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Entre os 2 mil entrevistados pelo site Reclame Aqui, 33% disseram que acharam alto e muito alto o grau de dificuldade para encontrar o produto desejado | Albari Rosa/ Gazeta do Povo
Entre os 2 mil entrevistados pelo site Reclame Aqui, 33% disseram que acharam alto e muito alto o grau de dificuldade para encontrar o produto desejado| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Reclamações

Queixas aumentaram 25%neste ano

Nesse ano, o número de reclamações em relação a supermercados no site Reclame Aqui aumentou 25% na comparação com o ano passado. Foram 8 mil registros até 15 de junho, segundo Edu Neves, diretor executivo do portal. Para evitar que o consumidor perceba a falta de alguns produtos, as redes de varejo têm se mobilizado, aumentando a exposição de outras marcas, inclusive as próprias. "Há uma redução da variedade que também é estratégica. Isso faz com que o consumidor tenha menos base de comparação entre as marcas, o que diminui a percepção de que os preços estão elevados", diz Neves. No levantamento realizado pelo Reclame Aqui, 78% dos entrevistados consideram que os preços estão muito altos.

Em tempos de inflação alta, as negociações entre indústria e varejo endureceram. A queda de braço entre fabricantes, que pressionam por aumentos, e das lojas, que tentam segurar preços, já provoca a falta de algumas marcas no mercado. O movimento não é generalizado, mas o consumidor vem tendo mais dificuldade em encontrar determinados produtos.

INFOGRÁFICO: Confira a percepção da falta de produtos pelo consumidor

Uma pesquisa realizada pelo site Reclame Aqui com 2 mil pessoas no mês passado em todo o país mostrou que 76,86% delas não encontraram produtos de que precisavam nos supermercados. Alimentos e bebidas lideram o ranking de registros de falta de produtos, com 58,78%. Itens de limpeza e higiene e beleza vêm em seguida, com 20,6% cada grupo. Entre os entrevistados, 33% disseram que acharam alto e muito alto o grau de dificuldade para encontrar o produto desejado.

Segundo alguns varejistas, a pressão por aumento de preços está forte e as negociações estão demorando mais para serem fechadas. Se não há acordo, o estoque do varejo pode acabar, levando o produto a faltar nas lojas por alguns dias, até que se chegue ao consenso.

Um levantamento da Associação Paulista de Supermercados (Apas) mostra que o índice de ruptura – que mede a falta de produtos nas gôndolas – subiu nesse ano. O índice passou de 7,9% no primeiro trimestre de 2013 para uma média de 9,1% no mesmo período de 2014.

Segundo o superintendente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Valmor Rovaris, uma série de fatores podem ter aumentado o índice de ruptura – de problemas de logística e troca de sistemas operacionais de empresas até promoções e dificuldades na importação de produtos da Argentina. "Mas é claro que em um contexto de vendas mais fracas e inflação mais alta, a negociação fica mais difícil entre as partes e isso pode ter impacto também no fornecimento das lojas", diz.

Estratégias

Como a negociação é diferente para cada rede de varejo, os itens em falta variam entre supermercados. "Eventualmente uma varejista pode ter mais dificuldade de negociar com um fornecedor do que outro", afirma. Marcas líderes, por exemplo, podem usar algumas estratégias para pressionar o varejo, como diminuir a quantidade de itens fornecida, o que também pode provocar algum desabastecimento.

A aposentada Liziane Carvalho, 63 anos, diz que frequenta toda semana o supermercado e verificou a falta de algumas marcas. "Na semana retrasada não tinha o café. Depois não tinha o biscoito e agora não tinha o desodorante", diz ela. A saída foi procurar em outros supermercados. "No caso do biscoito tive que esperar, porque não gosto de outras marcas. Depois ele voltou a aparecer", diz.

Consumidor corta gastos

A falta de produtos não indica que há uma crise de abastecimento como na época da hiperinflação, mas reflete um outro momento do varejo. Depois de registrar crescimento real – já descontada a inflação – de até 10% nos últimos anos, os supermercados enfrentam um momento de vendas mais fracas. De janeiro a maio, as vendas – já descontadas a inflação – avançaram 1,62% na comparação com o mesmo período do ano passado. A previsão da Associação Paranaense de Supermercados (Apras) para esse ano é de um avanço real de 3% nas vendas. "Ninguém quer ser o primeiro a reajustar preços. Cada um fica de olho no concorrente", afirma o superintendente da Apras, Valmor Rovaris.

O consumidor, mais endividado e pressionado pela alta da inflação, começa a cortar gastos também no supermercado. Um levantamento da Nielsen mostra que o comprometimento da renda com algum tipo de dívida – como imóvel ou carro – afeta o dinheiro gasto nas gôndolas. O estudo aponta que esses compromissos provocam uma queda de 17% nos gastos com alimentos, 15% com bebidas, 13% com limpeza e de 8% em itens de higiene e beleza.

O varejo tem olhado com atenção para esse comportamento, porque quando o orçamento aperta, o consumidor tende a trocar marcas ou diminuir o número de itens na lista de compras. E se os preços continuam a subir, o desempenho pode piorar nos próximos meses.

Poder de compra

Apesar do endividamento estar elevado há pelo menos dois anos, a diferença é que, em anos recentes, a renda continuava a aumentar, o que ajudava a amortecer o impacto da inflação, segundo o o consultor financeiro Raphael Cordeiro, da Inva Capital. Agora, os preços altos corroem parte do poder de compra e o consumidor também não tem como contar com a ajuda do crédito, que está mais caro e seletivo.

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