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Ações das empresas de tecnologia em período de queda | Drew Angerer/AFP
Ações das empresas de tecnologia em período de queda| Foto: Drew Angerer/AFP

Na segunda sessão seguida em queda, os principais indicadores da Bolsa de Nova York zeraram seus ganhos do ano, nesta terça-feira (20). Para muitos analistas, não foi somente um dia ruim no mercado financeiro. Mas sinais de que uma desaceleração global da economia pode estar por vir, pressionada pela guerra comercial entre Estados Unidos e China, e pela pressão que sofre o setor de tecnologia, principalmente nos EUA.

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As principais empresas do setor, como Apple e Facebook, lideram as quedas das últimas semanas. Em Wall Street, os investidores tentam entender se é só um reajuste de preços temporário, ou se é um sinal de vulnerabilidade mais profunda. Na pior das hipóteses, é sinal de que a economia global pode enfrentar dificuldades graves, no próximo período.

“As ações das empresas de tecnologia vinham sendo comercializadas a valores muitos altos, em uma situação perfeita para as companhias”, avalia Ivan Feinseth, analista-chefe do escritório de investimentos Tigress Financial Partners, nos Estados Unidos. “Todo mundo comprou. A partir do momento em que ocorreram alguns percalços nesta curva de crescimento, todo mundo pulou fora do barco ao mesmo tempo”.

Muitos analistas acreditam que o setor de tecnologia está numa espiral decrescente, em um mercado que enfrenta uma série de ameaças, inclusive uma alta taxa de interesse, o dólar muito forte, a guerra comercial e tarifária com a China, previsões mais amenas para 2019 e uma Câmara de deputados dominada por democratas, que pode ser mais impositiva com os negócios.

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Por trás das questões pontuais que atingem cada setor, há uma conjuntura macroeconômica que inspira preocupação. Muitos analistas já começam a ver sinais de uma desaceleração econômica global e temem o impacto disso nos mercados acionários globais.

“Os investidores têm expressado cautela com uma desaceleração do crescimento global e com as incertezas cercando a disputa de tarifas entre Estados Unidos e China”, diz Krosby. Na conta entra ainda a expectativa com novos aumentos de juros nos Estados Unidos em 2019 --além da alta já prevista para dezembro.

Com as taxas dos títulos de dívida americanos mais atrativas, muitos preferem recorrer a eles, mais seguros, em vez de se arriscar nos turbulentos mercados acionários.

“Há um movimento de empresas preocupadas com a incerteza à frente e que reduziram seus planos de investimento enquanto esperam para ver como as coisas vão se desenvolver”, diz a estrategista-chefe de mercados da Prudential.

O inferno das empresas de tecnologia

O Facebook já caiu 39% em relação ao seu auge, o que representa uma perda de cerca de US$ 250 bilhões (quase R$ 1 trilhão) em valor de mercado. A Amazon caiu 25%. A Apple, 20%. A queda da Netflix é de 36% e a do Google, de cerca de 20%.

A Apple, que em agosto foi a primeira empresa da história a ultrapassar a marca do US$ 1 trilhão em valor de mercado foi especialmente atingida e teve que recuar nas suas previsões de ganhos. A empresa já anunciou que não vai mais divulgar números sobre a venda de iPhones e iPads. A Apple perdeu mais de US$ 220 bilhões (cerca de 800 bilhões) em valor de mercado só nos últimos dois meses.

Na terça-feira, o Goldman Sachs publicou uma nota sobre a companhia alertando para a possibilidade de ela perder sua capacidade de manter a precificação.

“Todo mundo amava as ações da Apple quando custavam US$ 220. Agora que ela custa US$ 180, as pessoas odeiam”, comenta Feinseth, da Tigress . “Esta é a mentalidade de Wall Street.

A companhia fundada por Steve Jobs foi seguida por um declínio em outras empresas de tecnologia, como Salesforce.com, Nvidia e Oracle.

Bolsa de Nova York zera os ganhos do ano

Nesta terça-feira (20), o índice Dow Jones, que reúne as 30 ações mais líquidas de Wall Street, recuou 2,21%. O S&P 500, das 500 principais empresas, teve baixa de 1,82%. No ano, agora, o Dow Jones recua 1,03%, e o S&P 500, 1,19%. No início do pregão, acumulavam alta de 1,2% e 0,6%, respectivamente, em 2018.

O índice da Bolsa de tecnologia Nasdaq fechou em baixa de 1,7%, e está praticamente estável no ano, com leve alta de 0,08%. Os volumes negociados estão abaixo dos registrados em dias normais, por se tratar de uma semana com um dos feriados mais importantes do país, o Dia de Ação de Graças, comemorado nesta quinta (22).

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Os papéis da Apple recuaram 4,78%. O Goldman Sachs cortou o preço-alvo para as ações da empresade US$ 209 para US$ 182. Nesta sessão, os papéis da Apple fecharam a US$ 176,67. É uma desvalorização de 20,7% desde 23 de outubro, quando era cotada a US$ 222,73.

Os analistas projetam deterioração na demanda pelos novos modelos de iPhone. “A Apple é o que todos estão vendo. Há uma desaceleração nas vendas de iPhone, houve diminuição das demandas. Um dos fornecedores disse que diminuiu a produção para a Apple, então é de se perguntar quanta demanda há no cenário global neste momento”, afirmou Quincy Krosby, estrategista-chefe de mercados da Prudential.

O Facebook, outra gigante, fechou em alta de 0,67%. Na última semana, a ele enfrentou nova polêmica, após o jornal The New York Times publicar reportagem questionando suas táticas para lidar com desinformação e outros problemas.

O baque do setor de tecnologia se espalhou para outros segmentos, como o varejo, impactado também nesta sessão pelo balanço ruim de rede Target, uma das maiores do setor. A empresa teve ganhos menores que o esperado no trimestre passado e cortou a estimativa de vendas.

Reprecificação de risco

Ryan Connelly, analista de economia global do Frontier Strategy Group, afirma que os mercados estão passando por um momento de “reprecificação de risco”. Enquanto isso, seguem atentos aos dados de economia americana, tentando ponderar se há indícios de arrefecimento. “Temos que esperar as vendas deste fim de ano, como a Black Friday. Vai todo mundo olhar para isso.”

Em meio a esse cenário, os preços do petróleo atingiram, nesta sessão, o menor nível em mais de um ano. O barril do WTI, dos EUA, recuou 6,6%, a US$ 53,43. O Brent, de Londres, perdeu 6,4%, a US$ 62,53.

Nesta terça, o presidente americano, Donald Trump, pode ter contribuído para a queda da commodity. Ele ressaltou os fortes laços com o governo da Arábia Saudita, em um contexto em que o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman é acusado de ordenar o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

Para Trump, se os dois governos romperem, o preço do petróleo dispara. “Eu mantive [os preços] baixos. Eles me ajudaram a mantê-los baixos.”

As declarações levaram os investidores a avaliarem que o presidente tenta impedir os sauditas de cortar a produção no encontro de dezembro dos países exportadores e não exportadores. Alguns já expressam preocupação com um excesso de oferta no mercado.

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