Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
protecionismo

Salvaguarda provoca boicote ao vinho nacional

Diante da criação de cotas para importação, restaurantes retiraram os rótulos brasileiros de suas cartas

Junior Durski já teve sua carta de vinhos premiada duas vezes como a melhor do Brasil; agora, ela não tem mais rótulos nacionais | Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Junior Durski já teve sua carta de vinhos premiada duas vezes como a melhor do Brasil; agora, ela não tem mais rótulos nacionais (Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo)

A medida de salvaguarda contra vinhos importados, reivindicada por entidades do setor vitivinícola e publicada no dia 15 de março, provocou uma reação que ameaça a imagem dos vinhos finos brasileiros no próprio território nacional. Após a proposta de cotas para importação da bebida, diversos restaurantes, inclusive em Curitiba, estão retirando de suas cartas os poucos rótulos nacionais oferecidos.

Em repúdio à proposta de criação de cotas, o proprietário do Durski e da rede de restaurantes Madero, Junior Durski, retirou os 50 rótulos nacionais de sua carta de vinhos, que tem mais de 2,5 títulos e foi premiada duas vezes como a melhor do Brasil pelo Guia Quatro Rodas. "Essa medida é ultrapassada e antiga. A adoção seria como voltar para o período antes do Collor, quando as importações eram proibidas", justifica. O boicote foi idealizado pela chef Roberta Sudback, que tem um restaurante no Rio de Janeiro, e contou com a adesão de chefs renomados como Alex Atala.

O sommelier Ronaldo Bohnenstengel, do Vin Bistrô, apesar de considerar a salvaguarda imprópria, não cortará os vinhos das vinícolas que assinaram o pedido. "Não vejo necessidade de boicote. O mercado nacional já oferece poucas opções de bons vinhos e todos com preço muito acima dos importados", diz.

Participação

A norma protecionista tem como objetivo principal elevar a participação do produto nacional no mercado consumidor. De acordo com as entidades do setor, a adoção da salvaguarda permitirá, dentro de três anos – período de vigência da medida –, que os rótulos nacionais voltem a cair no gosto do consumidor e cheguem a 35% do mercado.

"Em países como Estados Unidos e Alemanha, os rótulos nacionais são metade dos vinhos comercializados. Temos de buscar mercado para que o Brasil não se transforme apenas em importador", aponta Carlos Pavini, diretor-executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), uma das entidades à frente do pedido protecionista.

No ano passado, os vinhos finos brasileiros representaram 21,3% dos 91,9 milhões de litros comercializados no país. No primeiro bimestre deste ano, a participação dos rótulos nacionais no mercado consumidor caiu para 11%, enquanto a entrada de vinhos estrangeiros cresceu 35%. "Hoje o vinho importado entra a qualquer preço e quantidade. É preciso fechar a porteira", afirma Hélio Marchioro, diretor-executivo da Federação das Cooperativas do Vinho (Fecovinho).

Apesar do discurso de proteção, proprietários de restaurantes e importadoras veem a medida com grande desconfiança. Para eles, a estratégia das entidades para conquistar mercado está equivocada. "Essa é uma guerra perdida. A salvaguarda não vai mudar o consumidor", diz o diretor comercial da importadora Porto a Porto, Alceu Bobbto.

Colaborou Flávia Schiochet.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.