
Uma das paredes da barragem da usina hidrelétrica de Mauá, entre Ortigueira e Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, tem pelo menos três rachaduras. O projeto, que custou mais de R$ 1,3 bilhão, já enfrentou dezenas de ações relativas a seus impactos socioambientais. Agora, organizações ambientalistas questionam a segurança da hidrelétrica, cujo cronograma está atrasado. A inauguração, antes prevista para janeiro deste ano, foi adiado para setembro e, mais recentemente, para fevereiro de 2012.
Uma das rachaduras cobre aproximadamente 50 dos 80 metros de altura da parede da barragem. Outra fissura tem cerca de 25 metros, e há ainda uma terceira, já coberta por concreto. Segundo informações de moradores da região, técnicos europeus e norte-americanos estiveram, no mês passado, averiguando possíveis problemas estruturais na usina. Mas o consórcio Cruzeiro do Sul, formado por Copel (51%) e Eletrosul (49%) e responsável pela obra, assegura que as rachaduras são "normais".
A ONG Liga Ambiental questiona os riscos de acidentes que essas rachaduras podem vir a provocar. Segundo o coordenador da entidade, o biólogo Tom Grando, o consórcio deveria tratar com mais seriedade os problemas que aparecem na estrutura física da usina. "Esses remendos que vão aparecendo devem ser revelados publicamente, afinal, representam um risco para a sociedade que mora na região", diz. Para ele, é essencial que se faça um laudo técnico para detalhar as causas das fissuras.
Após analisar imagens das rachaduras em Mauá, o professor de Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Mauro Lacerda avalia que pode haver falta de junta de dilatação na barragem. "O concreto sofre variações conforme a temperatura oscila, e a junta serve para permitir essa movimentação e impedir o aparecimento de fissuras", afirma. Segundo ele, ainda há tempo para reverter o quadro. "As rachaduras, pelo que se pode observar nas fotos, não estão atravessando toda a estrutura. Deve-se efetuar uma injeção de resina para tapar e impedir seu avanço. Mas, para se ter uma análise precisa, é necessário ir até o local e fazer um laudo técnico", diz.
O consórcio Cruzeiro do Sul afirma que não há risco algum na segurança da barragem. "As fissuras que aparecem nas fotos são decorrentes da cura [fase de secagem] do concreto, o que é normal em qualquer tipo de estrutura, e em nada comprometem a segurança da barragem. Além disso, estão localizadas na parte de jusante da barragem, feita com concreto compactado com rolo e que não tem contato com a água", informou o consórcio, pela assessoria.



