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| Foto: MICHAEL WARAKSA/NYT

Novos estudos sugerem que ter mais dinheiro realmente leva a uma vida mais satisfatória; uma pesquisa feita com milhares de ganhadores da loteria sueca forneceu provas convincentes dessa verdade.

Os vencedores disseram que estavam definitivamente mais satisfeitos com a vida do que quem não ganhou nada. E aqueles que levaram prêmios de centenas de milhares de dólares relataram maior satisfação que os ganhadores de meras dezenas de milhares.

Esses efeitos são duráveis, ainda evidentes até duas décadas depois de uma grande vitória. Antes disso, os pesquisadores não tinham dados para verificar consequências em longo prazo.

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Os resultados aparecem no artigo da pesquisa, “Efeitos de Longo Prazo da Riqueza da Loteria sobre o Bem-estar Psicológico”, que recentemente intrigou os economistas. O trabalho é de Erik Lindqvist, da Faculdade de Economia de Estocolmo, Robert Ostling, da Universidade de Estocolmo e David Cesarini, da Universidade de Nova York.

Ele certamente deve incentivar um longo debate sobre o papel que as finanças pessoais desempenham no bem-estar subjetivo.

Muitas análises anteriores – incluindo várias que conduzi com minha companheira, Betsey Stevenson, também economista da Universidade de Michigan – mostraram que as pessoas com maiores ganhos tendem a relatar níveis mais elevados de satisfação. A relação entre os dois é incrivelmente similar em dezenas de países.

Os estudos anteriores apenas documentaram a correlação; a novidade aqui é a evidência de que uma renda mais elevada gera maior satisfação.

Essa pesquisa é capaz de desvincular causalidade e correlação de forma confiável, porque a loteria efetivamente fornece um teste de controle randomizado. Como nos testes de um novo medicamento, aqueles que receberam o tratamento – neste caso, uma grande dose de dinheiro, graças a um bilhete de loteria – foram comparados àqueles que receberam uma dose menor, os que levaram um prêmio menor, e com indivíduos estatisticamente combinados da mesma idade e sexo que participaram do concurso e não ganharam.

Em um teste farmacêutico, como em uma loteria, o fato de você receber uma dose grande, uma dose menor ou nada se deve puramente ao acaso. Os cientistas acham que esse modelo é convincente porque a atribuição aleatória garante que a loteria seja o único fator gerando diferenças sistemáticas entre aqueles que recebem o tratamento e aqueles no grupo de controle. Assim, ele isola o efeito do dinheiro extra que gera satisfação.

Os autores persuadiram a autoridade estatística sueca a pesquisar cada vencedor de três das maiores loterias do país ao longo de mais de uma década, e então usaram registros governamentais para rastrear outros aspectos da vida dos vencedores. Os pesquisadores examinaram os mesmos indicadores em suecos que apostaram, mas perderam, ou que ganharam prêmios menores.

Suas pesquisas usaram várias abordagens para medir o bem-estar subjetivo. A medida mais robusta ligada à renda perguntava às pessoas sobre a satisfação na vida como um todo. Em contrapartida, as respostas a uma pergunta sobre felicidade mostraram uma conexão menor com os ganhos da loteria, e esses efeitos não puderam ser diferenciados de forma confiável dos efeitos do acaso. Os cientistas sociais em geral veem perguntas sobre satisfação com a vida como um gancho para eliciar uma avaliação com base ampla, e as perguntas sobre felicidade rendem respostas mais relacionadas ao humor ou ao sentimento atuais.

Um conjunto adicional de perguntas visava a saúde mental dos pesquisados, mostrando que mais dinheiro não teve nenhum efeito, embora em um trabalho relacionado, os mesmos autores descobriram que os ganhadores tomavam menos drogas para a saúde mental. Interpretei isso como uma evidência sugestiva, mas não conclusiva, de que a riqueza melhora esse aspecto.

Outros estudos dos mesmos autores, às vezes com outros estudiosos, – acompanharam a vida econômica dos ganhadores para explorar ainda mais as consequências da riqueza. Contrariamente aos estereótipos populares, aqueles que ganham centenas de milhares de dólares não torram os ganhos de uma só vez. Ao contrário, gastam a nova fortuna lentamente, ao longo de muitos anos. Muitos não abandonam o emprego, mas tendem a trabalhar um pouco menos e a se aposentar um tanto mais cedo.

Surpreendentemente, o aumento de dinheiro causado pela loteria tem poucos efeitos sobre a saúde física dos ganhadores ou de seus filhos. Talvez a riqueza da família possa ter efeitos bastante diferentes em uma sociedade menos igualitária, como os Estados Unidos.

Ter dinheiro de sobra aumenta o bem-estar, mas não totalmente

Os resultados fornecem fortes evidências de apoio à visão econômica padrão de que o dinheiro aumenta o bem-estar, embora não de forma totalmente uniforme. Isso vai contra a ideia defendida por muitos psicólogos de que as pessoas em geral se adaptam às suas circunstâncias, incluindo a situação financeira.

Em e-mail, Cesarini caracterizou essa perspectiva como o “equívoco generalizado provado pela ciência de que ganhar na loteria muitas vezes deixa as pessoas infelizes”.

Essa percepção errônea provavelmente vem de uma geração anterior desse tipo de estudos. Talvez o mais famoso deles seja um de 1978, “Ganhadores da Loteria e Vítimas de Acidentes: A Felicidade é Relativa?”. Com o benefício da retrospectiva, este estudo parece ilustrar a mudança de padrões da pesquisa empírica mais do que qualquer verdade sobre o bem-estar.

O bem-estar subjetivo de 22 ganhadores da loteria estadual de Illinois foi comparado com um grupo de controle de 22 pessoas. Os vencedores se classificam como mais felizes depois de ganhar o prêmio, mas, porque a amostragem era tão pequena, os pesquisadores concluíram que isso poderia refletir a influência da sorte e não conseguiram notar se os dados eram consistentes com a ideia de que o os que ganharam estavam substancialmente mais felizes. O problema com amostras pequenas é que é difícil se certificar de qualquer coisa.

O mesmo estudo também examinou 29 vítimas de acidente que ficaram paraplégicas, mostrando que eram menos felizes que outras pessoas. Contudo, muitos relatos populares desse estudo o descrevem como se suportasse a proposição oposta, a de que as pessoas se adaptam às tragédias pessoais.

Já vi esse padrão antes, a forma como uma descoberta contraintuitiva captura a imaginação do público, assumindo vida própria. Com o tempo, os fatos se tornam interessantes demais para serem verificados.

Mas a ciência sempre acaba se corrigindo. Após 40 anos, três economistas determinados, milhares de vencedores de loteria e uma imensa quantidade de dados detalhados revelaram uma verdade mais confiável, mas menos romântica: o dinheiro realmente ajuda as pessoas a levarem uma vida mais satisfatória.

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