Em Curitiba, o bancário paraibano Disney Barroca Neto não perde um episódio de suas séries de tevê preferidas, como Lost e The Big Bang Theory. De Buenos Aires, o publicitário santista Túlio Pires Bragança acompanha sempre que pode os jogos dos campeonatos no Brasil embora seu time, a Portuguesa Santista, tenha caído para a terceira divisão do paulistão deste ano. Em comum, o fato de que nenhum deles aguarda a transmissão na televisão. O campeonato brasileiro não passa na tevê aberta portenha, e as séries norte-americanas chegam ao Brasil com um atraso de meses em relação à transmissão nos Estados Unidos. Para ver seus programas favoritos, em tempo real, Túlio e Disney usam o computador.
A pulverização de programas que replicam o conteúdo televisivo na internet é um fenômeno intimamente ligado à popularização das séries de tevê norte-americanas e ao surgimento de fãs de carteirinha desses programas. Há alguns anos, a "geração Friends" aguardava ansiosa pelos episódios de Chandler, Joey e companhia pela tevê a cabo; agora, a "geração Lost" não tem tempo a perder.
Se nas quatro primeiras temporadas de Lost ficou notório que os fãs assistiam a um novo episódio da trama apenas quatro horas depois de ele ser exibido nos EUA (com legendas em português feitas pelos internautas), 2009 foi o ano que marcou a força do "live streaming": americanos retransmitem a atração pela internet e o mundo inteiro pode vê-la ao mesmo tempo.
"Antes eu baixava para ver depois. Agora eu assisto em streaming, porque baixar é muito demorado. Eu pego o horário que vai passar lá [nos EUA] e assisto aqui no Brasil", diz Barroca Neto. Só quando ele perde um episódio é que faz o download na manhã seguinte. "No outro dia de manhã já está disponível para baixar, e com legenda. Inclusive a legenda é melhor do que a do DVD. O pessoal da internet passa a madrugada legendando. Os nerds de hoje são bem úteis."
O site usado por ele, o Justin.tv, é o mesmo que o publicitário Túlio Bragança usa para assistir aos jogos de futebol do brasileirão. Nos quatro anos em que está em Buenos Aires, ele acompanhou a evolução da tevê na internet. "Os sites se multiplicaram e a conexão está cada vez mais rápida", diz Bragança. O bancário Barroca Neto concorda: "Esse tipo de serviço está bem evoluído. Eu assino TV a cabo, mas é até um pouco desnecessário. Se você tem paciência para procurar, tem acesso a todo tipo de conteúdo, e de graça."
Hábitos
Além da evolução, mudou também a relação do telespectador com a televisão. Antes ele era refém da programação. O controle remoto só permitia mudar de canal e escolher o que assistir naquele exato momento. Hoje, o hábito tornou-se ativo. O mouse dá ao internauta a escolha do que ver na hora que melhor lhe convém.





