Na tentativa de reverter a demissão, ocorrida na última quinta-feira, de 900 pessoas que trabalhavam na Bosch, o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) protocolou um pedido de mediação junto ao Ministério Público do Trabalho. Com isso, a categoria pretende abrir um canal de negociação com a empresa. Paralelamente, o sindicato também diz ter ingressado com uma liminar no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) pedindo a suspensão dos desligamentos.
O presidente do SMC, Sérgio Butka, diz que as medidas são importantes porque a empresa se recusou a conversar com o sindicato antes e após as demissões, alegando que elas são definitivas. O Ministério Público confirmou o recebimento do pedido de mediação, que ainda está sendo analisado. Segundo a assessoria de imprensa do órgão, outro pedido semelhante, aberto em janeiro, já estava tramitando. Nesse processo, o SMC acusava a Bosch de "fazer terrorismo" com seus funcionários. A promotoria avalia a possibilidade de juntar os dois requerimentos.
Resposta
Em resposta às acusações do sindicato, a Bosch, por meio de nota, reforçou que todas as ações de demissão foram tomadas dentro da legalidade. Ela alega que, antes de tomar a decisão, realizou várias ações para minimizar os impactos econômicos negativos sofridos desde o último trimestre de 2008. Entre essas medidas, estaria inclusive uma proposta de redução de jornada acompanhada de redução de salário. Em entrevista na quinta-feira, o vice-presidente de sistemas a diesel da Bosch, Daniel Korioth, disse que todas as suas ações "respeitam a estrutura empresa, sindicato e pessoas."
O diretor do SMC Jurandir Ferreira, o "Alicate", funcionário da Bosch, rechaçou a posição da empresa. "Eles alegam que o sindicato rejeitou a proposta, mas na verdade 90% dos funcionários não concordaram em ter redução de salário sem ter garantia de emprego. Se eles aceitassem diminuir 20% do salário com garantias de emprego, ou qualquer outro plano alternativo como PDV [programa de demissão voluntária] ou PDI [Pedido de Demissão Indicada], talvez o resultado tivesse sido diferente", defende o sindicalista.
Readequação
A demissão de 900 funcionários da Bosch significa um corte de aproximadamente 25% na sua capacidade produtiva. Isso está sendo encarado pela presidência como uma readequação aos novos patamares do mercado mundial, em crise desde setembro do ano passado. Com produção 60% baseada em exportações, a Bosch acumula no ano queda de 55% nas vendas externas, o que refletiu em diminuição de 40% no faturamento, segundo o vice-presidente Daniel Korioth.
Embraer
Episódio semelhante aconteceu em fevereiro com a fabricante de aeronaves Embraer, que cortou 4,2 mil trabalhadores de uma só vez, o equivalente a 20% do quadro de funcionários. Assim como a Bosch, a empresa sofria financeiramente com a queda nas exportações e também foi acusada de demitir sem negociação prévia. O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) entrou com ação no TRT afim de impedir as demissões, mas a Justiça negou o pedido apenas impôs pagamentos extra de aviso prévio e prorrogação do plano de assistência médica. O sindicato prometeu encaminhar o caso ao Tribunal Superior do Trabalho (TST).
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