Começa a chegar ao Brasil um conceito que pretende abalar a estrutura da construção civil nacional: o de "edifícios verdes", construções ecologicamente corretas, planejadas para reduzir o desperdício de energia, minimizar o impacto sócio-ambiental da atividade e garantir unidades habitacionais sustentáveis. Forte nos Estados Unidos e na Europa, a idéia da sustentabilidade na construção civil ainda engatinha no país. No Paraná existem experiências na redução e reciclagem de resíduos de obras e uma lei sobre coleta e armazenagem de água da chuva pontos que fazem parte do conceito de edifício verde. Os projetos costumam custar um pouco mais caro do que o normal, mas se pagam ao longo do tempo pela economia em energia que oferecem.
O tema está em ascensão nas discussões do meio, e conseguiu reunir em Curitiba na semana passada cerca de 150 profissionais para a palestra do engenheiro canadense Claude Ouimet, vice-presidente da empresa norte-americana de carpetes Interface Flor e especialista no assunto. Ouimet expôs idéias bem-sucedidas de biomimetização, processo que se inspira nas soluções criadas pela natureza, que podem também ser implantadas na construção civil. A visita do engenheiro Ouimet ao Brasil ele falou sobre o mesmo tema no Rio, São Paulo e Brasília também deu impulso aos debates em torno da criação do Conselho Brasileiro de Edifícios Sustentáveis, que deve entrar em operação ainda neste semestre.
Um exemplo citado por ele traduziu o espírito do novo conceito: "No Zimbábue, um arquiteto estudou um cupinzeiro, cujos habitantes não sobrevivem a grandes variações de temperatura, comuns no local onde estão. Mas então como eles vivem? O arquiteto descobriu que dentro do cupinzeiro a temperatura era sempre a mesma, por causa de um sistema de ventilação natural, e projetou um prédio usando a mesma idéia". Ouimet se referia ao edifício Eastgate, construído em Harare, capital do Zimbábue, que usa apenas 10% da energia consumida por um edifício de mesmo porte. O projeto é do arquiteto Michael Pearce, especialista no desenvolvimento de edifícios que utilizam sistemas de climatização com energia renovável e que têm baixo custo de manutenção e operação.
Segundo o arquiteto e urbanista de Curitiba Roberto Sabatella Adam, autor do livro "Princípios do Ecoedifício: Interação entre Ecologia, Consciência e Edifício", o conceito de edifício verde compreende uma visão "espiritual" da ocupação do espaço. "Os ambientes que estamos criando devem gerar qualidade de vida, e por isso devem ter espaço para horta, árvores frutíferas e ervas medicinais. Além disso, existem propostas de aumentar a cooperação entre os vizinhos, com áreas de uso coletivo."
Preocupação
Para o arquiteto Flávio Appel Schiavon, o Paraná não tem edifícios verdes nem no papel, mas alguns recursos já são aplicados. "Tentamos reduzir o uso de materiais muito agressivos à saúde, como o amianto em paredes, e diminuir a quantidade de resíduos das construções." O próprio Schiavon implantou em um projeto seu a idéia de aumentar a iluminação natural. O prédio Evolution Corporate, no bairro Batel, em Curitiba, tem um vão central sob uma cúpula, o que permite a entrada da luz solar e favorece a passagem de correntes de ar interno, para garantir conforto térmico.
A economia de energia é especialmente útil em um país que vive sob o fantasma do apagão. Conforme levantamento da Eletrobrás, os edifícios comerciais e residenciais são responsáveis por 48% do consumo de energia elétrica no Brasil. Esse número poderia baixar, porque o potencial de conservação de energia em prédios já construídos chega a 30%. Nos novos é de 50%.
Outro arquiteto de Curitiba interessado no conceito de prédios verdes, Waldeny Fiúza, diz que há uma tendência de minimizar o impacto ambiental das obras, mas tudo esbarra no custo inicial. "Até a implantação de painéis solares para aquecimento de água, que é bem difundida, sofre resistência dos clientes. Nós sabemos que o retorno do investimento vem em três anos, o que é muito pouco para um edifício, mas os clientes não gostam", diz. Segundo levantamento do USGBC, os prédios verdes geralmente custam de 2,5% a 7% a mais do que os convecionais. No caso da reserva de água da chuva, no entanto, a idéia já é mais difundida. "Na minha casa, finalizada recentemente, coloquei um reservatório com capacidade para 5 mil litros", conta Fiúza.



