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A dentista e consultora em tecnologia móvel Beatriz Kunze armazena mais de 300 obras nos dois aparelhos que possui, um Kindle e um Positivo Alfa. | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
A dentista e consultora em tecnologia móvel Beatriz Kunze armazena mais de 300 obras nos dois aparelhos que possui, um Kindle e um Positivo Alfa.| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Novo formato

Grupo de editoras investe R$ 2 milhões

A depender dos investimentos da cadeia produtiva do mercado editorial, os livros digitais devem começar a se tornar comuns ainda neste ano. Em junho, seis grandes editoras brasileiras (Objetiva e Record, Sextante, Intrínseca, Rocco e Planeta do Brasil) criaram a empresa DLD (Distribuidora de Livros Digitais). Com investimentos de R$ 2 milhões até 2011, a empresa vai autorar o catálogo dessas editoras, e também de outras editoras contratantes, para comercialização pelas redes varejistas.

O varejo também se movimenta. O grupo Livrarias Curitiba espera lançar ainda em novembro seu serviço de vendas de livros virtuais pela internet. A rede negocia com a DLD e com as editoras virtuais Xeriph e Simplíssimo.

Leitores

Os aparelhos de leitura também devem estar com ampla oferta até o final do ano. A Agência nacional de Telecomunicações (Anatel) liberou, no final de setembro, o uso e venda do iPad em território nacional. Com isso, o produto da norte-americana Apple já pode ser exportado para o Brasil.

A Positivo Informática lançou neste mês a segunda versão do seu leitor digital Alfa – agora com acesso à internet sem fio. O preço sugerido é de R$ 799.

Concorrência

Escritores veem canal de divulgação

Isolados no início da cadeia produtiva, os escritores podem ter no formato digital um canal amplificado para a divulgação de suas obras. "Mais do que isso, é uma oportunidade para que novas editoras surjam. Nada garante que as grandes editoras de hoje, que detém o poder sobre as publicações, sejam as mesmas vinculadoras destes novos meios. Nesse ponto, a criação da App Store (loja virtual da Apple, desenvolvedora do leitor eletrônico iPad) é um questão interessante", avalia o escritor Joca Reiners Terron, autor do romance Do fundo do poço se vê a lua (Companhia das Letras).

Terron acredita que a pirataria não deve se tornar a inimiga número um dos escritores, ao menos para os de ficção. "Literatura não é uma coisa rentável. Se a pirataria chegar a representar grande perda de receita, será apenas para os escritores de best-sellers e de autoajuda", estima.

Para o escritor e editor Rodrigo Lacerda, autor de Outra vida (Alfaguara), o tamanho do mercado editorial e as características do produto podem servir como desestimulante para a pirataria. "O risco sempre existe, mas não me parece que isso esteja acontecendo. Nesse sentido, o mercado editorial teve mais sorte do que o fonográfico. Até porque o mercado editorial é menor, tem um produto mais difícil de ser consumido, e tudo isso afasta um pouco a tentação da pirataria", afirma.

Para ele, os leitores digitais ainda carecem de convergência. "Eu ainda estou torcendo para termos uma só máquina que possa comprar de qualquer livraria virtual do mundo, sem, por exemplo, essa vinculação obrigatória Kindle-Amazon. Para o consumidor, acho que seria muito melhor. Do jeito que está, é como ter um tocador de DVD para cada disco DVD, dependendo do fabricante", compara.

Cópias ilegais só devem aumentar, diz especialista

"Tenho certeza que a situação só irá piorar", sentencia Carlos Mendonça, especialista em segurança digital, ao comentar o crescente número de downloads ilegais de livros digitais. Para o engenheiro, diretor da empresa DigiSign, que atua em proteção de conteúdo, apenas o uso de sistemas de codificação e criptografia atualizados, como os utilizados nas urnas eletrônicas, pode barrar a pirataria.

Leia a entrevista completa

Ao mesmo tempo em que iça suas velas rumo ao tesouro representado pelos livros digitais, o mercado editorial pode estar também navegando rumo a um maremoto que já sugou a indústria do disco e do cinema. A pirataria se tornou um risco inerente ao comércio de produtos culturais em formato digital, e a aventura está apenas começando para a setor livreiro.

