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Quatro pequenas e jovens companhias aéreas assistiram de camarote à crise da Varig. Criadas a partir de 1998, BRA, Trip, Ocean Air e Webjet esperam pelos novos capítulos da novela que envolve a ex-líder da aviação civil brasileira para saber o papel que lhes caberá no futuro. Em junho, as quatro somadas transportaram 165 das 3,3 milhões de pessoas que passaram pelos aeroportos brasileiros. É uma participação pequena, 5% do mercado, mas suficiente para despertar a ambição por vôos mais altos.

Cada uma delas investiu em melhorias nos últimos tempos, já à espera de um mercado diferente. A BRA – a maior do grupo, com 3,7% do mercado doméstico – começou a operar vôos regulares para Madri e Lisboa, destinos que só explorava em fretamentos. Ocean e Trip estão trocando de aeronaves e incorporando à sua frota aviões Fokker-100, os mesmos que a Tam está abandonando em sua aposta em aviões maiores. A Ocean está investindo US$ 100 milhões este ano na operação. A Webjet, que hoje opera suas rotas entre Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Porto Alegre com um único Boeing 737, espera dobrar sua frota em agosto e estuda incorporar mais suas aeronaves até o fim do ano.

Tanto entusiasmo surge porque a aviação brasileira está, apesar das crises, muito bem. Cresce em média 15% ao ano e vive cheia de novidades. O sucesso da Gol, que iniciou as operações em janeiro de 2001 com seis aviões e hoje ocupa a segunda posição no mercado, com 35% dos passageiros do país e 47 aeronaves, serve de exemplo para todas. Se ela conseguiu, porquê não tentar?

Os caminhos das pequenas, no entanto, são ligeiramente diferentes dos trilhados pela Gol. Das quatro, apenas BRA e Webjet declaram seguir a mesma estratégia, de voar para os principais destinos do país oferecendo preços baixos. "Somos um país de grandes dimensões e precisamos criar modos fáceis, rápidos e menos onerosos para percorrê-lo", diz o diretor de planejamento da companhia, Waldomiro Ferreira. A BRA tenta fechar essa equação há seis anos, quando começou a operar, a princípio apenas com vôos fretados.

Mais jovem e menor, a Webjet já conta um fracasso em seu currículo. Começou a voar em julho do ano passado, mas fechou em três meses por falta de passageiros. O retorno foi em janeiro deste ano. "Mudamos o quadro societário e reestruturamos a estratégia de atuação para ter um desempenho ágil, leve e de baixo custo", diz o diretor comercial Gilson Novo. Esses predicados permitiram que a companhia ganhasse um espaço para lá de tímido no mercado, de 0,1% no mês passado.

Do outro lado, Trip e Ocean têm outro foco. Fogem da concorrência ao servir cidades de porte médio, o que lhes permite trabalhar com tarifas mais altas. A prioridade da Trip Linhas Aéreas, por exemplo, é atender municípios de baixa e média densidade, em geral não atendidos pelas grandes companhias. "Essa política se tornou ainda mais compensadora a partir do momento em que unimos antigos mercados isolados que já atendíamos, dando mais opções dentro da nossa própria malha", diz o presidente José Mário Caprioli. A empresa começou a fazer vôos regulares em 1998, com aviões Brasília para 30 passageiros. Aos poucos a frota vem sendo substituída por aeronaves de maior capacidade – os ATRs para 50 e 70 passageiros (modelos 42 e 72, respectivamente) já somam oito unidades. "Trabalhando por custos baixos e racionalização de processos, possuímos uma estrutura enxuta e com tecnologia de ponta que permite tomadas de decisões rápidas e eficazes", diz Caprioli.

A Ocean, criada em 1998 como companhia de táxi aéreo, é a mais ambiciosa. Faz parte do grupo Synergy, que começou na área de petróleo, e agora controla a Avianca, da Colômbia, a Wayra, do Peru, e a Vip, do Equador. Até 2010, pretende ser líder em aviação civil na América do Sul. Segundo o presidente, Carlos Ebner, a empresa quer resgatar o "charme das empresas aéreas". "É um nicho deixado pela Varig. Tem muita gente que paga para ter conforto e simpatia à bordo." Por isso Ebner faz questão de ressaltar que a companhia não trabalha no conceito "low-cost, low-fare" (custo baixo e tarifa baixa). "Temos baixo custo, o que nos garante preço competitivo. Trabalhamos com administração do vôo para garantir a tarifa média. Ou seja, existem assentos mais baratos, mas sempre vai haver variação."

O xis da questão é o lucro. Webjet e Ocean admitem que ainda não saíram do vermelho. Num segmento de custos altíssimos, a história da Varig e de outras, como Vasp e Transbrasil, já mostrou que o destino de quem não faz a lição (financeira) de casa não é nem um pouco promissor.

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