• Carregando...
Magic Leap One: a primeira impressão não foi boa. | Mason Trinca/Washington Post
Magic Leap One: a primeira impressão não foi boa.| Foto: Mason Trinca/Washington Post

A “próxima grande tendência” da tecnologia de consumo está mais para “próxima tendência talvez daqui a alguns anos”.

A Magic Leap, uma startup da Flórida, Estados Unidos, levantou US$ 2,3 bilhões (sim, bilhões) de investidores a partir da promessa de misturar imagens geradas por computador com a visão humana normal. Pense em Pokémon Go direto em um par de óculos em vez da tela do celular. Envolvida em sigilo por sete anos, a Magic Leap liberou vídeos de demonstração deslumbrantes e deixou algumas pessoas testarem seu produto super moderno em condições controladas.

Agora vêm as análises reais. O primeiro produto da empresa, o Magic Leap One, de US$ 2.295, recentemente começou a ser enviado a desenvolvedores. O Washington Post comprou um par e eu o usei para testar a experiência de realidade aumentada da Magic Leap.

LEIA TAMBÉM:Galaxy Note 9 da Samsung custará a partir de R$ 5,5 mil no Brasil

Aqui está a minha verdadeira experiência de realidade: neste momento, o Magic Leap nem é um truque muito bom. O produto permite que você caminhe pela sala, conecte-se apenas a um computador em forma de disco amarrado na cintura e experimente alguns aplicativos 3D que mapeiam o ambiente. Mas não é dramaticamente melhor que os dispositivos de realidade aumentada rivais (e não muito atraentes) já disponíveis, como o HoloLens da Microsoft.

Palmer Luckey, ex-CEO da Oculus, empresa pioneira da realidade virtual, foi ainda mais crítico. Nesta semana, ele escreveu: “o Magic Leap é uma tragédia”. (A empresa diz que Luckey interpreta mal sua tecnologia.)

Por que alguém deveria se importar? Você provavelmente não comprará um Magic Leap em breve. Mas não vamos ficar olhando para telas de smartphones para sempre, ignorando os familiares e amigos e nos arriscando nas ruas. A Apple e outras empresas de tecnologia também estão considerando a realidade aumentada como substituta do celular. Os óculos do tipo têm um potencial mais amplo do que os equipamentos de realidade virtual, que efetivamente vendam você. Os óculos da Magic Leap, chamados Lightware, são translúcidos. Quando você os usa, parece que um mundo virtual é projetado sobre o real — uma criatura corre em volta da sua mesa, uma janela do navegador web fica pendurada na parede.

Há, sem dúvida, muito a ser trabalhado para um novo tipo de dispositivo de computação. Mas estou surpreso que a Magic Leap não esteja mais adiantada em aspectos básicos — ou mesmo criado algumas experiências simples, mas capazes de surpreender. O Magic Leap One não pode ser perdoado como apenas um protótipo. Além de já estar à venda, a empresa anunciou uma parceria para, em algum momento, demonstrá-lo dentro das lojas da operadora norte-americana AT&T. A Magic Leap diz que esta primeira versão é para “criadores” e programadores.

O mais curioso: a empresa me culpou pelo ajuste inadequado do produto à minha cabeça. O meu foi configurado por um agente que a Magic Leap manda em todas as entregas das compras feitas. Fiquei me perguntando como eles venderão o produto para milhões se a calibração de hardware for tão delicada.

Como é na prática? Aqui estão seis coisas que se destacam da experiência do Magic Leap One em sua estreia.

1) Apenas uma fração da sua visão é aumentada, o que arruina a magia.

É o teste definitivo para qualquer tecnologia de visão expandida: você se sente em um mundo diferente ou pelo menos sob a influência de uma substância alucinógena? Com o Magic Leap One você consegue ver algumas coisas viajadas, mas não tem como esquecer de onde você está.

Olhando através das lentes, é como se houvesse um quadrado que ocupa cerca de metade do campo de visão, onde toda a mágica 3D acontece. Se você se move um pouco, o objeto virtual em foco pode ficar estranhamente cortado. O campo de visão do Magic Leap One — cerca de 50 graus — é um pouco maior que o de alguns rivais, mas ainda não é o bastante para que se brade uma grande vitória.

