
Os brasileiros que fundam startups novíssimas empresas que apostam em negócios de risco, frequentemente na área de tecnologia vivem o sonho de se transformarem em Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook que, aos 27 anos, comanda uma rede social avaliada em US$ 100 bilhões. Mas esses mesmos jovens se defrontam a cada dia com o despreparo e a falta de recursos para a expansão dos negócios. Sonham erguer impérios, mas penam para atrair capital. As conclusões são de uma recente pesquisa on-line feita com 165 startups nacionais.
De acordo com a consultoria Luz Geração Empreendedora, que conduziu o estudo, 43% dos empreendedores que responderam às perguntas acham que seu negócio nasceu para valer milhões em pouco tempo. A independência está no florescimento de jovens empresas que nasceram sem o empurrão de incubadoras ou aceleradoras: no universo alcançado pela pesquisa, 73% das companhias se enquadraram nesta categoria. "O percentual é alto e mostra que existe um movimento empreendedor que está extrapolando os limites das incubadoras, uma prova de que o brasileiro já vê o empreendedorismo como opção de vida, mesmo quando não há incentivo. Há cinco anos, quase todas saíam de incubadoras", observou Daniel Pereira, sócio-diretor da Luz, acrescentando que, em 58% das empresas, o fundador informou se dedicar exclusivamente à startup. "O empreendedor está mais confiante no sucesso do negócio, abandonando o seu emprego para viver em tempo integral sua start-up."
Em 2009, depois que a crise financeira deprimiu a Europa, o sociólogo Thiago Fontes decidiu deixar em Londres uma carreira de cinco anos na área de desenvolvimento de produtos nesse tempo, teve como clientes gigantes como Unilever e Coca-Cola e voltar ao Brasil. Na semana que passou, aos 29 anos, ele lançou o resultado desta aposta: a Kioos, uma plataforma para ajudar portais de internet a engajar seus usuários por meio do conceito de "gameficação" (que envolve ferramentas como sistema de reputação, compartilhamento em redes sociais e jogos sociais).
A empresa foi desenvolvida com o sócio Alessandro Giannone, que conheceu em Londres, onde ele era gerente da companhia de tecnologia Accenture. Os dois dedicam todo seu tempo à startup e não contaram com apoio externo para a criação do negócio. Eles tampouco buscam investimento-anjo, pois desejam antes conhecer melhor o mercado e preferem não diluir sua participação acionária tão cedo. "Dependendo do estágio em que você está, a incubadora é extremamente útil. Mas nós dois já tínhamos quebrado bastante a cara na vida e achávamos que a melhor maneira de aprender a tocar uma start-up era criando uma startup", afirmou Fontes, que diz já ter três empresas como clientes durante a fase de testes.
Roberto Riccio, 23 anos, acaba de lançar com um sócio um site que agrega opiniões de internautas sobre lugares e estabelecimentos do Rio, o Glio.com (ainda exclusivo para convidados). Ele diz ter investido com o colega R$ 35 mil próprios, mas ainda não conseguiram os mais de R$ 200 mil que cobiçam de algum investidor-anjo. O dinheiro é necessário porque o site ainda não tem fonte de receitas. Mas Riccio, que acha que o negócio tem chances de se tornar milionário em breve, não se mostra muito preocupado. "É legal ter oportunidade de retorno financeiro, mas o trabalho no cotidiano de uma startup, a chance de fazer a diferença e ter controle sobre sua vida profissional são muito mais recompensadores", disse Riccio, que já havia criado um site sobre pôquer on-line, paixão que abandonou para concluir o curso de Administração na PUC-Rio e abrir a empresa.
Rodrigo Carvalho, coordenador do curso de Economia Criativa da ESPM-RJ, acha que o percentual de empresas sem financiamento encontrado pela pesquisa está muito aquém da realidade. Em sua avaliação, cerca de 70% das start-ups não conseguem capital. E o grande motivo não é falta de dinheiro. "O que falta, de verdade, são bons projetos. A fase de escassez de recursos já foi superada. Hoje, há diversos fundos de investimento interessados em startups. Até o BNDES tem um um, o Creditec, com patrimônio de R$ 100 milhões", disse Carvalho, que criticou a abrangência limitada e a metodologia da pesquisa.




