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O avanço do salário nominal está menor nos últimos meses, mas ele ainda cresce acima da inflação. Nos 12 meses encerrados em março (último dado disponível), a alta acumulada é de 8,2% nas seis regiões metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre) pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O cenário para as próximas negociações, porém, não é bom. A combinação de inflação elevada e baixo crescimento econômico tende a dificultar as negociações salariais neste ano e, consequentemente, o tamanho dos ganhos reais conquistado pelos trabalhadores. O cenário deverá ser bastante parecido com o de 2013, quando houve redução no número de categorias que tiveram ganhos reais em relação aos anos anteriores. O levantamento mais recente elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) mostra que 86,9% das negociações em 2013 resultaram em ganho superior ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Em 2012, no melhor resultado da história, 95,1% das negociações resultaram em ganhos reais.

"A inflação é sempre uma trava para as negociações e a alta de preços deve ser maior em 2014 do que em 2013. A minha expectativa é de que tenhamos resultados parecidos com os do ano passado", diz José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese. "O que a inflação realmente compromete é o tamanho do ganho real." No ano passado, o reajuste médio nas negociações trabalhistas foi de 1,25% acima da inflação.

Diante desse cenário, a aposta dos trabalhadores para manter a valorização real do salário será o mercado de trabalho pressionado - a taxa de desemprego continua baixa -, o que dá mais poder de barganha aos trabalhadores. "O poder de barganha continua grande. Várias categorias estão conseguindo aumentos reais", diz Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Um levantamento da Fipe mostrou que o reajuste médio para as categorias com data-base em março foi de 7,6%, o que garantiu ganho real médio de 2,2%. Para efeito de comparação, em março do ano passado, os aumentos foram de 8%, mas os ganhos reais foram de 1,3%.

Campanhas

Segundo o presidente da Federação dos Sindicatos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (CUT/SP), Valmir Marques da Silva, a campanha deste ano vai destacar a "luta por aumento real nos salários, a jornada de 40 horas, a geração de empregos e melhores condições de trabalho no chão de fábrica". Entre 2002 e 2013, os reajustes acima da inflação acumulados para os diferentes grupos dos metalúrgicos variaram de 28,99% a 37,34%.

Para o presidente do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo, Osvaldo Bezerra, apesar do momento econômico atual, a campanha deste ano não será pior que as anteriores. Em 2013, o reajuste real para os trabalhadores que recebem o piso foi de 2 4%, e nas faixas salariais maiores foi de 1,25%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Alta dos salários

O Brasil só não enfrenta um paradoxo com um salário nominal crescendo tanto num momento em que a economia dá sinais de desaceleração porque a inflação continua elevada. A expectativa do mercado expressa no boletim Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira, 12, é de que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerre o ano em 6,39%, enquanto o crescimento esperado para o Produto Interno Bruto (PIB) será de 1,69%, abaixo do avanço de 2,3% de 2013.

"Um cenário melhor do ponto de vista da estabilidade seria se o País tivesse uma inflação mais baixa, consequentemente um reajuste nominal menor, e mantivesse o patamar atual do ganho real dos salários", diz Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). "O aumento do salário nominal reflete o que os trabalhadores estão pedindo."

A inflação elevada mantém o salário nominal num nível alto e compromete o ganho real dos trabalhadores. No acumulado em 12 meses até março, o reajuste acima da inflação era de 2,2%, um resultado inferior ao do mesmo mês do ano passado, quando o aumento chegou a 3,5%. A retroalimentação entre aumento de preços e ganhos salariais acaba dificultando a queda da inflação no País, que se mantém distante do centro da meta do governo (4 5%). "Tanto a inflação elevada como o baixo crescimento estão dificultando os ganhos salariais", afirma Rafael Bacciotti, economista da consultoria Tendências.

Ao longo dos últimos anos, a renda nominal já cresceu mais, mas também permaneceu em patamares mais baixos. Em maio de 2009, o crescimento acumulado em 12 meses chegou a 11,1%, enquanto entre abril e junho de 2010 aumentou 6,8%.

Os salários avançaram nos últimos anos por causa da forte expansão do mercado de trabalho. O crescimento econômico brasileiro aumentou a demanda por trabalhadores em setores que empregam mais mão de obra - como comércio e serviços -, o que causou um aquecimento no mercado de trabalho.

"Esses setores utilizam mais mão de obra do que a indústria, que deixou de crescer no Brasil", diz Hélio Zylberstajn, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP) e pesquisador da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe).

Atualmente, o mercado de trabalho dá sinais de perda de fôlego, mas o desemprego ainda continua baixo - a desocupação em março foi de 5%, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, o menor nível para o mês desde o início da série histórica em 2002. "A taxa de desemprego continua baixa, mas não porque o emprego cresceu de maneira contundente. O emprego tem crescido pouco, e o que a gente tem visto é a saída de pessoas da força de trabalho", diz Bacciotti.

Em 2014, o mercado de trabalho não deverá ser tão afetado pela desaceleração da economia. Dois fenômenos - a Copa e as eleições - devem ajudar a sustentar o emprego. "Com base na PME, a expectativa é que o mercado fique estagnado", diz Barbosa Filho, do Ibre. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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