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“A ideia era passar alguns meses [no Brasil] e voltar para lá. Mas meu marido foi demitido pouco antes de voltarmos e agora não há empregos. Decidimos ficar em Londrina, por enquanto.”Fernanda Murakami, londrinense, que trabalhava em uma fábrica que fechou as portas. | Albari Rosa/Gazeta do Povo
“A ideia era passar alguns meses [no Brasil] e voltar para lá. Mas meu marido foi demitido pouco antes de voltarmos e agora não há empregos. Decidimos ficar em Londrina, por enquanto.”Fernanda Murakami, londrinense, que trabalhava em uma fábrica que fechou as portas.| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Exportação menor freia economia

A economia japonesa sofreu uma retração de 12,7% no último trimestre de 2008. Foi uma queda histórica, que só encontra paralelo recente no efeito do primeiro choque do petróleo, entre 1973 e 1974. A baixa é explicada em grande parte pelo peso que as exportações têm na economia japonesa. Seus carros e eletrônicos não encontram mercado interno suficiente para o tamanho das indústrias – quase metade da produção é exportada. O principal destino são os Estados Unidos, hoje em profunda crise econômica e pouco inclinados a comprar bens duráveis.

O desemprego no Japão chegou a 4,4% em janeiro, número baixíssimo para padrões brasileiros, mas que preocupa em uma sociedade acostumada ao pleno emprego e com um sistema de proteção social limitado. A falta de trabalho afeta mais as parcelas menos protegidas da população, que não contam com instituições típicas do Japão como o emprego vitalício e o salário que aumenta com a idade – é comum que os japoneses trabalhem a vida inteira para uma só companhia e que se aposentem com um bom prêmio em dinheiro. (GO)

A retração abrupta da economia japonesa, que recuou 12,7% no último trimestre de 2008, foi um baque para a comunidade brasileira no Japão. Acostumados a encontrar trabalho com facilidade, os dekasseguis – como ficaram conhecidos no Brasil os descendentes de japoneses que foram trabalhar na terra dos antepassados – estão sendo demitidos às centenas. São comuns relatos de pessoas sem moradia, sem dinheiro suficiente para pagar as contas básicas e sem perspectiva de encontrar novos empregos.

A crise econômica global derrubou as exportações japonesas de carros e eletrônicos, justamente os setores onde os nikkeis (descendentes de japoneses) encontraram seu nicho no mercado de trabalho. Como os estrangeiros são geralmente contratados através de empreiteiras terceirizadas, são sempre os primeiros a perder os empregos quando a produção cai.

"As fábricas estão dispensando todos os funcionários contratados por empreiteiras. Só ficam aqueles empregados diretamente", conta André Luiz Assunama, nikkei que mora há 18 anos no Japão e foi demitido no fim do ano passado de uma fábrica em Chiryo, província de Aichi. Assunama decidiu viajar quando tinha 18 anos para trabalhar em fábricas de autopeças que abastecem as grandes montadoras japonesas. Foi ficando, casou-se, teve um filho – hoje com 1 ano e 7 meses – e tomou a decisão de não voltar mais para o Brasil.

Para ele, a onda de demissões é uma fase que vai passar quando o Japão voltar a exportar. Até lá, haverá muito aperto. Em dois meses, o brasileiro de Araçatuba (SP) encontrou um mercado de trabalho pouco receptivo, mesmo para alguém ainda jovem, com 36 anos, e que domina o japonês – características preferidas das fábricas. "Ainda estou recebendo o seguro-desemprego, mas a partir do mês que vem vai ficar muito difícil. Minha esposa conseguiu um trabalho em uma lanchonete para quatro horas por dia, quatro dias por semana. Não é suficiente para pagar as contas", diz.

A situação é ainda mais dura para quem não conta com o seguro-desemprego e não aluga o próprio apartamento. Marco Miasato, pastor da Igreja Batista Vida de Higashiura, também em Aichi, conta que dois brasileiros que não têm onde morar foram recolhidos pela igreja. Isso porque é comum que os dekasseguis que foram mais recentemente, com a intenção de retornar ao Brasil, fiquem em alojamentos ou apartamentos alugados pela própria empreiteira. Quando são mandados embora, tornam-se sem-teto. Também acontece de as empreiteiras não pagarem o seguro social, o shakai hoken, que garante o atendimento de saúde e o seguro-desemprego – em alguns casos, a pedido dos próprios empregados, já que o desconto de 11% é pesado para quem quer economizar.

"Aqui na igreja estamos arrecadando alimentos para poder dar cestas básicas aos mais necessitados. Tem gente que não economizou quando tinha emprego e agora está sem dinheiro e sem chance de encontrar uma vaga", diz Miasato. Segundo ele, há brasileiros deixando o país com dívidas, ou abandonando o carro que ainda não terminaram de pagar. Outros não conseguem nem levantar o dinheiro para a passagem de volta ao Brasil.

Os relatos mostram a profundidade da crise no Japão. Seu efeito pode ser um retorno em massa de brasileiros. O Centro de Informação e Apoio ao Trabalhador do Exterior (Ciate), entidade formada por associações nipo-brasileiras e apoiada pelo Ministério do Trabalho do Japão, informa que há estimativas apontando para a volta de 70 mil dos cerca de 325 mil dekasseguis que viviam por lá no fim de 2007 – dos quais 80 mil são do Paraná.

"Até março todos os voos vindo do Japão estão lotados e essa tendência vai continuar. Não dá para dizer até quando", diz Teruhiko Sakura, diretor-superintendente do Ciate em São Paulo. Na avaliação dele, o fluxo tem tudo para se inverter no futuro, quando as fábricas japonesas voltarem a contratar.

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