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O consumo das famílias recuou 1,5% frente ao trimestre anterior, a maior queda neste tipo de comparação desde o quarto trimestre de 2008, quando caiu 2,1%. É também a primeira nessa comparação depois de dois trimestres de alta, de 0,2% no terceiro trimestre e de 1,1% no quarto trimestre. No segundo trimestre de 2014, houve perda de 0,7%. Quando se leva em conta o primeiro trimestre de 2014, a retração foi de 0,9%, a primeira desde o terceiro trimestre de 2003 (-0,9%). Ou seja, foram 45 trimestres em alta na comparação interanual, para, agora, cair.

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a queda na demanda foi a principal causa para o desempenho negativo do PIB no trimestre.

Indústria puxa queda da economia do Paraná no 1º trimestre

Produto Interno Bruto (PIB) do estado recuou 0,8% no primeiro trimestre de 2015

Após encerrar 2014 com leve crescimento, a economia do Paraná começou o ano no vermelho. O estado registrou uma queda de 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2015 na comparação com o mesmo período do ano passado, divulgou nesta sexta-feira (29) o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes). No acumulado dos últimos 12 meses, a atividade econômica recuou 1,6% no Paraná. Apesar do resultado negativo, o desempenho ficou acima do PIB nacional, que acumula retração de 0,9% nessa mesma base de comparação.

O tombo da indústria, marcado pela queda acentuada na produção de veículos, puxou a retração da economia paranaense nos três primeiros meses de 2015. A queda nas exportações paranaenses também contribuiu. O recuo dos embarques, principalmente para a Argentina, afetou em cheio o setor automotivo do estado.

No conjunto, o desempenho ruim da indústria somado ao recuo das vendas no comércio foi decisivo para o resultado negativo da economia. Do lado da demanda, a intenção de consumo das famílias paranaenses segue em queda. Nos últimos 12 meses, o indicador que aponta esta intenção teve queda de 22,8%, segundo pesquisa da segundo pesquisa da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e da Fecomércio PR. A diminuição no ritmo de vendas se deve, principalmente, a queda da renda das famílias. “A inflação está tirando o poder de compra da população, enquanto as taxas de juros maiores também funcionam como uma barreira maior ao consumo e à produção”, afirma Francisco José Gouveia de Castro, economista do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Na análise do instituto, a retração no PIB do estado poderia ter sido maior, não fosse a recuperação da agropecuária em relação ao mesmo período do ano passado – quando houve quebra de safra em função da forte estiagem – e o desempenho positivo do setor de intermediação financeira do estado, com destaque para os serviços bancários, ressalta Castro, do Ipardes. Segundo ele, a importância da agropecuária se deve não apenas pelo seu peso direto na economia do Paraná, mas ao resultado da integração deste com outros setores da economia paranaense.

Estados dependentes

Segundo o economista Castro, o abandono, no cenário nacional, de fundamentos de sustentação da estabilidade econômica acabou levando a quadro de desindustrialização e deterioração do clima de negócios no país, com grande impacto no desempenho da economia dos estados. “Nenhum estado tem a capacidade de praticar política econômica. E é a política econômica que define taxa de juros, inflação, câmbio”, avalia Castro.

Segundo ele, é evidente que recuperação da economia, de forma geral, depende muito da condução da atual equipe de política econômica do governo federal, porém, há um momento de incerteza em relação aos pacotes de austeridade do plano de ajuste fiscal do governo. “No caso do Paraná, ainda temos um peso importante do setor automotivo, um dos mais afetados pela crise”, destaca. Por outro lado, a perspectiva positiva vem mesmo da recuperação da agroindústria. Outro aspecto importante, na análise do economista, é o saldo ainda positivo na geração de empregos no interior do estado, que aponta um mercado de trabalho mais resiliente à crise.

