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Gui Barthel e Marcos Souza, do Grupo NZN, de Curitiba: produtos, como o site Baixaki, atendem ao público nerd há 14 anos | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Gui Barthel e Marcos Souza, do Grupo NZN, de Curitiba: produtos, como o site Baixaki, atendem ao público nerd há 14 anos| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Artigo

Grupo é tema de estudos na área de educação

Angela Dillmann Nunes Bicca, professora doutora em Educação, coordenadora do projeto de pesquisa Aprendendo a ser jovem/geek no Instituto Federal Sul -Rio-Grandense .

A vida em um mundo globalizado e altamente tecnológico tem possibilitado mudanças na forma como as pessoas produzem as suas identidades culturais. As identidades têm sido cada vez mais pautadas nos recursos oriundos dos meios de circulação de informações bem como dos produtos oferecidos pelo mercado. Nesse contexto, surgiram e se ampliaram grupos culturais juvenis, entre os quais o denominado nerd/geek. Trata-se de um grupo cujos integrantes não pertencem necessariamente a uma mesma faixa etária, agrupando-se em função do estilo de vida que almejam.

Pesquisa desenvolvida no Instituto Federal Sul, em Pelotas, objetiva discutir os modos como se constituem as identidades nerd/geek a partir de sites disponibilizados na internet. O estudo se apoia na compreensão de que os sites são espaços a partir dos quais se processam inúmeras aprendizagens que incluem visões de mundo, valores e estilos de vida.

Entre os temas mais recorrentes nos sites examinados aparecem artefatos tecnológicos, saberes escolares, literatura, cinema, quadrinhos, seriados de TV e jogos. As pessoas que interagem nesses sites não apenas assistem a um filme ou leem um livro. Elas buscam conhecê-los em detalhes. Além disso, relatam ter sucesso tanto como estudantes quanto como profissionais.

Por fim, cabe destacar que os estilos de vida que os jovens buscam assumir têm sido foco de diversas pesquisas na área da Educação. Afinal, esses jovens estão presentes em todos os níveis de ensino oferecidos pelas instituições brasileiras.

Conteúdo

Público segmentado ganha sites dirigidos

Hoje são 140 funcionários trabalhando em oito sites diferentes com alcance de 50 milhões de pessoas por mês e projeção de faturamento para 2014 de R$ 50 milhões. Mas o Grupo NZN começou com o site Baixaki, em 2000, para downloads de games e degustação de programas utilitários. Na época, Gui Barthel era estudante de Ciência da Computação na Universidade Federal do Paraná e estava procurando uma oportunidade para surfar na onda da internet. "Sou nerd antes de nerd ser moda", diz o CEO do NZN. Foram dois anos de trabalho sem ganhar nenhum centavo, até entrar o primeiro anunciante. Em 2005, foi lançado o segundo site, o Tudo Gostoso, ligado à culinária. Os outros títulos surgiram a partir da identificação dos perfis dos usuários. Hoje, o NZN é uma editora eletrônica, com produção própria de conteúdo. Toda a rentabilidade vem da publicidade. Mas nem sempre tudo foi sucesso. Barthel e Marcos Souza, CFO do grupo, fizeram apostas erradas, como um site feminino e uma comunidade de viagens, que consumiram, cada um, R$ 2 milhões durante dois anos. "Aprimoramos o feeling. Um produto ruim sai do ar em seis ou oito meses", explica Barthel.

Atenção, senhores pais. A aparente desocupação da criança ou adolescente diante do videogame ou no computador pode ser uma forma de ganhar dinheiro. Para os donos de sites dirigidos ao público ligado à cultura pop e tecnologia – os nerds –, tem sido uma excelente fonte de renda. E quase todos começaram seus negócios despretensiosamente, como produtores informais de conteúdo, compartilhando vídeos caseiros e informações sobre séries de TV, games, tecnologia, cinema, literatura, esportes e tudo o mais que possa reunir dois ou mais fãs, que se tornam especialistas em determinados assuntos. Guardadas as devidas proporções, são quase minis Marks Zuckerbergs, nerd milionário que criou o Facebook e tornou-se inspiração para empreendedores com o mesmo perfil.

