Além da política agressiva de tarifas recíprocas, Trump segue uma estratégia de enxugar a administração americana, diminuir o peso do Estado e azeitar a capacidade da indústria para concorrer com mais força, local e globalmente. O momento seria propício para o Brasil, um dos países mais protecionistas do mundo, rever como trata o empresariado e como se insere globalmente. Mas, por enquanto, esse movimento não ocorre.
O fardo dos impostos por aqui está hoje perto de 33% do Produto Interno Bruto. E com a reforma tributária, somente o IVA deverá ser de 28%, o maior imposto por valor agregado do mundo.
O setor de automóveis é emblemático da República Protecionista do Brasil. É proibido importar carros usados, mais baratos, por supostas proteções ambientais e sanitárias, que os Estados Unidos consideram exageradas. Quanto aos carros novos, as montadoras instaladas no país nadam em bilhões de reais em incentivos. E o governo fica com até 50% do valor pago pelo automóvel. Na hora de pagar IPVA, o contribuinte recolhe de novo imposto sobre o valor cheio do carro. Imposto sobre imposto.
Sem protecionismo, possibilidade de concorrência e círculo virtuoso
O estudo "Abertura Comercial para o Desenvolvimento Econômico", de Marcos Degaut e outros, publicado pela Secretaria de Planejamento Estratégico, ainda no governo Temer, aponta que “um efeito esperado da maior integração ao mercado internacional é a redução de preços domésticos”.
E não é difícil entender: “Por um lado, a competição de fornecedores internacionais limita a capacidade de empresas nacionais conseguirem aumentar preços por serem as únicas a fornecer determinado produto no mercado doméstico. Por outro lado, como as firmas nacionais passam a ter acesso a máquinas e insumos a preços mais baixos, elas conseguem também produzir a custos unitários menores, aumentando assim sua competitividade”.
Abertura em paralelo a um alívio do peso do Estado
Antes de entrar nesse ciclo virtuoso, no entanto, há lição de casa a ser feita. Do contrário, um fim súbito de protecionismos e barreiras pode ter efeitos devastadores, também. Economistas ouvidos pela Gazeta apontam que grande parte dos empresários locais provavelmente iriam à falência. Simplesmente por que os custos para produzir no país – taxas, impostos, deficiências logísticas e de infraestrutura – elevam o preço final dos produtos e fragilizam a capacidade de resistir à concorrência.
Isso não quer dizer que o país possa se dar ao luxo de perder a oportunidade de reorganização do comércio global em novas bases. Há uma janela para se posicionar de uma maneira mais competitiva. Trump sacudiu o planeta. O Brasil deveria aproveitar para arrumar a zaga, o meio de campo e o ataque. Por que o jogo é bruto. Não tem como manter a elevada carga tributária e o salto alto do protecionismo, sem pagar uma conta cara no desenvolvimento do país.




