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Pregão de ontem negociou 390 mil contratos de dólar para o mês seguinte, acima da média de outubro: até quarta-feira, média diária era de 270 mil contratos | Marcos Santos/USP Imagens
Pregão de ontem negociou 390 mil contratos de dólar para o mês seguinte, acima da média de outubro: até quarta-feira, média diária era de 270 mil contratos| Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Opinião

Alta do dólar veio para ficar

Não há dúvidas de que o cenário eleitoral gerou um estresse traduzido na queda da bolsa e na alta do dólar. Dos dois movimentos, a alta da moeda americana é a mais baseada em fundamentos. O dólar vem se valorizando no mundo todo porque o crescimento da economia dos Estados Unidos mais cedo ou mais tarde levará à elevação da taxa de juros pelo Fed, o banco central americano. Esse movimento faz com que haja uma atração de capitais para a economia dos EUA.

Há também fatores internos que vão além das eleições e influenciam as cotações das moedas estrangeiras. A inflação relativamente alta, aliada ao crescimento baixo, reduz a atratividade do mercado de capitais no Brasil, o que pressiona a cotação do dólar. Além disso, a balança comercial deixou de acumular superávits vistosos e vai sofrer no ano que vem com a queda nos preços das commodities. É provável que o fim do processo eleitoral amenize os movimentos do câmbio, mas a aposta comum entre analistas é a de que o real vai continuar se desvalorizando até encontrar um novo patamar de oscilação. Difícil dizer qual será esse nível, mas é certo que ele pode ser um alento para a indústria, ao mesmo tempo em que deve dificultar o controle da inflação no curto prazo.

Guido Orgis, editor executivo de Economia

As especulações na reta final da corrida eleitoral impulsionaram o dólar ao maior patamar em quase seis anos. No penúltimo pregão antes da eleição, o dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,03% e encerrou valendo R$ 2,510, a maior cotação desde 4 de dezembro de 2008. O dólar comercial subiu 1,29% e foi a R$ 2,513. O real teve a maior baixa em relação ao dólar entre 24 moedas emergentes.

INFOGRÁFICO: Veja a cotação atual do dólar

Já a Bolsa teve o quarto pregão negativo da semana e zerou os ganhos do ano. O Ibovespa fechou em baixa de 3,24%, marcando 50.713 pontos. É a menor pontuação desde 15 de abril deste ano. Em 2 de setembro, o índice marcava 61.895 – alta de 20,2% no ano.

Segundo analistas, as oscilações de ontem tiveram como motivo rumores sobre a abertura de vantagem da presidente Dilma Rousseff (PT) sobre o candidato Aécio Neves (PSDB). As previsões foram confirmadas pelos institutos Ibope e Datafolha em pesquisas divulgadas logo após o fechamento dos mercados: no Datafolha, Dilma obtém 53% e Aécio, 47% das intenções de voto, considerando os válidos; no Ibope, os números são Dilma com 54% e Aécio com 46% (levantamentos registrados no Tribunal Superior Eleitoral sob os números BR-01168/2014 e BR01162/2014). "[A expectativa eleitoral] foi um fator mais do que relevante para puxar o dólar para cima, já precificando uma vitória da Dilma no domingo", justifica Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso.

Volatilidade

A expectativa para hoje é de mais um dia de forte ajuste nos preços de ações e da moeda americana. Há uma percepção de que a alta recente, devido ao avanço da oposição nas pesquisas, não foi completamente revertida.

Para Marco Aurélio Barbosa, analista da CM Capital, a Bolsa já começou a precificar a vantagem de Dilma. "O mercado tenta antecipar. Uma vantagem de seis, sete pontos nas pesquisas dificilmente vai se reverter nas urnas. A chance de uma queda brusca na segunda-feira cai", diz.

"A grande volatilidade prevista é, sim, para segunda, quando o mercado trabalhará diante de fatos. Pode até adiantar parte por causa das pesquisas, mas ainda será diante de expectativa, como tem sido ao longo desta semana", disse Eduardo Glitz, diretor de varejo da XP.

Por causa dessa expectativa, a corretora XP decidiu triplicar as exigências de depósito para operações consideradas de altíssimo risco na próxima segunda. Por exemplo, um investidor que pretenda comprar R$ 100 mil em uma aplicação no mercado futuro terá de depositar pelo menos R$ 36 mil na segunda. Até hoje, a exigência é R$ 12 mil. "A pessoa quebra se o índice cai 12%; perde os R$ 12 mil e fica devendo os R$ 100 mil emprestados. Com R$ 36 mil, fica mais difícil."

"Essa volatilidade vai seguir até saírem os nomes e os projetos do próximo governo. E isso independentemente de quem ganhar", diz Marcio Cardoso, sócio da Easyinvest.

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