
A greve dos trabalhadores da fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais (SJP) completa 34 dias e deve ganhar uma pauta bem mais ampla que a reivindicação inicial. Na reunião marcada para a manhã de hoje, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) vai negociar um "pacotão" de reivindicações junto à montadora. Apesar de a paralisação ter sido motivada pela falta de acordo no valor da Participação nos Lucros e Benefícios (PLR), segundo o presidente da entidade, Sérgio Butka, assuntos como o plano de cargos e salários, os dias parados e a data-base precisam entrar na pauta. Na assembleia de ontem, os cerca de 2 mil funcionários presentes votaram pela manutenção da greve e uma nova assembleia está agendada para a tarde de hoje.
"Hoje está mais difícil fechar acordo só com a PLR. Os dias parados precisam ser discutidos e a empresa vai ter de bancar. O presidente da empresa também é responsável pela paralisação quando declarou que era melhor ficar parado do que pagar", afirma Butka. "Vamos debater esses assuntos e tentar avançar na busca de uma alternativa. Esperamos uma nova posição da empresa", acrescenta o sindicalista.
Reforço
A assembleia de ontem em frente à fábrica foi marcada pela presença de diversas lideranças sindicais de várias partes do país, como Paulo Pereira da Silva, o "Paulinho da Força", presidente da Força Sindical e deputado federal, além de representantes de sindicatos de metalúrgicos das cidades paulistas de São Paulo, São Caetano do Sul, Taubaté e São Carlos esses dois municípios também abrigam fábricas da Volks , e Camaçari, na Bahia.
"Tivemos reunião com o Carlos Lupi [ministro do Trabalho] pedindo que o governo interfira para abrir negociação", diz Paulinho. O deputado chegou a falar em convocar o presidente da Volks, Thomas Schmall, para dar explicações (leia mais nesta página).
Especulações
Enquanto as partes envolvidas na greve não chegam a um acordo, surgem algumas especulações referentes aos motivos pelos quais a montadora não aceita a reivindicação dos metalúrgicos, mesmo contabilizando milhões de reais em prejuízos. Uma das hipóteses é de que a empresa estaria aproveitando a paralisação para fazer a readequação do processo produtivo para a substituição de alguns produtos. A produção da linha Fox, que hoje responde por mais de 90% do volume faturado no complexo de SJP, seria transferida para a unidade de Taubaté (SP).
Em contrapartida, a fábrica paranaense assumiria a fabricação da picape Saveiro, atualmente feita na unidade da Rodovia Anchieta, também em São Paulo; e, no futuro, a produção da perua Space Fox, que começará a ser montada por aqui assim que a greve terminar as peças, por enquanto, continuam vindo da Argentina.
"Transferir [a linha Fox] de uma fábrica para outra exige um enorme investimento. Não seria em apenas um mês de greve", destaca Evandro Nogueira, do departamento de Comunicação da Volks. A empresa também informou que houve investimento de R$ 360 milhões para a expansão da fábrica de Taubaté, com a criação de uma nova área de pintura que permitirá aumentar a capacidade de produção de Gol e Voyage das atuais 1.080 para 1,3 mil unidades/dia.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté (Sindimetau), Isaac Mascarenhas do Carmo, não acredita na mudança, principalmente porque a unidade paulista está com a capacidade quase toda comprometida. "Não teríamos condições de comportar dois modelos de entrada [Gol e Fox]", descarta o sindicalista. A fábrica em Taubaté já produz o Gol.
O diretor da subsede de São José dos Pinhais do SMC, Osvaldo Silveira, também não vê chances de o Fox deixar o Paraná. Até porque, segundo ele, há rumores de que o modelo sairá de linha em 2013 para dar lugar a um novo projeto. "Mudar para depois acabar não tem lógica", analisa.
Além da linha Fox, que inclui o CrossFox e o Fox Europeu, a fábrica paranaense produz o hatch médio Golf cerca de 70 unidades/dia , que em breve passará a ser feito no México. Já a SpaceFox, num primeiro momento, terá o serviço de montagem finalizado por aqui a carroceria ainda viria da unidade de Pacheco, na Argentina.
Demissões
Em relação às notícias de possíveis demissões, caso as mudanças ocorram, o presidente do SMC diz não estar preocupado. Segundo ele, o mercado está aquecido e falta mão de obra qualificada. "A oferta de emprego é muito grande. Só para se ter uma ideia, alguns funcionários nos procuraram dizendo que tinham outras propostas, mas não podiam sair por conta da greve", diz Butka. "Nossa intenção é garantir condições para que os funcionários não saiam", complementa.




