• Carregando...
Mercado de olho na possibilidade do Brasil  vender suas reservas internacionais, ventilada por Guedes | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Mercado de olho na possibilidade do Brasil vender suas reservas internacionais, ventilada por Guedes| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

O Brasil tem uma reserva internacional em moedas estrangeiras gigantescas. E paga caro para mantê-las. Não por acaso o guru econômico do presidente eleito Jair Bolsonaro, Paulo Guedes, chegou a ventilar a possibilidade de se desfazer de parte deste dinheiro.

O Banco Central mantém US$ 380 bilhões em reservas internacionais, o que equivale e 27 meses de importação, 19% do PIB ou a 100 vezes o valor da dívida de curto prazo do país. Em termos relativos, o Brasil tem o triplo das reservas da Índia e quase 60% a mais do que a China.

Mas a proposta de reduzir as reservas foi recebida com polêmica. O que pode parecer estranho, considerando a calmaria relativa que reina no mercado, no cenário pós-eleitoral. Por que manter tanto dinheiro estrangeiro em caixa, quando o custo, em reais, desta operação é tão caro? A resposta, dizem economistas, é que este otimismo do mercado não passa de uma trégua e que, na verdade, a economia brasileira segue frágil, com um déficit fiscal que excede em 7% o PIB dos últimos três anos.

“Talvez seja imprudente reduzir as reservas enquanto a crise fiscal não for totalmente resolvida”, avalia Tony Volpon, economista da UBS Brasil e ex-diretor do conselho do Banco Central. “Até lá, os altos níveis de reservas servem como um instrumento importante para gerenciar e acalmar as reações do mercado em períodos de stress”.

Paulo Guedes, designado por Bolsonaro como Ministro da Economia, declarou que a proposta de reduzir as reservas em US$ 100 bilhões era só uma hipótese, que só faria sentido com uma moeda muito debilitada, e que é improvável que isso acontece em sua gestão.

O processo para se desfazer das reservas estrangeiras seria em duas etapas. O Banco Central venderia uma parte o que, imediatamente, reduziria suas ações de recompra (denominadas em reais), que fazem parte da dívida bruta de US! 1 trilhão do governo brasileiro, explica Carlos Kawall, ex-secretário do Tesouro.

É fácil notar as vantagens desta operação. O Brasil paga 9,5% de juros em títulos do tesouro denominados em reais, significativamente mais do que recebe sobre a dívida denominada em dólar que detém como parte de suas reservas internacionais. Títulos do Tesouro de cinco anos rendem, atualmente, cerca de 3%.

“Há uma consciência de que os níveis de reserva são muito altos”, disse Kawall, agora economista-chefe do Banco Safra, à Bloomberg News. “Este é o melhor momento para sugerir esta discussão sobre o nível das reservas”.

Em resposta a um pedido por email para esclarecer as regras que regem suas reservas, o Banco Central disse que não há normas que orientem a compra ou venda de reservas, e que suas ações no mercado montetário visam assegurar seu funcionamento adequado.

O Real ganhou 1,8% em relação ao dólar nos últimos três meses, a moeda de melhor desempenho dos mercados emergentes depois da Lira turca. No momento, não parece ser necessário ter US $ 380 bilhões de backup.

Ataque especulativo

A obsessão brasileira em acalmar este cabo de guerra decorre do trauma das crises cambiais recentes, particularmente a provocada pela eleição do Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Um fluxo massivo de dólares que entraram no país durante o boom das commodities, até 2011, ajudaram a resolver o problema.

Se o Banco Central vendesse os dólares para deter um deslize no Real, como Guedes sugeriu, você pode simplesmente estar molhando o apetite do mercado por mais dólares.

“Se o mercado está convencido de que a moeda está no patamar errado, vai levar US $ 100 bilhões, US $ 200 bilhões fáceis - você terá um fenômeno semelhante a um ataque especulativo”, disse Marcio Garcia, professor de economia da Universidade Católica. no Rio de Janeiro. “Usar reservas em um momento de estresse é complicado”.

A urgência de vender reservas também diminuiu, argumenta Garcia. O spread entre as taxas de juros do Brasil e dos EUA na dívida de 5 anos diminuiu para 6,5%. Era cerca de 15%, há pouco mais de dois anos.

O Banco Central é tecnicamente responsável por administrar as reservas internacionais e os críticos a sua redução sugeriram que a medida poderia ser vista como uma violação de sua autonomia. No entanto, o próprio Guedes é um defensor convicto da independência do Banco Central e disse que o governo de Bolsonaro promulga legislação para esse fim.

A contar pela história brasileira, os traders de câmbio não devem esperar uma enxurrada de dólares do Banco Central em breve. Guedes não é o primeiro a manter a perspectiva de reduzir o tamanho da apólice de seguro monetário.

Mesmo antes de tomar posse, durante sua audiência de confirmação no Senado, o atual chefe do banco, Ilan Goldfajn, sugeriu discutir o nível de reservas quando o país deixasse para trás níveis de incerteza na época. Isso foi há dois anos e meio.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]