
O grupo Pão de Açúcar anunciou ontem a compra da Globex Utilidades, dona da rede Ponto Frio, por R$ 824,5 milhões. Caso os acionistas minoritários da Globex também aceitem a proposta, o valor poderá chegar a R$ 1,164 bilhão. Com a aquisição, a rede, controlada pelo grupo francês Casino, recupera a liderança no varejo brasileiro, ocupada desde 2007 pela também francesa Carrefour.
"Há cinco anos, o grupo decidiu que teria de dominar a área de não alimentos. Depois de recuar nos últimos anos, retomamos o crescimento nessa direção", afirmou o presidente do conselho do grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz, durante o anúncio do negócio. Com a compra, o Pão de Açúcar passa a ter receita anual de R$ 26 bilhões e mais de 1,2 mil lojas, sendo 455 delas do Ponto Frio. A rede se torna a segunda maior do país em eletroeletrônicos, atrás da Casas Bahia. No total, serão 79 mil funcionários.
Segundo Diniz, num primeiro momento não serão feitas demissões e as operações serão mantidas independentes, bem como as marcas Ponto Frio e Extra Eletro (que não tem lojas no Paraná). A expectativa dos ganhos de sinergia é estimada em R$ 500 milhões, nos próximos 12 meses. Com a aquisição, a participação da área de eletroeletrônicos no faturamento do grupo passa de 10% para 26%.
Analistas acreditam que a compra da Ponto Frio deverá forçar concorrentes a fazer aquisições no mercado. Ontem, algumas horas depois de o Pão de Açúcar anunciar o negócio com a rede carioca, a Casas Bahia, com sede em São Caetano do Sul (SP) e 500 lojas, informou ter adquirido a baiana Romelsa, fundada há 20 anos em Salvador e com 17 pontos de venda. "Os grandes grupos devem se voltar agora também para a compra de redes de menor porte, com presença regional", prevê Christian Majczak, da Go4! Consultoria. "Trata-se de comprar posição de mercado em um segmento em que tamanho é documento", acrescenta José Roberto Martins, da consultoria GlobalBrands. Entre os grupos que chegaram a avaliar a Ponto Frio estavam a Lojas Americanas, o grupo Silvio Santos, a rede nordestina Insinuante e a Magazine Luiza, que tem planos de avançar em São Paulo.
Embora a maior parte dos especialistas não tenha considerado o valor pago como "muito alto", parte deles vê alguns riscos na operação. "Foi uma estratégia audaciosa se considerarmos a atual crise e o momento de transição do grupo Pão de Açúcar, que recentemente trocou de presidente em um esforço para melhorar resultados depois de perder espaço para o Carrefour", afirma Martins.
Para Eugênio Foganholo, analista da Mixxer Consultoria, especializada em varejo, o principal desafio do Pão de Açúcar será imprimir identidade e foco para a operação do Ponto Frio. "Sem dúvida, entre as três grandes do setor, ela é a que tem a imagem mais desgastada, justamente porque quis atender a todos os públicos em um mercado dominado pela demanda das classes C e D e que vinha em processo de perda de rentabilidade", afirma.
Os analistas divergem sobre os efeitos da compra sobre os preços ao consumidor, mas a maioria diz que a forte concorrência entre as cadeias de lojas não deve permitir grandes reajustes. O fato de o mercado ser bastante pulverizado, com presença forte de redes regionais, também não deve trazer grande dificuldade para a aprovação do negócio, sem maiores restrições, no Conselho de Administração Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) do Ministério da Justiça.



