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Comércio exterior

Se você não puder vencê-los, tente fazer uma joint-venture

Empresas do Paraná vão ao Oriente para ganhar competitividade

A força da concorrência chinesa está levando empresas industriais paranaenses a transformar em aliados prováveis oponentes. "É um esforço de guerra para ganhar mercado e se manter competitivo", resume Francisco Simeão, presidente da fábrica de pneus remoldados BS Colway, de Piraquara, que no ano que vem passa a produzir pneus novos na China, por meio de uma joint venture (leia mais na matéria ao lado). Não é uma iniciativa inédita no Paraná. Na base do "se não pode vencê-los, junte-se a eles", cada vez mais empresários vêm buscando parcerias com as fábricas chinesas para aproveitar baixos custos e alta capacidade produtiva.

Com um salário mínimo em torno de US$ 60 (metade do brasileiro), ganhos por produtividade, uma imensa massa de trabalhadores migrando do campo para áreas urbanizadas e muito poucos direitos civis, a China é em um negócio excelente, não só para empresas chinesas, mas também estrangeiras, quando se fala em custo de mão-de-obra. "O chinês hoje só pensa em ficar rico, para ele não tem sábado, domingo e nem horário. As instalações lá são para grande escala. Tudo que é baratinho, o chinês produz melhor", afirma o consultor da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP) para extremo oriente, Elias Antunes, que comanda pelo menos cinco missões empresariais brasileiras por ano para a China.

"Juntar forças com os chineses é uma ótima saída, porque como inimigos eles são muito poderosos", avalia Vagner Kodama, diretor de marketing da Purific, de Maringá. Foi pensando em reduzir custos que a fabricante de purificadores de água se associou a chinesa Real Tianjin, há um ano, para a produção do reservatório de um dos quatro modelos da marca. "O coração do purificador é o refil, que nós produzimos no Brasil. A parte do reservatório não tem necessidade de tecnologia avançada, é algo que não temos receio de produzir fora da fábrica", explica Kodama. A joint venture surgiu de um contato com o representante da fábrica chinesa no Brasil. "No início houve uma certa resistência com o temor do subemprego ou trabalho escravo, algo que pudesse prejudicar a nossa imagem. Mas nos certificamos que estávamos trabalhando com uma empresa correta, tradicional", diz o diretor de marketing.

A fabricação dos reservatórios em terras chinesas vai representar uma economia de 35% para a Purific. A joint venture ainda não iniciou a produção. A parceira chinesa está em fase de elaboração de moldes e dentro de 60 dias as primeiras peças devem ser produzidas. A Purific inicia com uma produção de 10 mil reservatórios de purificador por mês na China e até o fim do ano esse volume deve subir para 30 mil, mesma quantidade de filtros produzida mensalmente no Paraná. "Como dependemos muito do preço do petróleo, por conta da nossa matéria-prima ser o plástico, não podemos garantir que a parceria vai baratear o produto para o consumidor final, mas certamente vai ajudar a evitar aumentos", prevê o diretor.

Pequenas e médias

Não são apenas as grandes empresas que vêem boas oportunidades na China. Estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que 12% das grandes empresas brasileiras já transferiram parte da produção para China, seja produzindo com fábrica própria ou terceirizando parte da produção. Mas as médias e pequenas também já iniciam seus passos neste sentido. Segundo a sondagem especial sobre China da CNI, 3% das empresas industriais de pequeno e médio porte já transferiram parte da produção para o país. "É algo que vem de cima para baixo. Uma necessidade que começou com as grandes empresas e agora atinge as empresas menores", avalia o consultor do Sebrae-Paraná, Ricardo Dellamea. Ele conta que entre as empresas de menor porte a procura de informações é maior para saber como importar da China. "Em primeiro lugar, vem o interesse pela substituição de fornecedores, depois por saber como realizar parte do processo lá. O preço dólar está tornando viável fazer a mudança de fornecedor", diz.

As exportações de tábuas de madeira nobre se transformaram em parcerias esporádicas para a beneficiadora e exportadora Nova Forest, que emprega cerca de 50 pessoas em sua sede, em Curitiba. "Nós vendemos a tábua seca e serrada e eles fazem os acabamentos para piso de madeira maciça ou transformam em piso laminado. Temos escritório nos Estados Unidos que recompra esse piso e vende lá com a nossa marca", explica Marlise Zonta, trader da empresa para Ásia. A parceria acontece há três anos e foi uma maneira da empresa curitibana acrescentar um produto novo ao portfólio do escritório no exterior. "Aqui no Brasil não há mercado, porque são madeiras caras", diz ela. Para os chineses, afirma Marlise, a troca também é interessante. "Eles têm dificuldade de penetrar no mercado norte-americano e nós já temos tradição lá", justifica.

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