Curitiba concentra alguns dos maiores players nacionais do mercado nerd. Sites como Coisa de Nerd, Jovem Nerd e o Grupo NZN, que administra o Baixaki e outros sete títulos de conteúdo dirigido, são baseados na capital paranaense. Ainda que o sucesso dos empreendimentos não dependam da localização geográfica dos seus fãs e seguidores, a cidade também tem público nerd fiel, disposto a participar de eventos que reúnam serviços e produtos ligados às diferentes temáticas. Essa foi a aposta do bancário Gustavo Brasman, de 38 anos. Nerd desde criancinha, Brasman consome e produz literatura fantástica , além de curtir quadrinhos e filmes. "Quando você gosta muito de determinado tema, você é um nerd. Pode ser de vinho, games ou cinema", diz.

Frequentador assíduo de eventos do gênero, decidiu montar um que reunisse os fãs de todas as linhas nerds que conhece. Assim surgiu o primeiro Megacon, realizado no último fim de semana, em Curitiba. Dimensionado para 1,5 mil pessoas, atraiu mais de 4 mil. Os visitantes curtiram exposição de objetos e produtos ligados à cultura pop, assistiram palestras de autores e artistas, e participaram de oficinas e concursos. E Brasman, sem querer, abriu mais uma frente de negócios do mercado nerd. "Já tem gente pensando em formatar novos eventos que, em geral, são muito segmentados", diz.

Brasman conseguiu o que queria: fomentar o mercado. Na reta final, precisou recusar expositores e apoiadores, por falta de espaço. Investiu R$ 15 mil na organização do Megacon e já pensa no próximo. Vai precisar ser criativo. "Nerds são bastante exigentes. Querem sempre mais da mesma coisa, mas de uma forma diferente", diz.

Oportunidades

A explosão do mercado nerd nos últimos dez anos mostra o sucesso das empresas de nicho. João Muniz criou o Relíquias do Mundo em 2008. Especializou-se em garimpar objetos com certificação de origem e autenticidade das mais diferentes temáticas, do cinema à astronomia. A coleção de 115 peças é usada para montagens de exposições itinerantes, vendidas para shoppings, feiras e eventos. Em média, uma mostra de 45 dias é vendida por R$ 150 mil. "Metade disso vai para seguro e logística. Também faço parcerias para ajudar instituições sociais. O interesse tem aumentado, então terceirizei a administração da agenda das exposições", diz. Quase nenhum item está à venda, mas o cliente disposto a pagar bem pode encomendar uma coleção personalizada. "Tenho muitos produtos para poucos clientes", diz.

Personalidades da rede têm apoio de agentes

A remuneração dos donos de canais de vídeo no YouTube, a ferramenta mais usada pelos nerds para produção de conteúdo, é feita pelo número de cliques. A cada 1 milhão de visualizações, o rendimento varia de R$ 2 mil a R$ 3 mil, dependendo da época do ano.

O site Jovem Nerd, por exemplo, acumula 10,6 milhões de visualizações por mês, com mais de 3 milhões de usuários únicos. É uma audiência dirigida que tem sido bastante valorizada no meio publicitário. Agências formatam mídias para expor anunciantes. Uma inserção de um spot de dois minutos em um podcast de um site com audiência na casa dos milhões por mês pode custar por volta de R$ 6 mil.

Outra forma de monetizar a audiência de um canal é apostar na influência dos protagonistas. O estilo bem humorado e brincalhão de um youtuber ajuda a vender produtos que tenham identificação com o público, formado por jovens de 18 a 30 anos. Pioneira nesse tipo de marketing, a Influencers, de Porto Alegre, se especializou em identificar e administrar a carreira de personalidades influenciadoras na rede . "Esses meninos são diferentes de atores, que podem construir personagens. A autenticidade é um dos grandes valores e isso ganha rentabilidade", diz Gustavo Teles, CEO da agência, que administra os contratos dos quatro maiores canais do YouTube no Brasil.

A dupla Leon Martins e Bruno Aiub, o Monark, respectivamente dos canais Coisa de Nerd e Randons Play, está na Influencers. A remuneração é sigilosa, mas o faturamento dá pistas de andar muito bem. Por causa da audiência, a média de rendimento mensal somente pelos acessos do YouTube dos rapazes varia de R$ 30 mil a R$ 50 mil. "Os meninos não mexem na conta do YouTube há um ano. Eles estão vivendo somente do marketing de influência", conta Teles.

Planos de mídia

A agência também trabalha do outro lado do balcão, elaborando planos de mídia para anunciantes que procuram a plataforma digital. Aberta no segundo semestre de 2013, fechou o ano passado com R$ 700 mil de faturamento. A projeção para 2014 é chegar a R$ 1,5 milhão. "Também vamos investir na formação de influenciadores. Tem gente com talento, mas que também pode aperfeiçoar sua produção", explica.

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