
Foi de repente. Em algum momento do fim do ano passado, sem aviso prévio. Quando fomos dormir, a nossa vida digital era um mundo conhecido: Orkut, Facebook, MSN, Gmail e Twitter. Quando acordamos, um novo elemento já havia se espalhado e estava presente em todas as partes: o Formspring.me.
A nova febre era um site em que você criava seu perfil e aguardava as pessoas fazerem perguntas. Até aí, tudo igual ao que já existia. O grande diferencial era a opção do anonimato. Então você podia perguntar àquela garota com qual menino da sala ela gostaria de sair ou ao seu chefe quais as características que ele gosta em um funcionário. Sem o risco de levar um fora. Sem o risco de parecer puxa-saco.
Do mesmo jeito que veio, foi. Também de repente todos deixaram as contas abandonadas. Pelo menos essa é a impressão que ficou para muitos usuários. Mas essa impressão está errada.
O Formspring.me é atualmente o 32º site mais acessado do Brasil país onde o Formspring está mais bem colocado no ranking do Alexa. O Brasil representa a segunda fonte de tráfego ao site, atrás apenas dos Estados Unidos. "No fim do ano passado, o Formspring.me gerou uma certa histeria em todos os lugares e também no Brasil. Todos usavam, todos falavam e o serviço cresceu muito. Agora ele se estagnou, por isso essa impressão", explica John Wechsler, que criou o site com o sócio Ado Olonoh.
Diferente de Biz Stone, Evan Williams e Jack Dorsey (Twitter) e de Mark Zuckerberg (Facebook), Wechsler e Olonoh não tinham nenhuma intenção de criar um ambiente social dentro da internet.
Até julho do ano passado, eles eram apenas donos do Formspring.com, um site que facilitava a criação dos chatos formulários usados por empresas. Mas naquele mês eles repararam que as pessoas estavam criando formulários para elas mesmas e postando em seus blogs, com o título de "Formspring Me" (algo como "Pergunte para mim").
"Vimos que cerca de 30 mil pessoas estavam fazendo isso e pensamos: temos que dar um jeito de as pessoas fazerem isso de forma muito mais fácil", contou Wechsler em entrevista à reportagem. "Assim nasceu o Formspring.me, que na verdade não era nada mais do que as pessoas já estavam fazendo, incluindo o nome." Ele e o sócio lançaram o serviço como o conhecemos no dia 25 de novembro do ano passado.
A seu favor, o site conta com o elemento do anonimato, que estimula conversas que não são comuns quando os interlocutores são identificados. Confrontado com esse argumento, no primeiro momento Wechsler discorda: "Formspring.me é um microcosmo do mundo que vivemos. As pessoas falam dos mesmos temas de que falam na vida real, não acho que no site fale-se mais ou menos sobre qualquer assunto". Jura? "Tudo bem, o anonimato realmente encoraja as pessoas e facilita conversas sobre tópicos de que elas não falariam de outra forma".
A relutância de Wechsler em constatar o óbvio é reflexo de uma campanha forte que vem sendo feita contra o Formspring.me. Com a mesma velocidade que o site se alastrou, também gerou rejeição de pais e mães. O site é o ambiente perfeito para ataques covardes: sem sair de casa e de forma anônima, é possível fazer qualquer pergunta ou brincadeira maldosa. O receio com o potencial negativo cresceu em março, quando a garota Alexis Pilkington, de 17 anos, suicidou-se, ao que tudo indica, após ler mensagens ofensivas em seu perfil no Formspring.me. Uma reportagem do "New York Times" de 5 de maio define o site como "a nova porta de banheiro das escolas", onde os jovens insultam uns aos outros.
Wechsler se defende: "No mundo online e offline, temos que viver sob regras. Se você for um bom cidadão, nada lhe acontecerá. Mas se você cometer um crime ou algo ilegal, terá de ser punido. Nós temos uma política muito clara de contribuir com as autoridades de todas as formas possíveis quando um crime é feito usando o Forsmpring.me, passando todos os dados e informações de forma rápida".
A ferramenta nasce das mãos e da mente de um criador, mas quem direciona o seu uso é o público. O Google passou por isso na Itália: executivos da empresa foram condenados à prisão porque usuários postaram vídeos em que adolescentes insultavam um colega num site da empresa. No Brasil, a empresa dona do maior site de buscas da web foi condenada a pagar R$ 15 mil a um padre que foi difamado por anônimos no Orkut.
O Formspring.me não gera lucro. O site sobrevive apenas do investimento de US$ 2,5 milhões feito por investidores do Vale do Silício em janeiro e conta com dez funcionários. O próximo grande passo é abrir a API e permitir que desenvolvedores façam aplicativos do Formspring.me "tanto para iPhone e iPad, quanto para Android e desktop", afirma Wechsler. Além disso, eles estão considerando colocar publicidade "mais para frente".
Quanto ao Brasil, Wechsler conta que pretende traduzir o site para português e integrá-lo ao Orkut, mas "não tão em breve".




