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Fábrica da Bematech: empresa atua hoje em hardware e software. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Fábrica da Bematech: empresa atua hoje em hardware e software.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Líder em seu segmento de atuação no país, a TOTVS quer deixar o rótulo de desenvolvedora de softwares de gestão para passar a ser vista como uma fornecedora de soluções de negócio. A mudança não é meramente semântica. Além de apostar em serviços diferenciados para cada segmento, tanto em back office quanto em produtividade, a empresa promoveu uma mudança este ano em seu alto escalão: o fundador da companhia, Laércio Cosentino, passou o bastão da presidência para Rodrigo Kede, ex-executivo da IBM.

A “virada” estratégica da TOTVS ganhou uma nova dimensão há pouco mais de um mês, com o anúncio da compra da Bematech, companhia que atua em soluções de automação em varejo. O negócio, que ainda aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), se dará por meio da compra de ações da empresa paranaense, em uma operação que pode movimentar R$ 549,8 milhões – o maior valor já desembolsado pela TOTVS em uma aquisição.

Em visita semana passada a Curitiba, Cosentino e Kede falaram com exclusividade à Gazeta do Povo sobre o negócio. Os executivos da TOTVS apostam no processo de digitalização do varejo – setor que reúne 54% das 5 milhões de empresas ativas no país –para lucrar nos próximos anos com a venda de soluções e serviços da companhia e, agora, da Bematech, principalmente para pequenos e médios empreendedores. Apesar de as duas já atuarem no varejo e em outros setores como um todo, cada uma possui segmentos de maior atuação: a empresa paranaense, por exemplo, é forte na área de cosméticos, transporte de passageiros, restaurantes e hóteis. A TOTVS, por sua vez, é mais presente em supermercados, lojas de vestuário e magazines e concessionárias de veículos, além de fornecer soluções para e-commerce.

Incorporação

O valor das ações da Bematech atribuído na aquisição foi de R$ 11. Apesar dos executivos de ambas as empresas terem destacado para os investidores o potencial crescimento com a oferta conjunta dos produtos e serviços das companhias, analistas do Credit Suisse avaliaram a aquisição como neutra para a TOTVS, citando que a Bematech reforçará a presença em alguns setores do varejo, mas deve trazer novos desafios devido a sua exposição a hardware, mudanças regulatórias e câmbio.

A TOTVS também quer aproveitar o amplo canal de distribuição da Bematech para fortalecer sua presença em território nacional – a empresa paranaense tem hoje cerca de 5 mil revendas em todo o país e atende cerca de 500 mil estabelecimentos comerciais no Brasil e no exterior.

“Se você acredita que mais de 2 milhões de empresas do varejo vão se digitalizar, capilaridade passa a ser algo extremamente importante. Já temos uma presença nacional e poderemos adicionar essa capilaridade (da Bematech) bastante forte. A nossa missão é de ser realmente a empresa que vai digitalizar, fidelizar, liderar e definir os padrões do varejo”, afirma o presidente da TOTVS, Rodrigo Kede.

Dados

O executivo também não esconde que a ampla base de clientes da Bematech reforça a intenção da TOTVS de trabalhar com soluções de big data em cima da base de dados das empresas atendidas. “Você tem acesso a uma base de dados de informação que vai te dar perfil de cliente, comportamento, onde está vendendo, o que se está vendendo no setor e como. E a chance de monetizar esses dados é muito grande”, explica Kede.

Empresa ainda evita falar em reestruturação

A incorporação da Bematech pela TOTVS já foi aprovada nas assembleias de acionistas das duas empresas, no início de setembro. Por enquanto, os executivos das companhias não têm se pronunciado oficialmente sobre possíveis reestruturações na estrutura e no efetivo das empresas – processo quase inevitável em aquisições, principalmente envolvendo companhias que atuam nos mesmos setores. Hoje, a Bematech conta com cerca de mil colaboradores no Brasil e em mais seis países (China, Taiwan, EUA, Argentina, Chile e Portugal), enquanto a TOTVS soma 12 mil funcionários.

O posicionamento oficial é de que a TOTVS ainda aguarda o aval do Cade para então passar a discutir possíveis mudanças administrativas nas duas companhias. Mesmo assim, o fundador e CEO da TOTVS, Laércio Cosentino, reforça que a empresa não pensa em enxugar o efetivo para cortar gastos ou equilibrar os custos da aquisição.

“Se você olhar o nosso histórico, somos uma empresa que, em números líquidos, no final de cada ano mais contratamos do que demitimos. Precisamos constantemente de talentos. Todo mundo que for um talento dentro de qualquer que seja a empresa, a última coisa que queremos é perder esse profissional”, diz.

Saída da Bolsa

O que é certo até o momento é que a marca Bematech deve ser mantida no mercado – por outro lado, as ações da companhia paranaense devem ser retiradas de circulação na Bolsa assim que o processo de venda for concluído. A expectativa é que a aprovação do Cade saia até o fim do mês que vem e que a TOTVS ofereça ofertas conjuntas com a Bematech até o final do ano.

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