Quase todos os dias, o advogado curitibano Luiz Fernando Veiga Ribeiro aparece na corretora Omar Camargo em dois horários: às 11 h da manhã, pouco depois da abertura da Bovespa, e às 4 h da tarde, pouco antes do fechamento. Na chamada "sala do investidor", ele aproveita para conversar com outros clientes e discutir com seu corretor qual será a estratégia para os próximos pregões. Esses encontros foram especialmente animados entre o fim de março e o início de maio período em que a bolsa subiu mais de 10% e atingiu o maior nível de todos os tempos , mas ficaram um pouco mais tensos na seqüência: em 15 dias, o Ibovespa despencou cerca de 15%. Apesar da recente reação, as perdas desde maio ainda não foram recuperadas.
"Neste ano, eu mais perdi do que ganhei. Mas estou me recuperando", diz Ribeiro, com a tranqüilidade de quem já conhece boa parte dos segredos da bolsa. O principal, segundo ele, é "comprar barato e ter paciência". Comprar barato foi o que o advogado fez em setembro de 2001, logo após os atentados em Nova Iorque, época em que o Ibovespa chegou a cair 9% em apenas um dia. Ribeiro, que estava longe do mercado de ações desde o primeiro choque do petróleo, no início da década de 70, decidiu que aquele era o momento ideal para voltar.
Dois meses depois dos atentados, quem teve paciência e permaneceu na bolsa já tinha recuperado suas perdas e quem entrou "na baixa" só ganhou. Nos cinco anos seguintes, o Ibovespa avançou nada menos que 250%. "Valeu muito a pena continuar. Nesse tempo todo, eu ganhei muito mais do que perdi", diz o advogado.
No momento, o cenário é positivo: de hoje até o fim do ano, os ganhos podem chegar a 8%, se o Ibovespa atingir 42 mil pontos, ou 16,5%, no caso de 45 mil pontos. Mas não basta entrar na bolsa e esperar que tudo isso aconteça. O consultor financeiro Rogério Garrido, estrategista de renda variável da Omar Camargo, lembra que é preciso atenção ao que acontecer na política e na economia nas próximas semanas.
"Novas elevações no preço do petróleo e conseqüente aumento das pressões inflacionárias podem inibir o crescimento mundial em 2007. No âmbito interno, o risco político de o presidente Lula sofrer um processo de impeachment num eventual segundo mandato pode provocar fuga de capitais e trazer o mercado até 32 mil pontos", diz Garrido. Se isso acontecer, o recuo das ações pode chegar a 17%.
O analista de sistemas Adriano Sureck Caneppele, que esperou a baixa de maio para começar a investir no mercado de ações, contabiliza ganhos de 6% desde então. Cauteloso, por enquanto ele mantém em sua carteira apenas as chamadas "blue chips" ações de empresas tradicionais, como Petrobrás, Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Bradesco. "Estou aproveitando para aprender mais sobre a bolsa, para eliminar um ou dois desses papéis e comprar outros um pouco mais arriscados", conta Caneppele, que se diz otimista em relação ao futuro do Ibovespa. "A economia brasileira está muito mais estável que antigamente. E as eleições não devem gerar muito calor se um ou outro candidato ganhar."



