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Sistema financeiro

ONU irá propor instituição para ser alternativa ao FMI

Relatório das Nações Unidas mostra que bancos receberam no último ano 10 vezes mais dinheiro público do que todos os países pobres em meio século

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (esquerda) e o presidente da Assembleia Geral, Miguel d’Escoto Brockman (ao centro), na abertura da conferência | Chris McGrath/AFP
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon (esquerda) e o presidente da Assembleia Geral, Miguel d’Escoto Brockman (ao centro), na abertura da conferência (Foto: Chris McGrath/AFP)
Lula recebeu a presidente das Filipinas, Gloria Arroyo, que está em visita oficial ao Brasil |

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Lula recebeu a presidente das Filipinas, Gloria Arroyo, que está em visita oficial ao Brasil

Nova Iorque - O documento que as delegações de países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) vão analisar e, então, votar, com medidas sugeridas para o combate aos efeitos da crise financeira, inclui a proposta de criação de uma instituição alternativa ao Fundo Monetário Internacional (FMI). A informação foi dada pelo Nobel Joseph Stiglitz, presidente da Comissão de Especialistas, que escreveu o documento para a ONU. Entre os autores deste relatório está o ex-ministro Rubens Ricupero, que não deverá comparecer à conferência.

Ao falar em uma mesa-redonda, Stiglitz disse que a comissão destacou no documento a "necessidade de criação de uma instituição mais rápida para distribuição de fundos" e que atue por outros mecanismos. O acadêmico considera uma "ironia" fazer do FMI o organismo responsável por dar respostas para a crise. A política de pressão do Fundo, critica ele, "contribuiu para a crise e espalhamento dela".

Além de parte importante de financiamentos concedidos pelo FMI ter muitas condicionantes para sua liberação, a "eficiência deles permanece controversa", emendou Stiglitz. A instituição alternativa ao Fundo, citada pelo professor da Universidade Columbia, de Nova Iorque, liberaria recursos por uma forma de concessão, e não por financiamentos. "Não queremos outra crise de dívidas", completa.

Bancos e pobres

Um documento divulgado ontem pela Campanha da ONU pelas Metas do Milênio mostra que a indústria financeira internacional recebeu no último ano quase dez vezes mais dinheiro público em ajuda do que todos os países pobres em meio século.

Segundo a organização, os países em desenvolvimento receberam em 49 anos o equivalente a US$ 2 trilhões em doações de países ricos. Desde setembro de 2008, por sua vez, os bancos e outras instituições ameaçadas pela crise global receberam US$ 18 trilhões em ajuda pública.

A divulgação do relatório coincidiu com o início da conferência na sede da ONU para discutir o impacto da pior crise econômica mundial desde os anos 1930. O encontro, que ocorre até amanhã, tem como principal objetivo "identificar as respostas de emergência para mitigar o impacto da crise a longo prazo", segundo a convocação das Nações Unidas.

Um dos principais desafios da reunião será conseguir um compromisso que permita unir países industrializados e em desenvolvimento para definir uma nova estrutura financeira mundial, prestando atenção especial às populações mais vulneráveis.

O relatório da Campanha pelas Metas do Milênio argumenta que a destinação de dinheiro ao desenvolvimento dos países mais pobres não é uma questão de falta de recursos, mas sim de vontade política.

"Sempre digo que uma promessa não cumprida é quase um pecado, mas uma promessa a pessoas pobres não cumpridas é praticamente um crime", disse o diretor da Campanha pelas Metas do Milênio, Salil Shetty. "O que é ainda mais paradoxal é que esses compromissos (firmados pelos países ricos para ajudar os pobres) são voluntários. Ninguém os obriga a firmá-los, mas eles são renegados". lamentou. "O que pedimos de verdade é que nas próximas reuniões na ONU nesta semana, e na cúpula do G-8 (em julho), os países ricos apresentem uma agenda clara para cumprir as promessas que fizeram."

O relatório da organização observa ainda que a crise mundial piorará a situação dos países mais pobres. Recentemente, a Organização para a Agricultura e Alimentação (FAO) afirmou que a crise deixará 1 bilhão de pessoas em todo o mundo passando fome.

Para Shetty, é importante que os países pobres também participem de qualquer discussão sobre a crise financeira global. "Hoje eles não têm voz nas principais instituições financeiras. Enquanto não participarem da tomada de decisões, as coisas nunca vão mudar", afirmou.

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