Experiências anteriores, como as ocorridas nas indústrias fonográfica e cinematográfica, mostraram que a convergência no formato digital está diretamente relacionada a crises por perda de receita. O furo nos bolsos é provocado não somente pela venda de cópias ilegais em mídias gravadas, mas também (e cada vez mais) pela troca de arquivos feitas pela internet.

É um risco que as livrarias ainda não são capazes de precisar. Para as redes varejistas, os danos causados pela pirataria já acompanham o setor desde que as cópias xerox se disseminaram em universidades. Porém, a fotocópia ainda tem um custo marginal, além de ser um processo lento. Esse tipo de entrave desaparece com a digitalização, que permite ao usuário descarregar em seu leitor eletrônico centenas de obras em alguns minutos. "A pirataria não é uma exclusividade do setor cultural. Hoje, atinge até a indústria automobilística, e é muito difícil coibir. Não adianta usar um código de autoração complexo, pois não vai vender", afirma Sergio Herz, diretor de operações da Livraria Cultura.

Para evitar que o download de livros se torne uma terra de ninguém, Herz acredita contar apenas com o posicionamento do consumidor em relação ao desvio ético representado pela pirataria. "É uma questão a ser tratada com investimento em educação e não em tecnologias de segurança. A pessoa que lê, acho, é mais consciente das coisas. Não sei se a pirataria de livros vai atingir níveis semelhantes ao de CDs e filmes", expõe. Segundo estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Software (Abes), para cada CD ou DVD vendido legalmente no país, outros cinco piratas entram em circulação.

Leoni Cristina Pedri, diretora de varejo das Livrarias Curitiba, avalia que o comércio livreiro ainda tateia à procura do melhor modelo de negócio para os similares virtuais. "A demora em iniciar a ampla comercialização é, justamente, o medo da pirataria. Mas, acima de tudo, acreditamos que a nossa vocação é comercializar livros, seja qual for o formato que o cliente desejar", ressalta.

Crescimento

Em julho, a loja virtual norte-americana Amazon surpreendeu o mercado editorial ao divulgar que, no segundo trimestre deste ano, a venda de livros digitais superou a de livros em papel. Para cada 100 obras em formato tradicional, outras 143 são vendidas em versões para o leitor eletrônico Kindle.

No Brasil, este mercado ainda engatinha. A Livraria Cultura foi uma das primeiras no Brasil a iniciar as operações de vendas de livros digitais. Desde abril deste ano, o site da livraria oferece 120 mil títulos em formato digital, mas apenas 1% é em português. Na avaliação dos livreiros, a demanda brasileira – ainda incipiente – deve aumentar consideravelmente com a chegada dos leitores eletrônicos ao mercado nacional. O iPad, da Apple, deve chegar ao mercado brasileiro até o fim do ano. "É cedo para falar em números, mas atualmente temos um crescimento de 30% a 40% ao mês na venda de livros digitais. No Brasil, existe uma demanda reprimida por leitura a ser explorada", avalia Herz.

Na vanguarda

A dentista curitibana Beatriz Kun­ze, que também é consultora em tec­­nologia móvel, possui dois leitores eletrônicos: um Kindle e um Positivo Alfa, nos quais armazena cerca de 300 obras. Ela avalia que, por causa da praticidade e do estímulo tecnológico, passou a ler com mais frequência. "Deixo o apa­­relho na bolsa e, sempre que dá tempo, ligo e leio um pouco", conta.

Entretanto, Beatriz também encontrou desvantagens na leitura virtual: "Os livros técnicos, quando tem muitos gráficos, se tornam difíceis de ler porque a tela é pequena. Por isso, quero também comprar um iPad, que não tem este problema", almeja.

O economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, encontrou também nos leitores digitais uma forma de ter acesso mais fácil a obras não publicadas no Brasil. "A Amazon tem um catálogo de livros de negócios imenso. Você não consegue nem ler a lista completa", relata.

Pio Martins avalia que as condições de leitura e o conforto para os olhos, em um Kindle, é semelhante ao do papel impresso. "O que se perde é a referência de se ter duas páginas diante de seus olhos", pondera.

Para Leoni Pedri, das Livrarias Curitiba, a disseminação dos livros digitais vai propiciar a amplificação do mercado consumidor. Como o preço da versão eletrônica de uma obra custa entre 25% a 75% menos que a edição em papel, somado à atratividade causada pela novidade tecnológica, as obras tendem a ter alcance maior entre os consumidores.

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