanto, considera que o binário é eficiente. Renato Pavan, sócio-proprietário do instituto, explica que nem mesmo o transbordo de carga, que seria necessário para integrar ferrovias de bitolas diferentes, inviabiliza o sistema. "São apenas 5 dólares por tonelada de transbordo, caso seja necessário fazer este procedimento", explica. O instituto defende o binário pelo seu custo. Ele estima que a proposta do IEP custe em torno de R$ 2 bilhões contra R$ 750 milhões do trajeto que passa por Santa Catarina.

Trabalho dobradoValec e pacote contratam mais de um estudo para um mesmo trecho

Cíntia Junges

Em 18 de junho, a estatal Valec lançou o edital de número 003/12 para contratação dos Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (EVTEA) de três trechos de ferrovias no Sul, como parte de um pacote de R$ 13,7 bilhões para ampliação da malha ferroviária da região. Além da expansão da Ferroeste até o Mato Grosso do Sul, o projeto incluía dois trechos da Norte-Sul até o Porto de Rio Grande. Dois meses depois, em 15 de agosto, o governo federal anunciou um pacote de concessões para ferrovias e rodovias. Três dos 12 trechos de ferrovias contemplados por esse pacote são praticamente os mesmos do edital da Valec, salvo algumas diferenças de traçado entre os dois projetos. A estatal das ferrovias manteve o edital e os envelopes com as propostas de licitação foram abertos no último dia 5, indicando que um mesmo trecho poderá ter dois estudos de viabilidade.

O caso mais emblemático é o da Norte-Sul. No edital da Valec, a ferrovia vem de Panorama (SP) passa por Chapecó (SC) e segue para o Porto de Rio Grande (RS). No plano de concessões, o governo optou por um traçado mais a Leste, que vem de São Paulo passa por Ponta Grossa, Lages (SC) e desce até o Rio Grande do Sul. Em um mapa entregue ao governo do Paraná pelo governo federal o trecho inicial da Norte-Sul, de Panorama até Rio Grande, consta na legenda como "suprimido". Mesmo assim, o processo para a contratação da empresa que vai fazer o estudo continua em andamento.

Procurada para comentar o assunto, a Valec apenas confirmou as informações e a contratação das empresas até outubro próximo, com a expectativa de concluir os estudos até setembro de 2013.

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