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Desafio

Operários escavaram 22 quilômetros

O engenheiro curitibano Newton Sady Busetti se aposentou há quase duas décadas, mas não passa uma noite sem sonhar com túneis, rochas e imbróglios técnicos a solucionar. "Tenho 76 anos e estou aposentado há 18. Mas trabalho de graça toda noite", brinca. O curioso, diz ele, é que os sonhos nunca têm relação com as obras que já tocou – essas, afinal, já causaram preocupação suficiente.

Busetti tinha 29 anos quando foi convidado a comandar a construção da hidrelétrica Capivari-Cachoeira, em 1962, mas já acumulava uma bela experiência em projetos na Região Sudeste: havia se envolvido na escavação de 22 quilômetros de túneis, na remoção de 14 milhões de metros cúbicos de solo e na concretagem de outros 2 milhões de metros cúbicos. O autor do convite foi seu ex-professor de hidráulica na Universidade Federal do Paraná, Parigot de Souza, então presidente da Copel.

A construção durou oito anos e exigiu a escavação de 22 quilômetros de túneis e cavernas na Serra do Mar. A previsão era que o trabalho avançasse 130 metros por mês. Mas, com a descoberta de uma falha geológica no meio do túnel de captação de água, e a descompressão das rochas, que provocava desabamentos, os engenheiros tiveram de abusar do jogo de cintura.

"Para compensar o atraso, abrimos cinco frentes simultâneas de trabalho. No auge, eram 22 frentes, quase 3,5 mil pessoas, detonando mais de 1,5 mil quilos de dinamite todo dia", enumera Busetti. "Enquanto minha esposa e nossas três filhas ficavam em Curitiba, eu passava o dia na obra e dormia no acampamento. No fim, conseguimos uma média de 120 metros mensais de avanço."

O empenho garantiu recordes, mas cobrou seu preço: 26 pessoas morreram em explosões, acidentes de transporte e desabamentos. "O pior momento foi quando os operários montavam as espoletas elétricas de detonação, perto do Rio Capivari. Um raio precipitou a explosão, e perdemos 13 trabalhadores."

Automatização

Depois de pronta, a hidrelétrica chegou a ter mais de cem funcionários, lembra o supervisor de manutenção mecânica, Guilherme Ribes Rickes. Mas a automatização de boa parte da segurança e da própria operação da usina – hoje feita a partir de Curitiba – reduziu o contingente para 43 pessoas.

Como qualquer hidrelétrica, Parigot teve seus impactos ambientais. Entre eles, o de aumentar em pelo menos 30% a vazão média do Rio Cachoeira, para onde vão as águas após passar pelas turbinas. Um processo que, segundo várias pesquisas, acelerou o assoreamento da baía de Antonina. (FJ)

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