
Plano de saúde é um produto caro. Dependendo da idade do cliente, as mensalidades podem se aproximar de R$ 1 mil. Muita gente tem questionado a necessidade desse gasto e optado por desligar-se do plano e destinar os mesmos valores a uma aplicação financeira a ser resgatada em caso de necessidade. Embora possa fazer sentido em alguns casos, especialistas em finanças são unânimes em apontar um grande risco: procedimentos complexos podem custar muito caro e suplantar o saldo dessas economias.
A questão é mais sensível no caso dos trabalhadores autônomos que não podem contar com os planos corporativos, mais baratos e para os aposentados. O presidente da OABPrev, entidade de previdência privada ligada à seção Paraná da Ordem dos Advogados do Brasil, Maurício de Paula Soares Guimarães, conta que é procurado com alguma frequência por profissionais preocupados com o futuro. Ele diz que a solução ideal seria ter uma modalidade de previdência cujo patrimônio pudesse ser usado para custear despesas de saúde. Atualmente, o investidor tem apensas duas opções, ambas ao chegar à idade de receber o benefício: obter renda mensal ou sacar todo o saldo. Uma vez que comece a receber o benefício mensal, não há como fazer o resgate integral, nem mesmo em caso de emergência. "Há uma demanda em relação a isso", diz. O assuntem tem sido discutido entre as organizações do setor e os órgãos reguladores, sem nenhum resultado até agora.
Sem essa opção, resta a possibilidade de poupar para fazer frente a custos de emergência alternativa que não é bem vista pelos especialistas. "Eu não indico isso a ninguém", diz Lucas Dezordi, sócio da butique de investimentos Inva Capital. "É arriscado demais", completa. Dezordi dita três dificuldades: será preciso ter muita disciplina para manter as aplicações; a rentabilidade tem de ser sempre positiva; e, mesmo que tudo dê certo, há sempre o risco de alguma despesa ser alta demais. Além disso, os investimentos são mantidos em contas pessoais. "Em caso de um acidente, por exemplo, quem vai liberar esse dinheiro?", pergunta.
O consultor financeiro Altemir Farinhas considera esse investimento "temerário", e cita um caso. "Um amigo estava em uma viagem de férias e teve um problema de saúde", conta. "Os procedimentos custaram dez vezes mais do que a reserva que ele tinha." O especialista compara o plano de saúde a um seguro de automóvel: você só reconhece o valor quando tem de usar. Mas ele acredita que o setor tem muito a evoluir. "Os Procons e a Agência Nacional de Saúde Suplementar precisam fiscalizar bem de perto os contratos dessa área. Eles usam muitos termos técnicos, que impedem o usuário de entender perfeitamente o que está comprando", comenta.



