O Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), conjunto de medidas que o governo vai lançar com a intenção de promover o crescimento econômico do país, é visto com descrença pelos economistas e analistas de mercado. Há quem diga que o pacote nem está sendo aguardado, tamanha a indefinição e contradição do discurso governista. As críticas não são suaves. Há quem classifique o pacote como nada mais que um "embrulho" ou, pior, uma "cabeça de bacalhau" algo que ninguém viu, nem vai ver.
A meta do governo é que o pacote promova uma diminuição na expansão de gastos públicos , além da e a ampliação da infra-estrutura e do volume de investimentos, tanto públicos como privados. Medidas que já vem sendo mencionadas pelo governo prevêem desoneração fiscal para alguns setores, investimento em obras de infra-estrutura e criação de regras para reajuste do funcionalismo público e salário mínimo (veja mais no quadro).
Se o discurso até parece interessante, as atitudes do governo nas duas últimas semanas contribuem muito pouco para que as promessas recebam algum crédito. O pacote estava previsto para ser anunciado em dezembro. Agora está programado para o próximo dia 22. O adiamento poderia não ser necessariamente um problema, na visão dos especialistas, se não estivesse vinculado às férias do presidente e de parte de seus ministros, logo após a posse no segundo mandato, que ainda não tem os ministérios definidos. A sensação é de descaso em relação ao plano. "Se é tão fácil acelerar o crescimento, porque não se fez antes? Este governo nem tem ministério, sai de férias e diz que vai criar um programa para crescer. Não dá para esperar nada, simplesmente não há expectativa. O mercado está cético", afirma o diretor responsável pela área de análises econômicas da Mercatto Investimentos, Paulo Veiga, ao comparar o PAC ao bacalhau.
Para piorar a imagem do governo em relação à criação do plano, a promessa de tentar promover a melhoria da infra-estrutura do país se tornou contraditória na última semana depois que a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, transformou a certeza em relação às concessões de rodovias federais em dúvida ao anunciar a suspensão da licitação devido à preocupação com as tarifas de pedágio.
O economista José Augusto Arantes Savasini, da consultoria Rosenberg e Associados, acredita que a polêmica criada em torno das concessões é um sinal de que o PAC deve ficar só na promessa. A péssima condição das rodovias brasileiras é um entrave para a circulação das mercadorias e, conseqüentemente, para o aumento da produção nacional. "Para ter crescimento é preciso investimento. O governo não tem mais condições de fazer grandes obras de infra-estrutura. Isso é algo para o setor privado. O governo tem de começar a melhorá-la, mas já está mostrando que isso não vai acontecer."
A impressão geral é que de concreto, até o momento, o PAC só tem o nome. "Espero que não fique só no marketing", diz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Ele destaca, ainda, que a criação de condições para investimento no Brasil são imprescindíveis. O representante dos exportadores não é tão duro na crítica ao pacote, mas já prevê que mesmo que sejam formuladas propostas interessantes, 2007 será um ano sem resultados. "Adia-se como se não tivesse importância ou urgência", diz. "Qualquer medida econômica tem um período médio de seis meses para começar a apresentar resultados. As ações que forem definidas só vão começar a ser adotadas em março, após a definição dos ministérios. Este ano para o PAC acabou."
Não há quem diga que o Brasil não precisa tomar providências para acelerar o crescimento, mas também é um consenso que o PAC, ainda que dê resultados, não deve ter grande impacto. Para Castro, da AEB, divergências existentes dentro do próprio governo como a questão do aumento do salário mínimo indicam que o PAC deve vir ameno. "As medidas chegam de forma mais amenas, para tentar agradar todos os lados", diz.
Já o diretor do Centro de Pesquisas Econômicas da UFPR, José Oreiro, acredita em resultados pontuais, sem grandes mudanças. "O impacto maior que o plano deve trazer é a redução do superávit primário (economia que o governo faz para pagar os juros da dívida), que permite destinar mais dinheiro para investimentos em infra-estrutura", avalia. Na última semana, o governo anunciou que o superávit primário, que tinha como meta 4,25%, poderá ser de até 3,75%. A diferença será aplicada em obras consideradas prioritárias e de grande retorno econômico, aumentando de 0,2% do PIB (cerca de R$ 4,6 bilhões) para 0,5% do PIB (mais de R$ 11 bilhões) o total gasto na área.



