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Há muito tempo a economia brasileira não passava por um período tão longo de desenvolvimento econômico. Mesmo o recuo que o PIB nacional sofreu em 2009 pode ser considerado uma vitória, já que foi suave na comparação com outras nações. Encolhemos 0,6% – os Estados Unidos, para comparar, perderam quase 3,5% naquele ano. Fora esse momento de crise, o país está numa onda ininterrupta de crescimento desde 1993. Uma pena que tanto vigor esteja sendo colocado em risco pelo endividamento.

A Gazeta de ontem publicou uma ótima reportagem sobre o tema, assinada pela repórter Cristina Rios. A matéria mostra que o porcentual da renda das famílias brasileiras comprometida com dívídas tomadas junto a bancos e financeiras está em 42%, um nível nunca atingido antes. Mais: desde 2008, as dívidas aumentaram 80%, enquanto que a massa salarial cresceu 33%. É como se você ganhasse um aumento de R$ 1 mil no salário e, para comemorar, comprasse um carro novo, financiado, com parcelas de R$ 2,5 mil. A mensalidade do financiamento "engole" o aumento e um pouco mais; no fim das contas, você tem menos dinheiro na mão do que tinha antes.

Tanto entusiasmo pode ser interpretado como um sinal de que o cidadão confia no crescimento do país – e esse é um lado bom. Também pode ser entendido como uma reação atabalhoada a décadas de consumo reprimido, o que também deve ser correto. Só que também implica em risco: se a economia tiver um pouso forçado, daqueles provocados pela encrenca dos países europeus, como ficam os endividados? É mais ou menos o que falam os especialistas – a maior parte fora do país, é verdade – que alertam para o risco de uma bolha de crédito no Brasil. O The Wall Street Journal, por exemplo, publicou em setembro uma reportagem que apontava para o "superaquecimento" da economia brasileira, movido pelo crédito e pela entrada de capital externo. Em junho, a Economist colocou o Brasil em segundo lugar numa lista de países sob risco de superaquecimento.

O problema não é apenas o aumento do volume de crédito. Ele sempre foi muito baixo no Brasil. A questão é que o brasileiro endivida-se à taxa de 158% ao ano, que é a média do cheque especial no país, segundo a Associação Nacional dos Exe­cutivos de Finanças, Ad­­­mi­nis­tração e Contabilidade (Anefac). Ou de 238% ao ano, taxa média do cartão de crédito, aquela que o sujeito paga quando atrasa a fatura ou faz pagamentos parciais. Ao aceitar essas taxas de juros, o cidadão está transferindo uma parte desse dinheiro para as instituições financeiras e aniquilando o seu próprio poder de compra.

Explicando melhor. Digamos que determinado consumidor se encantou com uma tevê led de 55 polegadas. À vista ela custaria R$ 5,2 mil, quantia que sobe para R$ 5,9 mil na compra parcelada em 12 vezes. Ao optar pelo pagamento a prazo, o consumidor está, voluntariamente, cedendo recursos à financeira que está por trás do negócio. São R$ 700 que ele poderia usar de outra forma.

O consumo interno tem crescido graças ao crédito, mas a poupança também é importante para um país. No Brasil, o nível de poupança vem derrapando há tempos e, hoje, é praticamente igual ao de 1981: 16,9% do PIB, contra 17,0% naquele ano. Nesse fundamento o Brasil perde para os 22,7% da Argentina, para os 19,3% da Colômbia e para os 28,5% do Chile – isso para não comparar com os 31,9% da Coreia.

A maior parte da "despoupança" brasileira é culpa do governo e da sua dívida. Mas o consumidor paga uma conta cara: em um artigo publicado em julho no site do diário britânico Financial Times, o chefe da área de análise de países emergentes da corretora japonesa Nomura, Tony Volpon, estima que 30% da renda disponível das famílias brasileiras serve para pagar juros.

Para evitar uma crise futura, o cidadão brasileiro tem seu papel: investir em si mesmo, economizando e comprando à vista. Assim poderá consumir sem medo e terá recursos para viver a vida. Como efeito colateral, afasta o risco de crise.

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