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Luiz Moises da Silva quer trocar de emprego e voltar a estudar: sem ensino fundamental completo, ele sente que é pouco valorizado no mercado | Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo
Luiz Moises da Silva quer trocar de emprego e voltar a estudar: sem ensino fundamental completo, ele sente que é pouco valorizado no mercado| Foto: Rodolfo Bührer/ Gazeta do Povo

Presidente do Ipea diz que problema é "bom"

Das agências

Embora tão problemática quanto o excedente, a escassez de mão de obra qualificada é considerada um "problema bom" pelo presidente do Ipea, Marcio Pochmann. "Isso não acontece desde o milagre econômico dos anos 1970", lembra. O desafio para o setor público e privado, diz, é antecipar as mudanças no perfil do mercado de trabalho a fim de casar oferta e demanda de mão de obra no tempo e lugares certos.

Não é só no Paraná que o "problema bom" existe: quatro setores da economia brasileira terão escassez de mão de obra qualificada em 2010. O maior déficit será em comércio e reparação, com a falta de 187.580 trabalhadores. Na sequência estão educação, saúde e serviços sociais (-50.086), alojamento e alimentação (-45.191) e construção (-38.403).

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No resto do país, entrave ocorre pelo excedente

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Cerca de 650 mil trabalhadores qualificados e com experiência profissional não deverão encontrar colocação no mercado de trabalho brasileiro neste ano, de acordo com o estudo do Ipea divulgado ontem – que leva em consideração um crescimento de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB). No total, o Brasil deve gerar 2 milhões de empregos em 2010 – o dobro do registrado no ano passado. Ainda de acordo com essa pesquisa, o país verá surgir ao longo do ano um universo de 19,3 milhões de pessoas qualificadas para uma demanda potencial de 18,6 milhões de trabalhadores.

Marcio Pochmann, presidente do Ipea, explica que parte desse contingente foi demitida durante a crise – iniciada no último trimestre de 2008 e que tomou quase todo o ano de 2009 –, mas ainda não encontrou trabalho. "Uma parcela importante trabalhava na indústria, que foi o setor mais atingido pela crise e ainda não se recuperou totalmente", afirmou. A indústria deve ter um excedente de 145 mil trabalhadores qualificados no país, seguida pelo setor agrícola (122 mil).

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  • Veja o saldo de mão de obra qualificada em diferentes setores

O mercado de trabalho do Paraná deve gerar 147 mil vagas em 2010, o dobro do número de postos criados no ano passado, que ficou em 69.084. Mas o que poderia ser um dado animador vira um problema quando se constata que o estado terá dificuldade para conseguir trabalhadores aptos a preencher as oportunidades de emprego. Mais de 18 mil vagas deverão permanecer abertas no fim deste ano por causa da escassez de mão de obra qualificada – o pior índice do país. A realidade paranaense é bem diferente da nacional, cujas projeções apontam para um excedente de profissionais preparados e experientes (leia mais no texto ao lado). Além do Paraná, apenas Santa Catarina e Rondônia não conseguirão preencher as vagas por falta de capacitação dos trabalhadores.

Os dados – divulgados ontem por meio do estudo "Emprego e ofer­­ta qualificada de mão de obra no Brasil: impactos do crescimento econômico pós-crise", do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) – também mostram que a indústria é o setor que terá a situação mais crítica para encontrar trabalhadores com formação adequada para ocupar mais de 40 mil vagas. A escassez deverá ser de 21.348 trabalhadores industriais, diz o Ipea. Logo em seguida vem o comércio, com uma demanda de mão de obra qualificada da ordem de 16.117.

Luiz Moises da Silva, 36 anos, estudou só até a 6ª série do ensino fundamental, e percebe que o mercado está cada vez mais exigente. Ontem, ele agendou uma entrevista numa fábrica de Quatro Barras, na região metropolitana de Curitiba. Silva espera conseguir trabalhar no setor de produção da empresa – e ter um tempo livre para retomar os estudos. "Na produção, o salário é maior e quero voltar a estudar também. Além disso, o horário desse emprego é melhor", conta. Trabalhando como cozinheiro industrial em São José dos Pinhais, Silva está a procura de uma vaga na área de produção há quatro meses.

Treinamentos

O diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), João Barretos Lopes, diz que os dados apresentados pelo Ipea confirmam uma realidade histórica do estado. "A dificuldade sempre existiu, até mesmo por causa da característica agrícola do Paraná", explica. Segundo ele, os segmentos metal-mecânico e de alimentos são os mais carentes de bons profissionais. Para tentar solucionar o problema, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep) começou a realizar reuniões setoriais para identificar as demandas específicas de cada região. Cerca de 150 mil trabalhadores – 25% a mais do que no ano passado – serão atendidos em 2010 pelos cursos de formação da instituição. Os treinamentos foram desenhados com base nos dados do levantamento regional da Fiep.

A evolução muito rápida das empresas é apontada pelo presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânica e de Material Elétrico (Sindimetal-PR), Roberto Karam, como uma das causas para a escassez de mão de obra. Ele conta que as próprias empresas têm assumido os custos de capacitação com cursos internos, voltados para as suas necessidades. "O problema, neste caso, é para quem está fora do mercado", coloca.

Total

A boa notícia é que, se confirmados os números do Ipea, o Paraná pode bater recorde na geração de empregos em 2010. Os 147 mil postos de trabalho (saldo de admissões menos demissões totais, sem distinção entre vagas que exigem ou não qualificação) estimados para este ano são superiores ao maior índice já alcançado pelo estado – 122.648 vagas, em 2004.

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