A difusão em massa da tecnologia de baixo custo e da conectividade barata ajuda empresas a se tornarem mais eficientes e produtivas
Caso você não tenha percebido, a economia hoje nos Estados Unidos está sendo atingida ao mesmo tempo por dois tsunamis: A Grande Recessão e a Grande Inflexão.
A Grande Inflexão é a difusão em massa das tecnologias de inovação de baixo custo de computadores de mão a sites que oferecem qualquer serviço imaginável e conectividade barata. Essas tecnologias estão transformando o mundo dos negócios. Com relação à Grande Recessão, você já sabe bem como ela funciona. A "boa notícia" é que a Grande Recessão está forçando empresas a tirar vantagens da Grande Inflexão numa velocidade jamais vista, a fim de se tornarem mais inovadoras. A má notícia é que os mercados de crédito e empréstimos bancários ainda estão retraídos, visto que muitas empresas ainda não conseguiram retomar os ganhos com a produtividade e gerar os empregos que tanto precisamos.
Dois exemplos, um grande e outro pequeno. O primeiro vem do meu amigo de infância, Ken Greer, dono da Greer & Associates, uma agência de marketing em Minneapolis. A Grande Recessão fez com que ele reduzisse o tamanho de sua empresa, mas a Grande Inflexão fez com que ele, em contrapartida, se tornasse muito mais produtivo. Ele ilustrou isso me contando sobre um filme que recentemente produziu para uma organização sem fins lucrativos.
"O orçamento foi cerca de 20% do que nós normalmente cobraríamos. Após a primeira reunião com o cliente, todas as nossas comunicações foram feitas via email. O roteiro foi escrito e aprovado utilizando de uma ferramenta fornecida pelo site www.box.net. Internamente, todos podiam ter acesso ao roteiro não importava onde estivéssemos. Pudemos fazer sugestões e chegar à versão final com plena transparência de maneira fácil, conveniente e sem custo algum. Não tínhamos verba para rodar uma nova filmagem, muito menos para estocar as fotografias à moda antiga pagando royalties de cem a 2 mil dólares por imagem. Encontramos uma fonte, istockphoto.com, que oferece fotos ótimas por um preço mais acessível", conta Greer.
"Nós podíamos facilmente pré-visualizar todas as imagens, colocá-las no nosso programa e ter certeza que elas funcionavam, comprá-las online e fazer o download das versões em alta-resolução tudo isto em questão de segundos", complementou.
"Tínhamos um roteiro que pedia 4 ou 5 narradores. Ao invés de buscar por talentos vocais no mercado local pagando cerca de 250,00 a 500,00 dólares por hora nós fizemos uma busca na Internet por narrações de alta-qualidade a um preço que pudéssemos pagar. Achamos vários sites oferecendo todo o tipo de narrações ou dublagens. Escolhemos o www.voices.com. Em menos de um minuto, tínhamos mais de 15 candidatos, todos cobrando menos do que haveríamos pago no mercado local. A melhor parte é que em uma questão de minutos já tínhamos em mãos provas de leitura, que puderam ser aplicadas no filme para ver se as vozes eram adequadas. Selecionamos os finalistas,enviamos instruções mais específicas a eles e dentro de algumas horas já tínhamos a narração final em formato mp3 enviada via Web. Neste site podemos escolher qualquer sotaque ou raça que quisermos. Já para a trilha sonora, utilizamos o site www.audiojungle.net, onde podemos pegar várias amostras de trilhas e efeitos sonoros com o clique do mouse e então comprá-las por centavos", conta.
Ao ter acesso a todas estas ferramentas baratas, Greer teve de se concentrar na sua maior fonte de valor agregado: a própria imaginação. O cliente, em contrapartida, recebe um produto melhor, pagando menos. O problema é que não se criaram empregos nesse processo. Para isso, é preciso que a economia retome seu crescimento. "Se conseguíssemos emprestar um tostão sequer para investir, conseguiríamos azeitar as engrenagens", comentou Greer.
Farooq Kathwari, presidente da Ethan Allen Interiors, teve de acelerar a re-invenção de sua empresa pelos mesmos motivos. No ano passado, ele reduziu seu quadro de funcionários em 25%, consolidou várias fábricas nos EUA, o que incluiu transportar toda a sua fabricação de estofados para um estabelecimento especializado no estado da Carolina do Norte, o que permitiu a Ethan Allen a reduzir substancialmente seu tempo de produção.
"Cinco anos atrás, era necessário cerca de vinte horas de trabalho para se obter um sofá de alta-qualidade. Hoje em dia, devido aos nossos investimentos em tecnologia e redução de mão-de-obra, que ficou mais qualificada, o tempo de fabricação deste sofá é de cerca de três horas", conta Kathawari.
Sempre que pode, o empresário diz que aplica tecnologia para reduzir custos e melhorar a qualidade de seus produtos a fim de manter sua competitividade no mercado mundial. Isto faz com que a Ethan Allen lucre o suficiente para continuar existindo.
"Produzimos hoje toda a nossa publicidade aqui mesmo na empresa, mesmo os comerciais televisivos, pagando uma fração do que pagávamos há alguns anos assim como o nosso amigo está fazendo. Nossos funcionários que a re-invenção é vital para nossa sobrevivência", confessou Kathwari.
Visto seu novo modo operacional hiper-eficiente, qualquer aumento de demanda faria com que a Ethan Allen melhorasse a lucratividade e voltasse a contratar, mas, para isto, é necessário que os mercados de crédito afrouxem suas políticas de concessão. De acordo com Kathwari, "O crédito é ainda um assunto vital, e isso não ocorre nos níveis mais elementares, ou, quando ocorre, é muito caro".
Tempos estranhos: A Grande Recessão e a Grande Inflexão estão forçando as empresas a serem super enxutas, inovadoras e produtivas. Todavia, com o crédito ainda escasso, elas viram uma espécie de estrela do atletismo com um problema cardíaco. Precisamos fazer o crédito voltar a pulsar nas veias de nossas indústrias.
Tradução: Thiago Ferreira



