
O sucesso estrondoso do livro do economista francês Thomas Piketty, O capital no século XXI, no qual a concentração de riqueza é descrita como produto intrínseco ao capitalismo, é evidência de que ficou impossível ignorar a disparidade de renda entre ricos e pobres nos EUA, país que um dia traduziu o sonho da igualdade de oportunidades e de mobilidade social para todos. O alarme, ainda circunscrito a círculos progressistas, soa num momento grave: a desigualdade de renda atingiu o maior patamar em um século e cresce sem parar desde 1979.
Piketty, professor da Escola de Economia de Paris, é um dos organizadores do World Top Incomes Database, banco de dados que investiga a evolução da distribuição de renda em mais de 30 países. O trabalho começou pelos EUA em 2003. O parceiro de investigação do francês, o economista Emmanuel Saez, atualizou os números, e chegou à seguinte conclusão: "A fatia da renda apropriada pelos 10% mais ricos nos EUA em 2012 é igual a 50,4%, a mais elevada desde 1917, quando a série começa".
Perversa combinação
Piketty, Saez e o jornalista Timothy Noah (autor do livro-sensação de 2012, A grande divergência) atribuem a uma perversa combinação de eventos e políticas desde a década de 1950 a responsabilidade pelo avanço implacável da desigualdade, após mais de 30 anos de descompressão que produziu a grande classe média americana. E o ponto de partida é o mercado de trabalho.
O topo da pirâmide não é composto somente pelos rentistas o pessoal que vive de dividendos, juros, terra e imóveis acumulados por gerações. Duas guerras mundiais e a Grande Depressão iniciada em 1929, que levaram a mudanças como forte taxação dos ricos, dilapidaram parte da elite. É a renda do trabalho incluídos salários, opções de ações, sociedade em microempresas, participações no negócio dos empregadores e trabalho por conta própria o principal componente da riqueza e de sua concentração nos EUA, nas últimas décadas.
Houve mudanças na remuneração da elite do mercado de trabalho. Executivos de primeira linha ganhavam na década de 1950, em média, 20 vezes mais do que seus subordinados. Hoje, recebem mais de 200 vezes. A "diretoria" das empresas representa 43% dos integrantes do 0,01% mais ricos, a fatia que mais cresceu e mais se apropriou de riqueza nos EUA em 40 anos.



