Os brasileiros que tinham poupança em 1987 têm pouco mais de um mês até 31 de maio para tentar reaver eventuais diferenças de rendimento ocasionadas pelo Plano Bresser, que entrou em vigor em junho daquele ano. Caso o poupador não peça o resgate, o valor será incorporado ao patrimônio do banco a partir de 1.º de junho. A dificuldade para conseguir os extratos da época, no entanto, pode fazer com que seja justamente este o destino de boa parte dos R$ 1,9 bilhão que, estima-se, esteja à espera dos proprietários.
Para requerer a diferença, explica o consultor jurídico do Instituto de Defesa dos Direitos Sociais (IDS), Paulo Zancaneli, é fundamental que o poupador peça no banco um extrato da época. "É através dele que a pessoa poderá verificar se tem algo a receber e quanto." Porém, muita gente está com dificuldade para conseguir o documento, já que se trata de contas antigas, que em muitos casos foram fechadas.
A professora aposentada Ione Zago conta que, mesmo sendo correntista até hoje, precisou brigar muito na Caixa Econômica Federal (CEF) para conseguir o seu extrato. "Os atendentes não tinham informações precisas e chegaram até a dizer que não tinham obrigação de saber", reclama. "Consegui o documento depois de muita reclamação."
O assessor de comunicação Valmir Denardin não teve a mesma sorte. Ele diz que a conta foi encerrada há muitos anos e, por isso, não tem mais o número. "Fiz o pedido com o meu nome e o CPF, mas o banco, de cara, já cria uma série de empecilhos." Segundo o assessor, a gerente do banco informou que só é possível fazer o pedido com o número da conta. "Não tenho outra forma, a não ser no próprio banco, de conseguir esse número."
A Caixa Econômica Federal informou, por meio da assessoria de imprensa, que está buscando atender todos os pedidos e que foi a partir dessa semana que a demanda pelos extratos cresceu. Por isso, as regionais estão recebendo orientações de como proceder.
A orientação do banco para quem quer fazer o pedido é comparecer à agência com o número da conta para agilizar o processo. Ainda assim, a assessoria informou que a pesquisa também será feita por nomes e CPFs. Porém, isto pode atrasar a resposta, já que naquela época não era obrigatória a apresentação do documento para abertura de conta.
A assessoria de imprensa do Banco Central informou que não tem um levantamento das poupanças daquela época e, por isso, não sabe informar quantos correntistas têm direito à diferença. O BC informou também que a busca dos extratos depende do sistema de controle de cada banco.
O consultor jurídico do IDS, no entanto, lembra que os bancos são obrigados a fornecer os extratos, mesmo para aqueles que não têm mais o número da conta. Zancaneli lembra que o pedido também pode ser feito por herdeiros. "Se houver diferença a receber, o herdeiro legal ou o administrador do espólio podem fazer o requerimento."
Para quem tinha poupança em bancos que não existem mais, o consultor sugere checar o destino da instituição. "Se o banco foi vendido, ele pode fazer o pedido a quem o adquiriu." É o caso, por exemplo, do Itaú, que está respondendo pelas contas do antigo Banestado. O mesmo deve acontecer com o HSBC em relação ao Bamerindus. Já se o banco faliu, Zancaneli diz que a solicitação do extrato deve ser feita ao liquidante. É o caso do Banco Econômico.



