• Carregando...
Juliana Zandoná entrou na construtora Laguna como estagiária e hoje coordena um setor importante da empresa | Antônio More/Gazeta do Povo
Juliana Zandoná entrou na construtora Laguna como estagiária e hoje coordena um setor importante da empresa| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Quando entrou na construtora Laguna para fazer um estágio em engenharia civil, Juliana Zandoná, 26 anos, encarou a oportunidade como uma missão. Com foco na carreira que sonhava construir, buscou aprender ao máximo e se dedicou para ser tão competente quanto os líderes que a inspiravam. “Eu não me enxergava apenas como estagiária, me via como futura engenheira”, lembra.

A Laguna acompanhou de perto o empenho o da jovem, chegando a dar apoio para que ela realizasse uma pós-graduação. Em dois anos, a Juliana foi efetivada e hoje ocupa um dos cargos de coordenação mais importantes da construtora. Ponto para a moça, que encontrou oportunidades de crescimento. Ponto para a empresa, que agora colhe os bons rendimentos de uma profissional bem formada.

Embora em muitas companhias o estagiário ainda seja colocado em segundo plano e receba funções simples e salários baixos, esta visão tem mudado em muitas organizações e uma nova perspectiva de valorização se reflete em aspectos que perpassam pontos como a atenção dada aos novos talentos, o preparo dos jovens, a remuneração e os benefícios. Uma pesquisa realizada pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (NUBE), por exemplo, mostrou que a média da bolsa oferecida aos estudantes chegou a crescer 12,8% em um ano.

Segundo o Estudo Bolsa Estágio, desenvolvido pela consultoria Carreira Muller, 35 % das empresas concedem plano médico integral a estes jovens e 50% delas corrigem anualmente o valor do pagamento com base em pesquisas de mercado.

Formação de líderes

Atenções assim ajudam grandes companhias a formarem bons quadros de lideranças. Um levantamento da consultoria Page Talent aponta que 73% dos profissionais em cargos de direção no mercado iniciaram suas carreiras como estagiários. Quase todos os consultados pela pesquisa (93%) afirmaram que a experiência adquirida no estágio foi fundamental para o desenvolvimento de suas carreiras.

Tamanho da empresa não é desculpa

É mito dizer que apenas grandes corporações podem dar suporte para oferecer boas condições e treinamentos de estágio. Com 55 funcionários, a Daiken Elevadores, de Colombo, por exemplo, mantém cinco estagiários com bolsa acima da média de mercado e os mesmos benefícios dos funcionários de regime CLT, como vales transporte e refeição, férias, almoço em restaurante corporativo e participação nos lucros e resultados. O diretor comercial, Fabrício Serbake, conta que a organização sempre teve essa cultura de olhar para quem está começando Não por acaso, Fabrício entrou na empresa para fazer estágio e atualmente é um dos sócios. “Quando cheguei, tudo aqui era menor e eu cresci junto com esse lugar”, lembra. O diretor geral, Osmar Yamawaki, acrescenta que os aprendizes precisam ter brilho nos olhos e amor pelo que fazem. “Assim, fica mais fácil se desenvolver”, diz.

O consultor da ESIC Business & Marketing School, Alexandre Weiler, avalia que a oferta de uma estrutura de crescimento e valorização do estagiário só rende bons frutos às organizações. Segundo o especialista, com políticas inteligentes é possível treinar gente com potencial e ainda reciclar a empresa com as novidades trazidas pela juventude.

Alexandre lembra que, embora ainda seja comum ver companhias utilizando o estágio como mão de obra barata e operacional sem que isso envolva um programa de retenção e preparo a longo prazo, a implantação de propostas para habilitar e reconhecer aprendizes tem sido comum e eficaz. “Costumo brincar que a empresa que utiliza seu estagiário como ‘escravagiário’ está perdendo tempo. Se ela não cuida bem dos seus talentos, o mercado se encarrega de levá-los embora”.

Um dos exemplos de bons programas de estágio é a própria Laguna. Segundo a coordenadora de desenvolvimento de processos e pessoas, Gabrielle Garcia Balthazar, a construtora submete seus estagiários a treinamentos constantes, metas individuais e coletivas, sistemas de avaliação e oferece, além da bolsa-estágio, vale transporte, vale alimentação e um salário a mais no fim do ano. Desta forma, a empresa consegue reter a maior parte dos estudantes, como aconteceu com Juliana. “ Desenvolvemos nossos talentos e não queremos perdê-los para outras empresas”, salienta.

Exigências do mercado

De acordo com Juliana Fabri Losso, coordenadora de contratos de estágio do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE-PR), em média, 62% dos estagiários são efetivados pelas companhias. Nesse contexto, as demandas das organizações também precisam ser levadas em conta. Juliana enfatiza que aspectos como comprometimento, proatividade e interesse nos processos operacionais do setor são características que destacam o novato.

Outra pesquisa do Nube, que avaliou os pré-requisitos de 913 vagas para quem cursava nível superior, mostrou que, na hora da seleção, o potencial de trabalho em equipe é o ponto mais valorizado pelos setores de recursos humanos, sendo citado por 67,9% dos recrutadores. 63,7% buscam gente com iniciativa e 54,5% com boa comunicabilidade.

A coach Cibele Nardi reforça que o estágio é o momento para o estudante trabalhar e mostrar seus principais potenciais. Não apenas no intuito de obter uma efetivação, mas também de construir uma vivência que enriqueça seu repertório e currículo. “A cereja do bolo neste período é fazer mais do que esperam de você”, aconselha.

Impactos sobre os números

Especialistas garantem que ouvir e dar voz aos estagiários ajuda companhias a crescerem sob diversos aspectos. Que o diga a startup Ecommet, de São Paulo. Depois de entregar a dois estudantes a missão de avaliar cada processo da organização e propor melhorias, seu faturamento aumentou 20% em apenas três meses. Segundo o CEO, Frederico Flores, os jovens foram selecionados para a função e trouxeram um novo olhar para a empresa, com ideias frescas e inteligentes. A credibilidade dada a eles foi tanta que os dois passaram a ter acesso a informações sigilosas e um papel crucial nas tomadas de decisões da diretoria.

O estudante de engenharia naval na Universidade de São Paulo (USP), Fabricio Montera, 22 anos, foi um dos escolhidos pela Ecommet e conta estar gostando muito da experiência, sobretudo, por poder conhecer a organização em âmbito geral e entender cada processo dela. Ele diz ter um bom acompanhamento de seus líderes e que a autonomia e confiança que recebe é um fator que o incentiva muito a dar seu melhor.

Frederico adianta que os dois estagiários serão efetivados após concluírem seis meses de casa.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]