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Os efeitos das seis greves de servidores públicos federais que ocorrem no Paraná – e que são desdobramentos de greves nacionais – estão sendo sentidos em vários setores da economia, que ainda não conseguem calcular seus prejuízos em dinheiro. As perdas aparecem na forma de cargas acumuladas nas aduanas, escassez de medicamentos e temor de que falte dinheiro em circulação, além de demora na liberação de licenças ambientais, que retarda o andamento de negócios.

Estão de braços cruzados grande parte dos auditores fiscais da Receita Federal, técnicos administrativos do Ministério da Agricultura, servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Londrina e Guarapuava, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Banco Central.

Parados desde o dia 2 deste mês, os auditores fiscais da Receita Federal estão liberando apenas cargas consideradas essenciais para a população, como remédios, e que podem oferecer riscos caso fiquem armazenadas indefinidamente, como explosivos, produtos perecíveis e animais vivos.

No Porto de Paranaguá, a estimativa do sindicato nacional da categoria (Unafisco) é que cerca de US$ 600 milhões em importados aguardam para entrar no país, enquanto que no Aeroporto de Curitiba, em São José dos Pinhais, cerca de 320 toneladas de carga estão paradas. Nas duas aduanas trabalham apenas 30% do total de servidores, mínimo estabelecido por lei.

Em Foz do Iguaçu, 50% dos auditores estão trabalhando, mas o número pode voltar para os 30% hoje, caso as negociações com o governo não avancem. O pátio da aduana está lotado com 700 caminhões, a capacidade máxima.

Dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) mostram que, nas primeiras três semanas da greve dos auditores, a média diária de exportações foi de US$ 449,4 milhões, 8,3% inferior à média deste ano registrada até a segunda semana do mês de maio. Na comparação com abril o impacto da greve fica ainda mais nítido: a média diária das exportações está 12,7% menor.

Para Ardisson Akel, vice-presidente e coordenador do Conselho Temático de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), os motivos dos grevistas são ponderáveis, mas os prejuízos à economia são inevitáveis. "Os setores industriais foram afetados tanto na importação quanto na exportação", avalia. Akel conta que diversos empresários procuraram a Fiep para ajuizar uma ação na Justiça a fim de conseguir liberar cargas. No dia 15, a entidade conseguiu uma liminar favorável obrigando os auditores a liberar cargas paradas há uma semana.

A greve dos auditores preocupa também o setor de hospitalar. O presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), José Francisco Schiavon, teme uma falta de medicamentos caso a paralisação se prolongue. "Acabamos de sair de uma greve dos fiscais da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e agora temos esta. Muitos hospitais têm remédios em estoque, mas os hospitais oncológicos usam muitos produtos importados", explica.

Apesar dos grevistas afirmarem que todos os medicamentos são liberados, Schiavon conta que assim mesmo há itens em falta. De acordo com dados da Associação Brasileira dos Importadores de Equipamentos, Produtos e Suprimentos Médico-Hospitalares (Abimed) a greve na Anvisa causou um prejuízo de mais de R$ 700 milhões à indústria farmacêutica.

Com a greve deflagrada no dia 16 no Banco Central em Curitiba, que atende todo o Paraná, parte de Santa Catarina, do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso, há o risco de faltar dinheiro na praça. "Temos uma adesão de 70%, com 80 pessoas paradas. Os efeitos são sentidos principalmente pelos bancos, que não conseguem fazer certas operações", conta Alexandre Campos, diretor de comunicação do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) em Curitiba.

Enquanto isso, quase 100% dos cerca de 130 trabalhadores do Ibama estão parados há mais de 20 dias. "Toda a parte de fiscalização, atendimento à população, acompanhamento de planos de manejo e liberação de licenciamentos ambientais está sendo feita lentamente, a não ser para as empresas que conseguem liminares", conta o analista ambiental José Otávio Consoni.

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