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Reforma tributária

Setor imobiliário prevê carga maior e alta de preços com novo Imposto de Renda

Aumento de carga tributária deve elevar preços dos imóveis, segundo o Secovi-SP. (Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo)

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A proposta do Ministério da Economia de mudanças no Imposto de Renda vai afetar diretamente o mercado imobiliário, com previsão de aumento de carga tributária para o setor e consequentemente de custos para o consumidor. A análise é do diretor do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis de São Paulo (Secovi-SP), Ely Wertheim, que vê com preocupação a pressa do governo em aprovar o projeto ainda este ano.

“Não somos contra ter um projeto de lei, mas não para ser aprovado até 31 de dezembro para valer a partir de janeiro de 2022, bem em um momento em que se deveria estar incentivando as empresas a recuperar o emprego e o investimento e, com isso, gerar mais arrecadação de imposto. A discussão deveria ser colocada ao longo de 2022”, opina.

Um dos pontos mais criticados pelo setor é a tributação de 15% sobre a distribuição de aluguéis de fundos de investimento imobiliário (FIIs), hoje isentos. Esse tipo de ativo serve para financiar o mercado imobiliário, que paga aos investidores uma parte dos ganhos com a locação ou arrendamento de imóveis. O fim da isenção para quem recebe a divisão dos aluguéis de FIIs é visto como uma forma de desincentivar os ativos.

Para o diretor do Secovi-SP, caso a proposta do governo seja aprovada, haverá um aumento considerável de custos para o setor imobiliário, que acabará repassado para o preço dos imóveis. “No fim, quem paga é o consumidor. Então dá-se uma esmola para a pessoa física, que vai pagar um pouco menos de imposto de renda – uma medida eleitoreira, aliás, populista –, mas, de outro lado, vai tirar do consumo dele”, diz.

No dia da apresentação da proposta do governo, o mercado reagiu mal, com uma queda de 2,13% no IFIX, índice composto de cotas de 96 FIIs da B3. “Essa proposta da reforma tributária acaba com a indústria de fundos imobiliários, que tem carregado nas costas a construção civil (somente ano passado cerca de R$ 30 bilhões em emissões de cotas)”, escreveu o fundador da Suno Research, Tiago Guitián Reis, no Twitter. “Espero que o Congresso tenha noção que existirão impactos no setor da construção.”

O Secovi-SP divulgou nota em que afirma que o texto apresentado pelo governo “desestrutura todo um sistema de tributação imobiliária ajustado nos últimos anos, que vem gerando receita e crescimento econômico ao país, e poderá trazer consequências não desejadas pela sociedade: mais desemprego, menos investimento e menos moradia.” Para a entidade, “o mercado imobiliário pode sofrer um dos mais profundos golpes na sua organização, com repercussões nos preços e na oferta de imóveis residenciais, comerciais, logísticos e industriais. E, naturalmente, na geração de emprego e renda.”

“A gente entende como absolutamente descabida uma coisa dessas [tributação FIIs]”, diz Wertheim. “O fundo de investimento imobiliário é um funding importante, que permite o desenvolvimento do setor. Tirar esse incentivo me parece um equívoco”, avalia.

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Governo justifica tributação de FIIs como forma de redução de distorções

A justificativa da equipe econômica do governo é que a tributação sobre FIIs atribui “um tratamento mais próximo do adotado para outros tipos de fundos”.

“Com o objetivo de reduzir as distorções existentes entre as diversas modalidades de fundos de investimento e ainda em relação a outros rendimentos, propõe-se a revogação de benefícios fiscais que hoje resultaram em um planejamento tributário com perdas na arrecadação e distorções, como no caso do aluguel de um imóvel, que tem seus rendimentos tributados na tabela progressiva, enquanto os rendimentos de edifícios vendidos por meio de fundos de investimento e alugados são isentos de tributação”, diz a justificativa anexada ao projeto de lei.

Apesar do discurso de reduzir distorções, a proposta do governo não mexe na isenção que existe para debêntures incentivadas – Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI), Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) e Fundos de Investimentos em Participações em Infraestrutura (FIP-IE). “Mas agora vai se tributar fundos imobiliários que investem nesses ativos? Não faz muito sentido para mim”, diz o sócio fundador e CEO da Turing, André Chede.

“Não é verdade que os FIIs sejam isentos de tributação. O fundo distribui o lucro que teve depois de já pagar o imposto. O sujeito que recebe do fundo pode até ser isento, isso é verdade, mas o fundo já paga o imposto, e o que ele distribui é o resultado líquido. É como se o seu salário líquido, depois de descontado o imposto de renda retido na fonte, fosse taxado novamente quando você vai dividir com a sua família”, argumenta Wertheim.

O diretor do Secovi-SP questiona ainda a tributação de dividendos, que deve aumentar a carga de impostos global não apenas as empresas do setor imobiliário, como qualquer pessoa jurídica no momento da distribuição de lucros entre acionistas.

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Mudança na tributação sobre ganhos de capital com bens móveis é considerada positiva

Wertheim elogia, por outro lado, outro dispositivo previsto no projeto de lei, que é a mudança na tributação sobre valorização de imóveis. Atualmente, o imposto é recolhido no momento da venda de um bem imóvel e incide sobre a valorização desde o momento da compra, com uma alíquota entre 15% e 22,5% sobre o ganho de capital. A proposta é permitir ao contribuinte atualizar o valor anualmente, pagando uma taxa de 5% sobre a diferença em relação ao preço original de aquisição.

“Essa é uma ideia boa. Se você comprou um imóvel um ano atrás, não vai ter efeito, mas se você tem um patrimônio de cinco, dez, vinte anos, é uma medida muito interessante, porque você vai pagar um pouco, atualizar o valor, e quando você for vender o imóvel, o imposto que vai pagar será sobre um valor infinitamente menor. Essa é uma medida inteligente, moderna, e que, na maioria dos casos de investidores de imóveis vai ser muito benéfica”, avalia.

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