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A taxa de juros do comércio caiu para 4,63% em setembro, segundo pesquisa da Anefac | Daniel Castellano / Gazeta do Povo
A taxa de juros do comércio caiu para 4,63% em setembro, segundo pesquisa da Anefac| Foto: Daniel Castellano / Gazeta do Povo

Balança ruim alivia expectativa de alta

A alta nos juros só não deve ser maior por causa da queda de preços das commodities, principal componente da balança comercial brasileira. O aumento da oferta de produtos e a desaceleração da economia chinesa, maior importadora de matérias-primas, fez os preços internacionais despencarem, compensando parte da pressão exercida pelo dólar e pelo reajuste esperado de preços controlados sobre a inflação.

A soja, por exemplo, teve uma depreciação de 28% no ano, com a cotação do buschel caindo de US$ 13 para US$ 10 de janeiro a outubro de 2014. Para o ano que vem a previsão é de nova queda, para US$ 9. Com a desvalorização das commodities, os preços internos tendem a ficar levemente menos pressionados, especialmente da cadeia de alimentos.

Por isso, o economista da GO Associados, Gesner Oliveira, afirma que as estimativas para o IPCA no último trimestre não devem sofrer grandes alterações. "Temos duas pressões inflacionárias: uma depreciação do câmbio e um desrepresamento dos preços. No entanto, temos dois amortecedores dessa pressão: o preço mais baixo das commodities e a desaceleração da demanda", explica.

Para o especialista em investimentos da Gargos Consultora, Renato Santos, a alta de juros só não será mais acelerada no ano que vem por causa desta desvalorização nos preços internacionais de algumas commodities. "É uma pressão a menos em um cenário complicado", completa.

A persistência da inflação oficial próximo do teto da meta, a 6,5% ao ano, torna provável um novo ciclo de aumentos na taxa de juros para o ano que vem. Hoje, a Selic, taxa básica de juros definida pelo Banco Central (BC), está a 11% ao ano, um patamar que tem se mostrado insuficiente para arrefecer a alta dos preços. Para controlar a escalada do IPCA, os economistas consultados pelo Boletim Focus, do BC, preveem uma alta de meio ponto porcentual na metade de 2015. O mercado, no entanto, considera uma alta mais acentuada e acelerada, com os juros básicos batendo os 12% no primeiro semestre do ano que vem.

INFOGRÁFICO: Veja o aumento da taxa básica e juros para o consumidor

Com a economia parada, era de se esperar uma inflação menos contundente. Como na prática o cenário é de estouro do teto nos próximos meses, o caminho mais natural é promover uma nova alta na taxa de juros. Na teoria, com o aumento do custo do dinheiro a prazo, a demanda se desacelera, juntamente com a alta dos preços.

Uma boa medida do que o mercado espera para os juros no ano que vem são os juros futuros praticados nos contratos de investimentos de longo prazo. Cálculos da gestora de recursos Quantitas mostram que os juros futuros embutem a possibilidade de uma alta da Selic em cerca de 1 ponto porcentual – para 12% ao ano – ao longo do primeiro semestre de 2015, sendo 0,5% em janeiro, logo na primeira reunião do Conselho de Política Monetária do BC (Copom) em 2015.

Para Rogério Braga, sócio de renda fixa e multimercados da Quantitas, a incerteza com o cenário eleitoral e a possibilidade de alta do dólar nos próximos meses pode acelerar a alta dos juros para controlar a inflação. "O dólar mais caro impacta diretamente na inflação e o mercado, naturalmente, aumenta os juros futuros. Os juros vão aumentar, só se discute quando isso deve acontecer", prevê.

Reajustes represados

A necessidade do próximo governo em corrigir os preços administrados, como gasolina e energia, também deve apertar o cerco para a taxa de juros. "Uma política mais agressiva de juros tem um caráter imediato e daria um pouco mais de liberdade aos preços controlados, que estão defasados", afirma o especialista em investimentos da Gargos Consultora, Renato Santos. O economista trabalha com um cenário um pouco mais conservador, com aumentos gradativos de 0,25 ponto porcentual a cada trimestre de 2015.

Para o presidente da Ordem dos Economistas do Brasil (OEB), Manuel Enriquez Garcia, o aumento da taxa Selic também agiria contra a expectativa inflacionária. "Aumento dos juros é um sinal que o Banco Central acaba dando aos agentes econômicos de que ele está atento à variação de preço e que, se necessário, ele pode apertar a política monetária para evitar que a inflação fuja do controle", diz.

Crédito

Após oito aumentos seguidos, juros ao consumidor caem

Apesar da perspectiva de alta para o ano que vem, os juros ao consumidor caíram em setembro, depois de um ciclo de oito altas seguidas, segundo o Boletim de Operações de Crédito do Banco Central. A taxa de recursos livres para o consumidor caiu de 6,08% ao mês para 6,06%. Já para empresas, a taxa baixou de 3,44% para 3,43%, pondo fim a 12 meses de altas seguidas.

Segundo o coordenador da pesquisa e diretor executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, a taxa ao consumidor não deve crescer substancialmente nos próximos meses. "A não ser que, eventualmente, por conta da piora no cenário econômico, a inadimplência venha a ser elevada, o que levaria as instituições financeiras a subirem suas taxas de juros mesmo em um ambiente de manutenção da taxa básica de juros", explica.

A instituição pondera que outro fator a ser considerado e que pode até provocar redução nas taxas de juros está relacionado ao fato de o Banco Central ter reduzido os compulsórios. Na avaliação da Anefac, isso poderá provocar alguma redução dos juros nas operações de crédito.

Linhas

Para pessoa física, das seis linhas de crédito pesquisadas pela Anefac, quatro tiveram taxas de juros reduzidas em setembro: juros do comércio (de 4,68% para 4,63%), CDC de bancos para financiamento de veículos (1,81% para 1,79%), empréstimo pessoal em bancos (3,47% para 3,44%) e empréstimo pessoal em financeiras (de 7,32% para 7,26%). Uma se manteve estável: cartão de crédito rotativo (10,78%).

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