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SETOR ELÉTRICO

Opção por reservatórios menores elevou o risco de racionamento

Como a maioria das novas usinas armazena pouca água, capacidade do país de “guardar energia” não acompanhou o aumento do consumo

Usina de Salto Caxias, exemplo de hidrelétrica a fio d’água: geradoras desse tipo são mais vulneráveis a estiagens prolongadas do que aquelas que têm grandes barragens e reservatórios | Lechatjaune/Creative Commons
Usina de Salto Caxias, exemplo de hidrelétrica a fio d’água: geradoras desse tipo são mais vulneráveis a estiagens prolongadas do que aquelas que têm grandes barragens e reservatórios (Foto: Lechatjaune/Creative Commons)

A pressão de movimentos sociais e ambientalistas praticamente inviabilizou a construção de hidrelétricas com grandes reservatórios no país. Se, por um lado, isso diminuiu os impactos provocados pelas usinas, por outro aumentou o risco de déficit de energia em caso de estiagem prolongada, pois a maioria das novas represas quase não consegue poupar água para períodos de pouca chuva.

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do governo federal, a capacidade do país de armazenar energia na forma de água aumentou 20% entre 2002 e 2011. Nesse mesmo intervalo, o consumo de eletricidade cresceu 60%. E a EPE estima que, em 2020, a demanda por energia elétrica será 140% superior à de 2002, ao passo que a quantidade de "energia armazenável" nas represas terá crescido apenas 30%. "Se o consumo cresce e o país só constrói reservatórios pequenos, a exposição a situações adversas aumenta", explica Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em 2000 as represas podiam armazenar até 6,7 vezes o consumo de energia, relação que foi baixando até chegar a 4,5 no ano passado. "Já não temos a mesma capacidade plurianual de recompor os níveis dos reservatórios", diz Luis Gameiro, diretor da comercializadora Trade Energy.

Termelétricas

Esse quadro deixou o país mais dependente de usinas termelétricas, a "reserva de emergência" do sistema. Desde o racionamento de 2001, o parque termelétrico, movido a gás, óleo ou carvão, foi multiplicado por quatro. E neste momento, em que os lagos do subsistema Sudeste/Centro-Oeste ocupam menos de 30% da capacidade, quase todas as térmicas do país estão ligadas. Sem elas, o governo provavelmente já teria decretado racionamento.

Mas essa dependência tem um custo, que vai além da poluição atmosférica. A Abrace, representante dos grandes consumidores, estima que em 2012 o país desembolsou R$ 2,7 bilhões para custear as térmicas de emergência – e essa conta será rateada entre todos os brasileiros. "Hoje não há um racionamento de consumo. Mas já há um racionamento de geração hidrelétrica, pois parte dela foi substituída pela geração térmica", diz Francisco Gomide, ex-presidente da Copel e de Itaipu e ex-ministro de Minas e Energia.

Fio d’água

Ao contrário das usinas mais antigas, as principais hidrelétricas licitadas na última década funcionam a fio d’água: quase toda a vazão do rio é usada para gerar energia, ou vertida sem ser aproveitada. Elas inundam áreas bem menores, mas, em compensação, quase não conseguem aproveitar épocas de chuvas generosas para armazenar água. As duas grandes usinas do Rio Madeira, em Rondônia, são a fio d’água. Belo Monte, no Pará, também será.

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