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FRONTEIRA

Paraguai, doce lar

Décadas depois dos primeiros brasiguaios, uma nova leva de brasileiros aproveita o bom momento econômico e os baixos custos para se instalar no país vizinho

Marcos e Simone deixaram Maringá para tocar um restaurante em Hernandárias: “As oportunidades estão por todo o país”, diz ele | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Marcos e Simone deixaram Maringá para tocar um restaurante em Hernandárias: “As oportunidades estão por todo o país”, diz ele (Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo)
O Paraná Country Club, em Hernandárias, tem cerca de mil casas |

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O Paraná Country Club, em Hernandárias, tem cerca de mil casas

Mais conhecido entre os brasileiros por ser um paraíso de compras, o Paraguai ganhou status de porto seguro para se viver. O custo da construção civil, cerca de 30% mais em conta se comparado ao do Brasil, e a facilidade de "fazer dinheiro" tornaram-se chamariz para brasileiros cruzarem a fronteira de malas na mão.

Os novos oásis para os brasileiros estão em condomínios de luxo que despontam em municípios situados próximo à faixa de fronteira onde o sotaque brasileiro é uma constante: Ciudad del Este e Hernandárias, nos limites com Foz do Iguaçu; e San Alberto e Santa Rita, que surgiram décadas atrás com a chegada dos chamados brasiguaios, que buscavam terras para plantar.

O momento econômico favorável do Paraguai – cuja economia cresceu a uma média anual de 7% entre 2003 e 2010, segundo o Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar) – também atrai uma legião de empresários brasileiros.

Inversão

A maior parte dos brasileiros que opta por viver no país vizinho é funcionário ou proprietário de loja. Eles começam a inverter uma cultura na fronteira que é ter um negócio no Paraguai e morar em Foz do Iguaçu.

Marcos Fernando Lima, 40 anos, e Simone Lima, 35 anos, deixaram Maringá (Noroeste do Paraná) há um ano e meio para tocar um restaurante em Hernandárias. De início, eles tentaram morar em Foz do Iguaçu, mas a experiência não deu certo porque era necessário fazer pelo menos três viagens diárias de uma cidade a outra, passando pelo trânsito confuso da Ponte da Amizade. Hoje eles moram num apartamento a poucos minutos do restaurante – e não se arrependem da mudança. "Quando se fala do Paraguai, a primeira impressão que se tem é a Ponte da Amizade. Mas não é só a região da fronteira, as oportunidades estão por todo o país. Basta que as pessoas deixem a zona de conforto e assumam responsabilidades", diz Lima.

Sem volta

A arquiteta Maria Cláudia Toson, 30 anos, também se mudou há um ano e meio. O marido, proprietário de uma loja de maquinário agrícola em Ciudad del Este, levou um tempo para convencê-la de que viver no país vizinho seria mais sensato. "Eu tinha medo do atendimento na saúde, das amizades, da estrutura educacional", conta Maria Cláudia. Um ano foi suficiente para que ela mudasse de ideia. Hoje proprietária de uma loja de roupas, ela conta outra história sobre o país vizinho. "É difícil um brasileiro vir para o Paraguai e voltar." Maria Cláudia sente-se em casa no Paraguai. Encontra brasileiros por onde anda e elogia a escola bilíngue onde a filha de dois anos estuda. Lá, conta, a filha canta em francês e fala espanhol.

Alexandre Luiz Mella, 30 anos, mora em Ciudad del Este há cinco anos com a esposa. Empresário, ele tem uma loja de máquinas e ferramentas na cidade, onde trabalha desde 1997. A dificuldade de cruzar a fronteira todos os dias para ir ao país vizinho gerenciar o próprio negócio foi um dos motivos que o levaram a viver no Paraguai.

Segundo ele, as pessoas resistem à ideia de viver no Paraguai por falta de conhecimento, mas, com o tempo, veem os benefícios. "Com a globalização você tem tudo e aqui é mais barato que no Brasil", diz ele. Pagar aluguel e manter um automóvel custam muito menos – o "IPVA" de um carro de luxo, explica, sai por apenas R$ 200 ao ano.

Longe do agito, um supercondomínio

Os lugares que os brasileiros procuram para viver no Paraguai estão distantes do comércio de importados. São bairros arborizados, onde florescem condomínios de alto padrão e não há reclamação quanto à segurança. Apesar de ainda engatinhar na construção de prédios e condomínios horizontais, a região de fronteira tem um empreendimento que é referência no país.

O Paraná Country Club, situado em Hernandárias, onde fica a sede da Itaipu Binacional, é um supercondomínio horizontal que tem similares apenas em algumas capitais brasileiras, como São Paulo. Distante a poucos quilômetros do microcentro de importados, parece estar em outro país. O Country Club tem uma área de moradia, onde há um controle rigoroso na portaria, e uma área comercial externa. Nos dois ambientes, os moradores são vistos circulando com carros usados em campos de golfe.

Com cerca de 1,8 mil terrenos, o condomínio tem hoje aproximadamente mil casas, algumas de "padrão cinematográfico", além de dois hotéis, restaurante, clube de lazer com quadras de tênis e campos de golfe. Nos últimos cinco anos, com o aumento da demanda, os lotes se valorizaram exponencialmente. Um terreno que há seis anos custava US$ 15 mil é vendido hoje por US$ 150 mil. Lá moram brasileiros, paraguaios, chineses, árabes e outros estrangeiros.

Criado na década de 1970, o Country Club desponta como um atrativo para os brasileiros por vários motivos: a segurança, a organização e os benefícios. A única coisa que falta no condomínio, brincam os moradores, é um hospital – há até uma ambulância à disposição deles.

Na área comercial do condomínio, os moradores têm praticamente tudo à disposição: banco, revendedora de automóveis, supermercado, restaurante, loja de confecções e um centro comercial de luxo – alternativas que dispensam deslocamentos para outros locais.

A realidade é parecida em San Alberto e Santa Rita, uma colônia brasileira situada a 70 quilômetros de Foz do Iguaçu. Lá uma casa de três quartos e 250 metros quadrados em alto padrão vale hoje cerca de US$ 220 mil (R$ 352 mil).

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