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Cornélia Gorski é bióloga, mas está trabalhando em eventos desde outubro | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Cornélia Gorski é bióloga, mas está trabalhando em eventos desde outubro| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Informalidade sobe acima do PIB

A chamada economia informal vem crescendo acima do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos. Segundo um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV), ela cresceu 8,7% em 2007 e até junho de 2008 – último dado disponível – havia avançado 4,7%.

Embora até hoje não haja qualquer cálculo confiável e definitivo que mostre o tamanho da informalidade no país, o estudo da FGV procura fazer um acompanhamento dos rastros deixados por ela para mapear o comportamento em relação ao PIB. A FGV monitora indicadores que influenciam de forma indireta o desempenho da informalidade – entre eles, carga tributária, exportações, corrupção e nível de atividade.

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A crise e o aumento do desemprego estão empurrando uma parte da população para a informalidade e o subemprego. Em meio ao crescimento do número de demissões e à menor oferta de vagas, muitas pessoas estão tendo que encarar um emprego sem carteira assinada, um pequeno negócio por conta própria ou vivendo de bicos.

Entre setembro do ano passado – quando a turbulência financeira ganhou fôlego – e fevereiro desse ano, o volume de pessoas subocupadas cresceu 18,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE.) Pela definição do IBGE, os subocupados são pessoas que dizem que até poderiam trabalhar mais horas, mas que diante da crise só encontram serviços em tempo parcial, sem vínculo empregatício, como galhos e biscates. Nesse período, 114 mil pessoas passaram a viver de subocupação, engrossando um contingente que já soma 735 mil pessoas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas pelo instituto.

"A informalidade caminha de mãos dadas com o desemprego e o crescimento da subocupação mostra uma piora do mercado de trabalho e uma deterioração da qualidade do emprego, que tradicionalmente ocorrem em época de desaquecimento da economia", explica o professor Anselmo Luís dos Santos, do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp.

É o caso da bióloga Cornélia Gorski, de 23 anos, que vive desde outubro do ano passado de trabalhos temporários como promotora de marketing em congressos e feiras e de algumas aulas de educação ambiental. Sem registro em carteira de trabalho, ela recebe entre R$ 60 e R$ 130 com eventos. "Às vezes trabalho durante apenas uma hora, às vezes seis horas por dia. Nunca sei quanto vou ganhar no mês. Mas entre ficar sem fazer nada e ganhar alguma renda é melhor trabalhar uma hora", afirma ela, que está terminando um MBA em Gestão Ambiental e sonha com uma vaga de pesquisadora em uma universidade. "Já fiz vários concursos. Estou sempre procurando uma colocação melhor, mas emprego de professor está difícil e é mal remunerado."

Historicamente a subocupação cresce em períodos de desaceleração econômica. Em 2003, durante a última crise, a população de subocupados chegou a 1 milhão de pessoas. A atual desaceleração não provocou um estrago tão grande, mas já reduziu o número de pessoas no mercado formal – entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, 173 mil pessoas perderam o emprego com carteira assinada no país, de acordo com o IBGE.

Em fevereiro, o nível da ocupação – relação entre a população ocupada e a população total com mais de 10 anos de idade – caiu 1% na comparação com janeiro, para 51,6%. Foi o maior recuo para o período desde 2002, início da série histórica do IBGE, que coleta os dados em seis regiões metropolitanas: São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre.

Paraná

No Paraná, o saldo de vagas formais – diferença entre admitidos e demitidos – entre setembro do ano passado e fevereiro desse ano ficou negativo em 22,4 mil, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Para o economista Sandro Silva, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a crise deve inverter o cenário que se viu nos últimos anos, quando o crescimento econômico garantiu uma maior formalização do trabalho. De um lado, empregadores vão privilegiar a contratação de pessoas sem carteira assinada em um período de incertezas, já que não há custo para demitir um empregado informal.

Do outro, cresce o número de pessoas que partem para atividades por conta própria, como o administrador de empresas Danielson Teles, de 34 anos. Depois de ser demitido de uma multinacional em janeiro, ele agora trabalha vendendo produtos para emagrecer da marca Herbalife. "Com a crise, a empresa reduziu sua atuação e cortou empregos. Após seis anos de trabalho na companhia, saí com uma caixa com documentos pessoais e o porta-retrato com a foto de meu filho." A venda direta garante uma remuneração equivalente ao do antigo emprego. "Estou mais feliz. Não sou só mais um na empresa."

Desemprego

Embora a taxa de desemprego medida pelo IBGE em fevereiro tenha ficado em 8,5% – abaixo da expectativa do mercado, que esperava um índice próximo de 9% –, os economistas dizem que ainda é cedo para comemorar. De acordo com o professor Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), o reflexo da desaceleração sobre o emprego começou a ficar evidente somente agora, e o movimento deve ganhar força nos próximos meses. "Uma taxa de desemprego próxima de 10% em 2009 não será algo supreendente." Isso porque a crise na indústria foi severa e o comércio começa a sentir agora os efeitos do desaquecimento. Ele também chama atenção para o fato de o setor de serviços, o que mais emprega no país, ainda não ter sido atingido. "Mas, se for, o impacto sobre o emprego será grande".

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