Alguns outros fatores arruinam a fantasia. Objetos virtuais que se supõe sejam pretos aparecem transparentes. E as cores, em geral, são como luzes de neon.

2) Ele cansou meus olhos.

Após 20 minutos usando o Magic Leap One, senti meus olhos como se tivesse olhado uma tela de notebook por seis horas. O mesmo aconteceu a um colega que normalmente não usa óculos. Isso não acontece com nenhum de nós com capacetes de realidade virtual.

A Magic Leap diz que o cansaço dos nossos olhos é incomum. Você não pode usar óculos com o dispositivo, embora a Magic Leap diga que passará a vender lentes corretivas que podem ser adicionadas ao produto em breve.

3) Não há muito o que se fazer com ele, por enquanto.

Geralmente, quando eu testo um novo tipo de tecnologia, eu a demonstro para diferentes pessoas de diferentes idades e experiência técnica. (Estou disponível para demonstrações e palestras em jantares e festas de criança!) Isso foi especialmente difícil de se fazer com o Magic Leap One porque ele vem com pouquíssimos aplicativos.

A melhor experiência é um app chamado Create. Ele permite pintar em 3D e criar dioramas com criativas animadas pré-definidas.

Outros apps, como uma experiência da NBA, não foram tão interessantes. Um jogo chamado Dr. Grordbort’s Invaders, é anunciado no dispositivo, embora ainda não tenha sido lançado.

Meu maior receio é que a Magic Leap não tenha ainda descoberto como oferecer experiências em realidade aumentada que sejam fundamentalmente melhores do que as que já existem. A Magic Leap diz que seu objetivo com este produto é colocá-lo nas mãos de criadores que terão essas ideias inovadoras.

4) É confortável na cabeça — mas não dá para emprestá-lo a alguém.

O Magic Leap One é mais confortável de usar do que a maioria dos outros computadores de colocar na cabeça. Isso ocorre porque a empresa, espertamente, escolheu colocar as partes mais pesadas, incluindo o processador e a bateria com duração de pouco mais de três horas, no computador circular que fica na altura da cintura, como se fosse uma pochete. O dispositivo da cabeça em si pesa 340 gramas e fica acima das orelhas, mais no topo da cabeça.

Infelizmente, a natureza de calibração individual do produto torna difícil passá-lo a um amigo para testá-lo.

5) “Computação espacial” é legal, mas o controle remoto não faz sentido.

A melhor coisa do Magic Leap One é que ele sabe onde você está em relação a tudo no ambiente. Um punhado de sensores no dispositivo da cabeça mapeia o espaço a seu redor, então você fica livre para se mover pela sala e interagir com coisas virtuais. Não consegue ler um texto em uma placa virtual? Aproxime-se dela fisicamente, como faria com uma placa no mundo real.

Mas interagir com o mundo não é algo suave por causa do controle remoto incluso, que é uma espécie de cruzamento entre o do Apple TV e um controle de Xbox. Os botões não são intuitivos em um ambiente 3D e não há muita consistência no uso dele entre os apps. É um trackpad? Uma varinha mágica? Um sabre de luz?

Fiquei confuso com a interface de vários apps. Por exemplo, no app do navegador web, você pode deixar janelas penduradas em diversas partes do ambiente. Mas como você seleciona, movimenta e fecha todas as janelas que você tem uma sala atulhada? (E você achando que ter muitas abas abertas no computador era um problema.)

O Magic Leap One também pode monitorar os movimentos das mãos e a posição dos seus olhos, o que pode desencadear um potencial interessante. Poucos apps tiram vantagem desses recursos, porém.

6) Sim, você fica parecendo um idiota com isso.

O Google Glass afundou, em parte, pela aparência que ele dava aos seus usuários. O Magic Leap One se parece com um acessório vindo do universo de Mad Max: bem legal se você estiver procurando uma fantasia futurista, mas não algo que você vestiria para ir na padaria da esquina. (A Magic Leap não recomenda usar o produto em ambientes externos, de qualquer forma.)

O design também apresenta problemas sociais. Embora você consiga ver pessoas a seu redor, elas não têm ideia do que você está vendo — se você está prestando atenção ou mesmo gravando elas em vídeo. Esse desequilíbrio nos fluxos de informação também contribuíram para a derrocada do Google Glass.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]