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Hong Kong

Acordo salva encontro da OMC do fracasso total

Após muita incerteza em Hong Kong, países liderados pelo Brasil conseguem marcar data para fim de subsídios agrícolas

Depois de uma semana de incertezas e ceticismo, os 150 países associados à Organização Mundial do Comércio (OMC), reunidos em Hong Kong, aprovaram neste domingo uma data-limite para o desaparecimento total dos subsídios às exportações agrícolas. Isso terá de acontecer até 2013, mas a declaração final diz que, na metade do período de implementação, por volta de 2010, parte das subvenções estarão substancialmente eliminadas.

A decisão foi tomada após uma reunião que atravessou a madrugada e que teve como ponto forte o isolamento da União Européia. Os principais membros da OMC começaram a discutir a declaração final às 22h de sábado e terminaram às 9h de domingo. Segundo uma fonte que participou das conversas, enquanto temas como apoio doméstico, bens industrializados, acesso a mercados e serviços foram adiados para o ano que vem, a proposta do G-20, liderado por Brasil e Índia, ganhou um acalorado debate.

Brasil e Índia sugeriram o ano de 2013, com parte considerável dos subsídios eliminados na metade do período acordado. Tiveram apoio do diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, dos Estados Unidos, da Austrália e da África do Sul. A UE acabou concordando.

- Peter Mandelson (comissário europeu de comércio ) foi obrigado a aceitar a proposta, para fugir do isolamento - disse essa fonte.

Convicto de que a única forma de salvar a reunião de Hong Kong de um fracasso total seria o compromisso de 150 países com uma data para o fim dos subsídios às exportações, o Brasil e os demais integrantes do G-20 usaram como tática a formação de alianças com outros países em desenvolvimento e com as nações menos desenvolvidas, como os africanos e os caribenhos. Mesmo assim, encontraram resistência dos europeus até o último momento.

O texto aprovado neste domingo também joga para 2006 as negociações da Rodada de Doha, iniciada em 2001 para liberalizar o comércio mundial. Ficou também para o ano que vem o fim dos subsídios ao algodão, um tema sensível aos Estados Unidos e uma reivindicação antiga dos países em desenvolvimento.

A carta de Hong Kong pede de maneira explícita que os negociadores assegurem o mesmo nível de acesso a produtos industriais e agrícolas em seus mercados, uma das exigências do G-20.

Antes do anúncio da declaraçaço final, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, dissera ter sido autorizado pelos países em desenvolvimento do G-20 para aceitar as propostas feitas para a agricultura:

- Creio que podemos classificar o documento como modesto, mas não é insignificante - disse o chanceler numa entrevista coletiva. -É um compromisso justo.

Por sua vez, o comissário europeu do comércio, Peter Mandelson, disse que o compromisso de pôr fim aos subsídios às exportações agrícolas em 2013 é aceitável. Ressaltando que o texto "não é um verdadeiro sucesso", o comissário europeu afirmou na entrevista coletiva:

- O texto é aceitável. É suficiente para salvar (a reunião de Hong Kong) do fracasso.

Já a ONG Oxfam condenou o texto: "A proposta que surgiu após uma noite de negociações mostra que os interesses dos países mais ricos se sobrepõem aos das nações em desenvolvimento e não proporciona as reformas de que os países pobres precisam", diz a ONG num comunicado à imprensa. A Oxfam classificou o texto de profundamente decepcionante. E prossegue: "É uma traição às promessas feitas aos países em desenvolvimento".

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