Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Internet

Países faturam com venda de domínios

Montenegro, Tuvalu e até a Colômbia fazem o licenciamento. Empresas em busca de endereços criativos compram – até o Facebook aderiu

Paisagem da cidade mediterrânea de Kotor, em Montenegro: domínio do país é atraente para quem busca endereços curtos | Dirk Heldmaier/Creative Commons
Paisagem da cidade mediterrânea de Kotor, em Montenegro: domínio do país é atraente para quem busca endereços curtos (Foto: Dirk Heldmaier/Creative Commons)

Nova York - Vai acessar o Facebook? Para isso, você pode usar o endereço completo da rede social (www.facebook.com) ou simplesmente digitar www.fb.me. Esse atalho é possível porque o governo de Montenegro tornou o chamado "domínio de topo do país" (o sufixo ".me") dis­po­­nível para uso comercial na web – mediante o pagamento de uma taxa, é claro. Assim como o Fa­­cebook, outras empresas decidiram adquirir endereços com essa terminação para atrair visitantes aos seus sites ou para impedir que concorrentes o façam.

A venda de domínios por países cujo código combina duas letras de forma que também funcione como uma palavra ou símbolo não é novidade. O arquipélago de Tu­­valu, por exemplo, vende o domínio ".tv" há mais de uma década.

Exceto por poucas exceções, os endereços da internet que usam o código de um país são pouco atraentes e o ".com" continua a ser a principal escolha das empresas que querem exibir suas credenciais da web. Agora, as companhias que vendem sufixos como ".me", ".tv" e ".co", da Colômbia, es­­forçam-se para popularizá-los mundo afora.

"Temos a oportunidade de nos tornarmos a plataforma preferida por empresários do mudo inteiro. Para isso, queremos ser conhecidos", diz Juan Diego Calle, diretor executivo da .CO Internet, empresa de Miami que revende o registro ".co" sob licença do governo co­­lom­­biano.

Um dos motivos para o atual impulso nesses negócios é a falta de nomes que terminam com o domínio mais popular do planeta. Mais de 90 milhões de endereços ".com" já estão em uso, e, de acordo com as companhias que vendem esse sufixo, existem poucas combinações ainda disponíveis.

Outra possível causa é a recente liberalização do sistema de re­­gistro de domínios. Há pouco tem­­po, a Icann (Internet Corpo­ration for Assigned Names and Numbers), entidade responsável pela atribuição de endereços na web, tornou possível a criação de códigos que não usam o alfabeto romano, mas sim letras cirílicas ou a escrita árabe. No ano que vem, a organização pretende permitir que todo o tipo de terminação seja usada nos domínios, co­­mo ".paris" ou ".shopping". As­­sim, países como Colômbia e Montenegro querem aproveitar enquanto seus domínios nacionais não são ofuscados por uma multidão de outros códigos.

Dinheiro no cofre

Para governos em dificuldades financeiras, o comércio de domínios pode ser uma interessante fonte de dinheiro. A Colômbia, por exemplo, fica com 25% da receita obtida com a venda do sufixo ".co" pela .CO Internet. No ano passado, a empresa faturou US$ 20 milhões por meio dessas operações; em 2011, a expectativa é de que a movimentação ultrapasse os US$ 30 milhões, de acordo com Calle.

Mais de 600 mil endereços ".co" já foram vendidos em cerca de 200 países, diz o executivo. Destes, apenas 20 mil são de empresas ou pessoas colombianas – a maior parte dos compradores é dos Estados Unidos e da Europa. A companhia prevê que o total de registros ".co" atingirá 5 milhões em no máximo cinco anos. Calle aposta que uma nova onda de interessados surgirá após uma forte campanha de marketing que estreou no início do mês. Durante o Super Bowl, a Go Daddy, maior empresa de registro de domínios no mundo, destacou o ".co" num comercial. O anúncio, como é típico na publicidade televisiva dessa companhia, contava com as "garotas Go Daddy" vestidas com camisetas e shorts justíssimos. Só que, dessa vez, a comediante septuagenária Joan Rivers era uma das estrelas. Antes da final do campeonato de futebol americano, a Go Daddy já divulgava que traria uma nova integrante para o seu time, a "garota ‘.co’".

Código colombiano tem vantagem por ser "genérico"

Enquanto alguns códigos de países têm dificuldade para atrair in­­teressados fora de um nicho específico, o sufixo da Colômbia pode se dar bem na briga com o rival ".com", uma vez que as letras ".co" são usadas em diversas línguas como abreviação para "companhia". De acordo com analistas, o domínio também não é percebido como a mera abreviatura do nome de uma nação.

"Desde que não se divulgue muito que se trata da simples comercialização do código da Colômbia, o ‘.co’ pode decolar", diz Josh Bourne, diretor da FairWinds Partners, que orienta empresas na escolha de um endereço na internet.

Sequestro de nomes

Muitos dos endereços registrados com sufixos como ".co" e ".me" sur­­giram porque as empresas querem se proteger da "pirataria de domínios" ou do "estacionamento de domínios". Por meio dessa espécie de fraude, endereços com no­­mes ou marcas famosas são criados por terceiros, que mantêm o re­­gistro apenas para cobrar um resgate.

Para combater essa prática, as companhias que operam domínios de topo como o ".co" são hoje obrigadas a deixar que proprietários de marcas ou logotipos registrem seus próprios nomes durante um período conhecido como "sunrise". Como resultado, ao digitar o endereço "apple.co", por exemplo, o internauta será redirecionado automaticamente para a página principal da Apple, "apple.com". Algumas empresas, no entanto, têm sido mais criativas no uso dos domínios de países. Assim como o Facebook, alguns sites bastante conhecidos usam essas terminações para endereços abreviados – entre eles, a loja on-line Over­stock.com passou a oferecer um endereço bem mais curto – "o.co" – usando o código colombiano.

Primeira pessoa

A DoMEn, empresa que comercializa o registro ".me", promove o uso do sufixo para sites de mídia social e para blogueiros, aproveitando que as duas letras servem como apêndice para as pessoas deixarem claro que aquela página diz respeito a elas próprias. O código é empregado, por exemplo, pelo About.me, um portal em que os usuários criam páginas que agregam as atividades realizadas por eles em outras redes sociais. Em dezembro passado, o About.me foi vendido para a AOL.

Outros domínios nacionais adotados para fins similares são o ".at" (da Áustria), ".cc" (das Ilhas Cocos) e o ".tm" (do Turcomenistão). Mas nem todo país se anima com a ideia de seu código de duas letras ser usado por comerciantes ao redor do mundo. A França, por exemplo, exige que os usuários do ".fr" tenham uma presença física no país. "Há nações que ainda querem manter seus domínios puros e restritos, mas a maioria já desistiu disso e busca uma fonte de receita", explica Bourne.

Algumas empresas que vendem domínios tentem esconder sua relação com os países detentores das terminações, ao enxergar nessas ligações uma barreira à adoção internacional dos sufixos, mas a DoMEn não vê problemas em deixar claro que o ".me" pertence ao governo de Montenegro. A diretora de vendas globais da empresa, Natasa Djukanovic, diz que a operação também serve para divulgar o seu país. "Muitas pessoas que nem sabiam da nossa existência agora sabem onde ficamos no mapa", afirma.

Tradução: João Paulo Pimentel

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.