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A soja, que durante décadas foi protagonista na movimentação de cargas do Porto de Paranaguá, se tornou nos últimos anos mera coadjuvante nos embarques marítimos a partir do Paraná. A participação do complexo soja no volume embarcado pelo porto, estimado pela atual administração em 80% do total na década de 1970, não deve passar dos 35% neste ano, mesmo com a expectativa de safra recorde e a demanda internacional pelo grão aquecida. No ano passado, com a quebra da safra, essa participação não chegou nem aos 28%. A mudança de perfil, de porto graneleiro para porto multicargas, também decorre das restrições à soja transgênica, impostas até o ano passado pela Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa).

As exportações de soja em grão do Brasil mais que duplicaram entre 2000 e 2006, passando de 11,5 milhões para 24,9 milhões de toneladas, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio. No mesmo período, as exportações do produto via Paranaguá fizeram o caminho inverso, recuando 10% – para cerca de 4 milhões de toneladas no ano passado. Já o escoamento via Santos (SP) e São Francisco do Sul (SC) progrediu bastante: passou de 2,9 milhões para 6,9 milhões de toneladas no porto paulista, e de 262 mil para 3 milhões de toneladas em Santa Catarina.

O escoamento da soja de Mato Grosso, principal produtor nacional, ilustra bem esse quadro. A exportação mato-grossense passou de 2,8 milhões para 9,9 milhões de toneladas entre 2000 e 2006. No porto paranaense, a soja de Mato Grosso teve crescimento de apenas 1,7 vez no período. Em Santos, o crescimento foi de 3,7 vezes e em São Francisco do Sul, 13,4 vezes.

De acordo com o operador de mesa da corretora Centrogrãos, da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso (Famato), Demilson Torres, a redução é conseqüência da dificuldade de escoar a soja transgênica – que corresponde à metade da produção mato-grossense – por Paranaguá. O porto só passou a exportar o grão geneticamente modificado em abril do ano passado, por força de decisão judicial. O embarque ainda ficou prejudicado por alguns meses, já que a Appa havia destinado apenas um berço para o produto. Esse quadro de incerteza assustou exportadores e importadores, na avaliação de Torres.

Sucesso em contêineres

O baixo desempenho da soja em grão em Paranaguá contrasta com o resto das operações. O volume embarcado entre 2000 e 2006 cresceu 75%, de 12,5 milhões de toneladas, para 21,9 milhões. A receita cambial triplicou, chegando a US$ 9 bilhões. As cargas que mais contribuíram para esse resultado foram veículos e contêineres – pelos quais são exportados vários produtos, desde frutas até equipamentos mecânicos. As exportações de automóveis cresceram 33,8%, e as de contêineres, 95,4%. "Essa transformação do porto, dando ênfase às cargas conteinerizadas, é extremamente importante", diz o coordenador de logística da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Mário Stamm. "A multifuncionalidade de Paranaguá deve ser explorada", afirma.

A mudança de perfil decorre também da própria transformação vivida pelo Paraná, explica o coordenador do curso de economia da Unifae, Gilmar Lourenço. "A diversificação industrial ocorrida de 1995 para cá forçou o estado a adequar sua infra-estrutura a um novo perfil econômico. Mas o porto não conseguiu acompanhar totalmente a mudança", diz. Segundo ele, a Appa deveria ter uma gestão mais moderna, mais enxuta e mais ágil. "A administração não precisa deixar de ser pública, mas precisa utilizar princípios gerenciais contemporâneos."

A Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), uma das principais exportadoras do complexo soja, não vê pro-blemas na diversificação de cargas do porto, desde que a Appa continue dando atenção ao setor graneleiro. "É importante o porto diversificar suas atividades para diluir riscos", diz o assessor técnico e econômico da entidade, Robson Mafioletti.

O economista Luiz Antônio Fayet, crítico da atual gestão de Eduardo Requião à frente da Appa, diz que o Porto de Paranaguá está muito aquém do que poderia estar. "O porto só não parou de crescer por causa do pólo automotivo paranaense e porque o Brasil cresceu", dispara. Segundo ele, Paranaguá teria condições de movimentar cerca de 15 milhões de toneladas do complexo soja ao mesmo tempo em que diversifica suas cargas. A esse coro junta-se a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Paranaguá (Aciap), que inclusive defende a intervenção federal no Porto de Paranaguá.

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