Em 2014

Em 2014, a economia do estado encerrou o ano com crescimento de 0,8% no Produto Interno Bruto (PIB) de 2014, pior resultado desde 2009, em meio à crise internacional, quando o PIB do estado recuou 1,32% após alta de 5% em 2013. Boa parte do resultado do ano passado se deve ao desempenho negativo da indústria, cuja produção recuou 5,5% no consolidado do ano.

Economia além do PIB

Se desta vez o crescimento da agropecuária não foi suficiente para positivar PIB estadual ou nacional, ao menos amenizou a retração dos índices. Mas, no agronegócio, as condições da atividade vão além do PIB. Questões relacionadas a fatores de produção, exportação e acúmulo de estoques relativizam esse desempenho e provam que um índice positivo nem sempre se traduz em renda ampliada ou mais dinheiro no bolso do setor.

Os dados de exportação mostram isso. IBGE e Ipardes avaliam que a safra recorde de soja – colhida em sua maioria no primeiro trimestre – foi o principal fator para o aumento do PIB da agropecuária de janeiro a março. Porém, por mais que a produção tenha sido cheia, Brasil e Paraná exportaram menos. E os embarques caíram não só em volume, mas também – e ainda mais – em receita.

A expectativa é que a oleaginosa se recupere até o final do ano e acabe fechando 2015 com aumento nas exportações. Mas o crescimento deve ser só em volume, e não em valor. Ou seja, mesmo produzindo mais, não há garantias. A produção cresceu quase 10% de um ano para o outro, mas o PIB do setor deve encerrar 2015 com crescimento de até 1%.

Mesmo pequeno, o resultado positivo num momento em que outros setores estão em retração revelam que o desempenho do agronegócio é resultado de um plano de expansão que tem sido contínuo. E o mais importante: um crescimento sustentado, principalmente em produtividade.

“Essa conjuntura de juros e inflação mais altos, crédito mais caro e menos acessível, o emprego e a renda com desempenho mais fraco estão contribuindo negativamente o consumo das famílias, o que afeta demais o desempenho da economia, já que ele pesa 63% da economia. Ele é o componente mais pesado e, como ele não caía desde o terceiro trimestre de 2003, foi ele que gerou essa queda de 1,6% no PIB neste trimestre”, afirmou

Ela destaca que, no primeiro trimestre do ano passado, a média da taxa básica de juros estava em 10,4% ao ano. Já nos três primeiros meses de 2015, a Selic ficou, em média, em 12,2% ao ano. Já o IPCA, no primeiro trimestre do ano passado, o IPCA estava em 5,8%, taxa que saltou para 7,7% entre janeiro e março de 2015.

“A gente teve uma desaceleração do crescimento da renda real dos trabalhadores e do emprego. Nas duas pesquisas que o IBGE está fazendo, as duas dão a mesma tendência. As operações de crédito no sistema financeiro para pessoas físicas continua crescendo, mas abaixo da inflação. Isso tudo prejudicou o consumo das famílias”, explicou.

Desempenho PIB

O IBGE divulgou nesta sexta-feira (29) que a economia brasileira encolheu 0,2% no primeiro trimestre frente ao quarto trimestre de 2014, o maior recuo na série com ajuste sazonal (frente ao trimestre anterior) desde o segundo trimestre de 2014, quando a economia teve perda de 1,4%.

Na comparação com o mesmo período do ano passado, houve queda de 1,6%, a maior na comparação anual (trimestre contra igual trimestre do ano anterior) desde o segundo trimestre de 2009, quando foi registrado recuo de 2,3%, e a quarta taxa negativa do PIB na comparação interanual, ou seja, na comparação com igual trimestre do ano anterior.

Apesar da sequência de taxas, Rebeca destacou que o primeiro de 2014 teve um crescimento forte e por isso a base de comparação é elevada. No primeiro trimestre de 2014, a economia subiu 2,7% frente ao primeiro trimestre de 2013. “É preciso esperar o segundo semestre para ver o que vai acontecer no ano”, disse.

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