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Cenários

Piora na crise dificulta estratégias

Rebaixamento de dívidas europeias torna nebuloso o futuro das aplicações. Gestora sugere reduzir investimento em ações

Operador na Bolsa de Madri: as altas de ontem em vários mercados não devem ser vistas como tendência, advertem especialistas | Andrea Comas/Reuters
Operador na Bolsa de Madri: as altas de ontem em vários mercados não devem ser vistas como tendência, advertem especialistas (Foto: Andrea Comas/Reuters)

Em uma única atualização, na sexta-feira, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s rebaixou as notas dadas a nove países da região do euro. A ação mexeu inclusive com a França, uma das economias mais fortes da região e apoio importante para todas as medidas de saneamento tomadas pelo Banco Central Europeu. Ontem, o movimento atingiu também o fundo de estabilização do continente. Os rebaixamentos indicam que a crise pode se acirrar, e levanta entre os observadores o temor de uma recessão global ao longo deste ano. Mas que reflexos ela pode trazer para os investimentos?

Os economistas apontam que os reflexos mais imediatos devem ser nas aplicações de renda variável, como a bolsa de valores. No pregão de ontem – o primeiro dia completo de negócios depois da divulgação do rebaixamento das nove nações –, os principais índices europeus fecharam no azul. "Eu esperava um impacto um pouco maior dessas notícias, mas acho que o mercado considerava que esses problemas já estavam incluídos no preço", diz Raul Ribas, consultor de investimentos na Diversinvest.

A bolsa brasileira, seguindo a tendência internacional, manteve a trajetória de alta ao longo do dia e o índice Ibovespa fechou em +1,37%. Por aqui, os investidores começaram o ano com uma boa dose de otimismo, que resultou, até ontem, em ganhos de 5,64% – nada mal para um negócio que perdeu 18,1% no ano passado.

Os reflexos em outras aplicações no mercado brasileiro vão depender do aprofundamento da crise. A variável chave, nesse caso, é a taxa de juros. O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reúne-se hoje e amanhã para definir como fica a taxa básica, a Selic. A expectativa geral é de uma nova redução – a quarta desde agosto de 2011. Nesse caso, fica reforçada uma tendência de ganhos em queda para a renda fixa, com boa possibilidade de ganhos na renda variável.

O que não dá para dizer é se essa primeira reação pode ser lida como uma tendência. "O médio e longo prazo estão bastante indefinidos", observa Fernando Fricks, também sócio da Diversinvest. Na dele, o ideal é não comprometer recursos no longo prazo, mas manter um grau de liquidez que permita mudar de posição caso o cenário exija. "Agora não é hora de ficar adivinhando nada", resume. "Qualquer otimismo deve ser de curto prazo."

A Inva Capital, empresa curitibana de gestão de recursos, divulgou na semana passada um relatório extraordinário tratando da questão europeia, em que recomenda aos investidores diminuir o valor aplicado em bolsa. Os especialistas da Inva definiram dois cenários para a crise. No primeiro (com 62,5% de chances de ocorrer, segundo os modelos usados no cálculo), a Europa supera seus problemas sem que nenhuma nação tenha de deixar de usar o euro. O segundo cenário, com 37,5% de chances, indica o colapso do euro e um calote na dívida de um ou mais países.

"Não sabemos qual dos dois cenários irá se concretizar", diz o documento. "Mas consideramos que as chances de acontecer algo ruim são grandes e como o Ibovespa está em 60 mil pontos – nível bom para se vender ações nas condições atuais – seria talvez um momento interessante para reduzir a exposição." Os economistas da Inva sugerem uma mudança na alocação de recursos, de modo que os investimentos em renda fixa somem 62% do capital do investidor.

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